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Estátuas de Jesus e Santo André no alto da Basílica de São Pedro (Photo by Vincenzo Pinto/AFP) Estátuas de Jesus e Santo André no alto da Basílica de São Pedro (Photo by Vincenzo Pinto/AFP) 

Fora da Igreja não há Salvação

"Mesmo alguém que não conheça a Igreja e não está inserido nela, pode se salvar pelos méritos de Cristo, operados em sua Igreja. Mas o Concilio alerta para um perigo de não se buscar a verdade e de não se procurar a Igreja, sacramento de salvação."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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Fora da Igreja não há salvação. "Como deve entender-se esta afirmação, tantas vezes repetida pelos Padres da Igreja?", pergunta o Catecismo da Igreja Católica (CIC 846), explicando que "formulada de modo positivo, significa que toda a salvação vem de Cristo-Cabeça pela Igreja que é o seu Corpo":

“O santo Concílio «ensina, apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, que esta Igreja, peregrina na terra, é necessária à salvação. De facto, só Cristo é mediador e caminho de salvação. Ora, Ele torna-Se-nos presente no seu Corpo, que é a Igreja. Ao afirmar-nos expressamente a necessidade da fé e do Baptismo, Cristo confirma-nos, ao mesmo tempo, a necessidade da própria Igreja, na qual os homens entram pela porta do Baptismo. É por isso que não se podem salvar aqueles que, não ignorando que Deus, por Jesus Cristo, fundou a Igreja Católica como necessária, se recusam a entrar nela ou a nela perseverar».”

Esta afirmação não visa aqueles que, sem culpa da sua parte, ignoram Cristo e a sua igreja (CIC 847):

“Com efeito, também podem conseguir a salvação eterna aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, no entanto procuram Deus com um coração sincero e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a sua vontade conhecida através do que a consciência lhes dita.”

Muito embora Deus possa, por caminhos só d'Ele conhecidos, trazer à fé, «sem a qual é impossível agradar a Deus», homens que, sem culpa sua, ignoram o Evangelho, a Igreja tem o dever e, ao mesmo tempo, o direito sagrado, de evangelizar» todos os homens. (CIC 848)

Depois de "Igreja como sacramento de unidade no mundo", padre Gerson Schmidt* nos propõe hoje uma reflexão sobre "Fora da Igreja não há salvação":

"A Igreja, criada por vontade e atitude de Cristo, unida ao seu fundador, participa e atualiza a obra da redenção operada por Ele na Páscoa. A intercessão da Igreja é a intercessão de Cristo, que alcança as últimas fronteiras do tempo e do espaço, de maneira que mesmo a salvação anônima que continua a verificar-se não se produz “fora” da Igreja. Um dos axiomas mais célebres da eclesiologia é “fora da Igreja não há salvação” (extra Ecclesiam nulla salus). Essa afirmativa se pode encontrar em vários Padres da Igreja e em diversos teólogos medievais, modernos e contemporâneos. O próprio magistério da Igreja já usou a expressão diversas vezes e em contextos variados. Essa frase deu muito o que falar e muito “pano pra manga”. Dela parte uma visão eclesial, por vezes não tão acertada. É preciso perguntar como é que o Vaticano II abordou esse axioma, tentando descobrir como explicar hoje tão célebre expressão.

 

Na época da Cristandade, entendia-se essa expressão “fora da Igreja não há salvação”, com a necessidade de colocar todos dentro da barca de Pedro, dentro da Igreja, como tábua de salvação, sem a qual todos os demais que não estivessem nela iriam para o inferno, caso não estivessem inseridos na Igreja, sobretudo pelo sacramento do batismo. O número 14 da Constituição Conciliar Lumen Gentium explica porque é que o Concílio afirma a necessidade da Igreja para a salvação: “porque só Cristo, presente no meio de nós e no seu Corpo que é a Igreja, é o Mediador e a via da salvação; e também porque Ele mesmo, ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do Batismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), confirmou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo como por uma porta”. Portanto, o motivo é Cristo, único mediador e via da salvação, presente no meio dos homens e na Igreja. O texto conciliar preferiu recorrer à indicação direta de Cristo no que respeita ao Batismo e à fé – evocando os conhecidos textos de Jo 3,5 e Mc 16,16 – e só sucessivamente falou da Igreja; uma vez que o Batismo abre as portas da Igreja, confirma-se a necessidade desta para a salvação.

Mesmo alguém que não conheça a Igreja e não está inserido nela, pode se salvar pelos méritos de Cristo, operados em sua Igreja.  Mas o Concilio alerta para um perigo de não se buscar a verdade e de não se procurar a Igreja, sacramento de salvação. O primeiro parágrafo do número 14 de LG conclui com a afirmação de que não se podem salvar aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi fundada por meio de Cristo como necessária, não querem entrar ou permanecer nela. O texto retomava, em formulação hipotética, o ensinamento do beato Pio IX, que condenava quem, reconhecendo que a Igreja Católica tinha sido fundada por Deus em Cristo como meio necessário, não entrasse nela ou nela não perseverasse. Trata-se dum caso de “non salus”, retomado em LG 14, onde afirma que Cristo é o único mediador e a única via de salvação, e que Ele estabeleceu a necessidade do Batismo para a salvação. Este sacramento é a porta que permite a entrada na Igreja e na salvação. Portanto, a Igreja é necessária para a salvação. O axioma parece passar a ser a salvação ligada diretamente ao Batismo e, através dele, à Igreja.

O Catecismo da Igreja Católica dedica três parágrafos (CIC, 846 a 848) para explicar essa expressão, destacando que ela é formulada de maneira positiva, significando que “toda a salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu corpo”. O texto do catecismo, ainda, recorda que a Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, para explicar que a “Igreja peregrina na terra, é necessária à salvação”, e que Cristo, “único mediador e caminho da salvação”, confirmou a necessidade desta, “na qual os homens entram pelo Batismo”. Ao citar o decreto conciliar Ad Gentes, o Catecismo salienta que aqueles que “sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com o coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida por meio do ditame da consciência, podem conseguir a salvação eterna”. Por outro lado, o documento enfatiza que, mesmo assim, “cabe à Igreja o dever e também o direito sagrado de evangelizar todos os homens”."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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25 julho 2022, 08:39