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Santa Missa de Páscoa (17/04/2022) Santa Missa de Páscoa (17/04/2022) 

A Igreja como sacramento do Reino de Deus

"A Igreja é o sacramento messiânico da salvação do mundo numa forma transitória, onde se pode descobrir toda a tensão entre o que é e o que deve ser, entre o Reino como já presente e o Reino que ainda há de vir. A Igreja é o sacramento do mundo mais em virtude do que Cristo nela faz, pela diversidade de dons do Espírito Santo para ela concedida, do que ela próprio consegue realizar com sua missão."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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“A missão de Cristo e do Espírito Santo completa-se na Igreja, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. Esta missão conjunta associa, doravante, os fiéis de Cristo à sua comunhão com o Pai no Espírito Santo: o Espírito prepara os homens e adianta-se-lhes com a sua graça para os atrair a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes a sua Palavra e abre-lhes o espírito à inteligência da sua morte e da sua ressurreição. Torna-lhes presente o mistério de Cristo, principalmente na Eucaristia, com o fim de os reconciliar, de os pôr em comunhão com Deus, para os fazer dar «muito fruto». Assim, a missão da Igreja não se acrescenta à de Cristo e do Espírito Santo, mas é o sacramento dela: por todo o seu ser e em todos os seus membros, é enviada para anunciar e testemunhar, actualizar e derramar o mistério da comunhão da Santíssima Trindade. (CIC 737-738)”

Dando continuidade a sua série de reflexões sobre a Igreja, padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre "Igreja como sacramento do Reino de Deus":

"A Igreja é o instrumento de Deus no mundo e tem a missão de proclamar a Boa-Nova do Reino de Deus. A missão da Igreja não está em função de si mesma, mas na medida que tem um chamamento e uma missão especial bem mais largo que é o Reino de Deus. O fim último da história humana não é a Igreja, mas o Reino de Deus como unidade final de todos sob a autoridade de Cristo, de sua plenitude e de sua paz. A Igreja, portanto, não é o centro de tudo. A Igreja já não se considera como o centro real à volta do qual gira a história humana, embora saiba que lhe foi confiada uma missão especial a cumprir nessa história, tal como o Povo de Israel, que foi um povo escolhido por Deus de maneira irrevogável para ser luz para os outros povos. Na Constituição Dogmática Lumen Gentium há uma nova consciência da Igreja, que supera a autossuficiência de uma Igreja que se entende como fim em si mesma, e se descobre como a Igreja de Deus, que deve ser sacramento de salvação para o mundo sinal do Reino de Deus.

A forma sacramental da Igreja deve distinguir-se claramente do mistério que ela encarna. A Igreja está a serviço do Reino de Deus que lhe é maior. A Igreja é a forma transitória do Reino de Deus, que dentro dela atua. A Igreja não é ainda a forma do Reino de Deus na sua perfeição escatológica.

 

Esse caráter transitório da Igreja como sacramento messiânico da unidade de toda a humanidade e de todo o mundo é, de fato, absolutamente manifesto na sua existência empírica, envolvida como se encontra com imperfeições e pecados. A Igreja nem sempre ilumina ou salga na mesma intensidade, como a luz num candelabro ou o sal na terra. Porém, o mistério da Igreja como Corpo de Cristo, como comunhão dos santos, como Esposa Imaculada de Cristo, não se encontra somente nessa realidade empírica e concreta. Cristo prometeu estar presente e atuante em sua Igreja, pois as portas do inferno não seriam capazes de derrubá-la (cf. Mt 16, 18s). Nunca poderá ser extinta a chama que nela está acesa, por mais pequena que possa fumegar. Jamais poderá desaparecer totalmente da história humana a união conseguida entre Cristo e a sua Igreja.

O mistério permanente da Igreja como corpo de Cristo aparece na sua existência que se congrega, como comunidade de fiéis, e de acordo com o mandamento do Senhor, à volta da Palavra e do Sacramento Eucarístico, onde o próprio Senhor fala e atua no meio da Igreja, em ordem a torná-la conforme a Si mesmo e a confirmá-la. Por entre todas as vicissitudes a que está sujeita, a Igreja exprime então o que ela realmente é, pode ser e deve ser: instrumento de Salvação de Cristo Senhor. Por mais que as dificuldades ofusquem essa missão confiada à Igreja, encontra-se presente essa unidade de fé, esperança e caridade, enraizada na comunhão de todos no Senhor, que continua presente na forma querida e mantida por Ele. Essa unidade e paz de que a Igreja é sacramento operante, nem sempre se manifesta com o mesmo realce na vida da Igreja. A Igreja é o sacramento messiânico da salvação do mundo numa forma transitória, onde se pode descobrir toda a tensão entre o que é e o que deve ser, entre o Reino como já presente e o Reino que ainda há de vir. A Igreja é o sacramento do mundo mais em virtude do que Cristo nela faz, pela diversidade de dons do Espírito Santo para ela concedida, do que ela próprio consegue realizar com sua missão.

Não é o Reino de Deus que está em vista da Igreja, mas a Igreja em vista do Reino que Jesus propagou e anunciou. A meta da Igreja é "o Reino de Deus, iniciado na terra por Deus mesmo, Reino a ser estendido mais e mais, até que, no fim dos tempos, seja consumado por Deus mesmo".

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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01 agosto 2022, 08:39