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O desenho de um lenço branco, símbolo das Mães da Plaza de Mayo, em memória da fundadora Hebe de Bonafini (ANSA O desenho de um lenço branco, símbolo das Mães da Plaza de Mayo, em memória da fundadora Hebe de Bonafini (ANSA

O Papa recorda Hebe de Bonafini: "Transformou sua dor em defesa dos direitos dos marginalizados"

Numa carta às Madres de Plaza de Mayo, que há 45 anos pedem justiça na Argentina para todos os desaparecidos durante a ditadura militar, Francisco expressa seu pesar pelo falecimento da presidente e fundadora, morta este domingo aos 93 anos: "Sua audácia e coragem, nos momentos em que prevalecia o silêncio, mantinham viva a busca da verdade e da memória". Também os bispos argentinos participam das condolências gerais

Salvatore Cernuzio – Vatican News

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Uma mulher caracterizada pela "audácia e coragem" que soube transformar a dor pelo desaparecimento de seus filhos "em uma busca incansável para defender os direitos dos mais marginalizados e invisíveis". É assim que o Papa recorda Hebe de Bonafini, a ativista argentina fundadora e presidente das Madres de Plaza de Mayo, que morreu este domingo 20 de novembro, aos 93 anos de idade, devido a complicações de saúde. Francisco expressa suas condolências em uma carta a todas as Mães, as mulheres, isto é, que durante 45 anos saíram às ruas de Buenos Aires, em frente à Casa Rosada, para invocar justiça e verdade para os desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina. O Pontífice dirigiu-se a elas, pedindo-lhes que continuem o compromisso da presidente e que continuem a ser "Mães da Memória".

A recordação do encontro em Santa Marta

"Neste momento de dor", lê-se na missiva em espanhol, "quero estar perto de vós e de todos aqueles que choram sua partida". O Papa Bergoglio recorda o encontro que teve com a mulher na Casa Santa Marta, em 28 de maio de 2016, dizendo que se lembra em particular "da paixão que ela me transmitiu em querer dar voz àqueles que não a têm". Foi uma conversa de quase duas horas seis anos atrás, feita de lágrimas, confidências, lembranças, mas também um pedido de perdão de Bonafini, que no passado havia criticado duramente o Papa. Ela mesma disse que havia mudado de ideia e havia pedido desculpas ao Pontífice, que não só aceitou, mas em uma entrevista e em uma carta sucessiva, disse que ele havia "se curvado" diante da profunda dor desta mãe que a havia visto Jorge Omar e Raul Alfredo se dissolverem no nada, como tantos outros dissidentes do regime.

"Manteve viva a busca da verdade"

"Sua audácia e sua coragem, nos momentos em que o silêncio prevalecia, impeliu e depois manteve viva a busca da verdade, da memória e da justiça", escreve o Papa Francisco. "Uma busca que a levou a marchar todas as semanas para que o esquecimento não tomasse as ruas e a história, e que o compromisso com o outro fosse a melhor palavra e o antídoto contra as atrocidades sofridas". Hebe de Bonafini nunca perdeu uma marcha: 2036 manifestações desde a primeira, em 30 de abril de 1977, em torno da Píramide de Mayo. Ela estava sempre presente, com o lenço branco atado na cabeça, o símbolo da associação que celebrou sua partida com um grande desenho de seu próprio lenço gravado no pavimento da praça bonairense.

A última marcha

Agora sua "última marcha", escreve o Pontífice, pedindo para acompanhar Hebe "com oração, pedindo ao Senhor que lhe dê o descanso eterno". Daqui um último convite às companheiras de luta: "Não permitai que se perca todo o bem que foi feito". "Eu rezo por vós; por favor não vos esqueçais de rezar por mim", é a saudação final do Papa.

As condolências dos bispos

As condolências gerais da Argentina, onde o governo de Alberto Fernández declarou três dias de luto nacional, também foram acompanhadas pelas dos bispos da Conferência Episcopal Argentina (CEA) que, em mensagem divulgada através de suas contas sociais oficiais, expressam suas condolências pela morte da ativista argentina: "Pedimos ao Senhor consolo para sua família e amigos, e também enviamos nossas condolências à Associação Madres de Plaza de Mayo".

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21 novembro 2022, 18:00