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Bandeira do Talibã hasteada praça principal da cidade em Pul-e-Khumri em 11 de agosto de 2021, cerca de 200 km ao norte de Cabul. (Foto por - / AFP) Bandeira do Talibã hasteada praça principal da cidade em Pul-e-Khumri em 11 de agosto de 2021, cerca de 200 km ao norte de Cabul. (Foto por - / AFP) 

O Talibã conquista a segunda maior cidade do Afeganistão

A situação no Afeganistão é dramática. O Talibã conquistou a segunda cidade do país, Kandahar, e Lashkar Gah, capital da província de Helmand, no sul, após a conquista de Herat, no oeste. Estados Unidos preparam a evacuação da embaixada na capital afegã.

Fausta Speranza - Cidade do Vaticano

Retirada de todas as grandes cidades, com a única exceção de Cabul: as forças do governo afegão continuam a recuar. No caso de Lashkar Gah, o Talibã deixou 48 horas para permitir que políticos e administradores evacuassem a cidade. O Talibã tomou a segunda maior cidade do Afeganistão, Kandahar, alimentando temores de que o governo apoiado pelos EUA possa cair nas mãos dos insurgentes. Na cidade já não há vestígios de oficiais do exército e civis: os talibãs fotografam-se na Praça dos Mártires.

O Talibã também capturou as cidades de Lashkar Gah no sul e Qala-e-Naw no noroeste. Herat, a terceira maior cidade do país, foi amplamente conquistada ontem: apenas o aeroporto e uma base militar permanecem nas mãos das forças do governo, segundo o executivo provincial, Ghulam Habib Hashimo. A capital da província de mesmo nome era a base da missão italiana no Afeganistão. Após a retirada anunciada pelos Estados Unidos e pela OTAN, os militares italianos deixaram a cidade há exatamente um mês, no dia 12 de julho passado.

De Washington vem o anúncio: 3.000 homens devem evacuar o pessoal dos EUA. As primeiras tropas enviadas pelo Pentágono começarão a chegar "dentro de 24-48 horas", garante o porta-voz do Departamento de Defesa, John Kirby. São cerca de 5.000 entre civis e militares americanos baseados no complexo da embaixada dos Estados Unidos em Cabul e na sede próxima ao Aeroporto Internacional Hamid Karzai.

O apelo da UE

 

De Bruxelas de eleva a voz de Borrell, Alto Representante da União Europeia para os Assuntos Estrangeiros e a Política de Segurança: "Se for recriado um emirado islâmico - diz ele - o Talibã enfrentará o não reconhecimento, o isolamento, a falta de apoio internacional e a perspectiva de que o conflito e a instabilidade continuarão no Afeganistão”.

 

"A UE convida o Talibã a retomar imediatamente conversações substanciais, regulares e estruturadas - escreve Borrell em uma nota - e também apela à cessação imediata da violência em curso e a um cessar-fogo global e permanente".

"A ofensiva militar em curso do Talibã está em contradição direta com o seu compromisso declarado por uma solução negociada para o conflito e o processo de paz de Doha", precisa ainda a nota em que "a UE condena as crescentes violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos, em particular em áreas e cidades controladas pelo Talibã".

A União Europeia "pretende continuar a sua parceria e apoio ao povo afegão. No entanto, o apoio dependerá de uma solução pacífica e inclusiva e do respeito pelos direitos fundamentais de todos os afegãos, incluindo mulheres, jovens e mulheres e as minorias. É fundamental preservar as significativas conquistas de mulheres e jovens nas últimas duas décadas, inclusive em termos de acesso à educação”, finaliza a nota.

O Reino Unido autorizou o envio de 600 soldados ao Afeganistão para facilitar a evacuação de seus cidadãos e ex-colaboradores afegãos da embaixada. O anúncio foi feito em um comunicado do ministro da Defesa britânico, Ben Wallace. As tropas - especifica a nota - fornecerão proteção e apoio logístico para a transferência de cidadãos britânicos quando necessário e ajudarão a acelerar a chamada política afegã de "realocação e assistência". "Isso ajudará a garantir que os intérpretes e outros funcionários afegãos que arriscaram suas vidas trabalhando ao lado das forças britânicas no Afeganistão possam se mudar para o Reino Unido o mais rápido possível", diz o comunicado. "A segurança dos cidadãos britânicos, militares britânicos e ex-funcionários afegãos é nossa maior prioridade. Devemos fazer todo o possível para garantir sua segurança", disse Wallace.

Também na Alemanha há preocupação com as 4.000 pessoas que ainda estão presentes no Afeganistão, depois que outros 1.700 retornaram nos últimos dias. E a ministro da defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer: "O que se conseguiu nestes vinte anos foi não permitir a exportação do terrorismo do Afeganistão" enquanto que "o que falhou foi fazer do Afeganistão um país diferente, transformá-lo positivamente ao longo do tempo”.

Futuro incerto

 

A possível volta ao poder dos Talebãs poderia anular as poucas conquistas sociais, nos últimos vinte anos de controle, por parte das tropas ocidentais, atualmente em fase de desmobilização.

Arianna Briganti, vice-presidente da Onlus, uma ONG que se dedica, em particular, à promoção e proteção das mulheres afegãs, destaca, em entrevista à Rádio Vaticano/Vatican News, feita por Stefano Leszczynski, a profunda incerteza nos cenários futuros.

As ONGs têm feito um esforço particular para ajudar a sociedade civil afegã a construir seu futuro. As esperanças e sonhos dos últimos vinte anos correm o risco de se dissipar?

É bem isso. Vivemos um clima misto de incredulidade, no que aconteceu, e raiva, porque é muito duro enfrentar a realidade sozinhos. Teme-se também pela segurança dos nossos colegas na nossa sede em Cabul: todos são afegãos e estão completamente aterrorizados. A emergência é enorme: há devastação e as pessoas fogem de suas casas. Os cursos de treinamento, que oferecemos online às mulheres afegãs, sobretudo durante o início da pandemia, nos permitem, agora, maior comunicação com as pessoas. Ficamos chocados em ouvir seus depoimentos, pois muitos estão no norte do país, onde grande parte foi conquistada pelos Talibãs”.

Mulheres jovens cresceram em um Afeganistão, que mantinha grandes esperanças de inclusão e mudança do mundo feminino. Para elas não se trata de um retorno ao passado, mas de um transtorno vital?

Exatamente! Elas não conseguem aceitar isso. Trata-se de mulheres que estudaram, trabalham e são obrigadas a enfrentar o problema da mobilidade. Nós as apoiamos até nisso, para poder se locomover com segurança. Hoje, elas se deparam com uma realidade obscena: não sabemos se poderão estudar e trabalhar ou ficar fechadas em casa. Neste momento, podemos apenas tentar enfrentar a emergência, com a assistência à saúde e fornecendo alimentos às famílias mais pobres”.

O fim da intervenção militar no Afeganistão foi acompanhado pela promessa de não abandonar o país, do ponto de vista da cooperação. As instituições deram algum sinal do desejo de continuar a proteger as pessoas que trabalham com vocês?

Sim, tenho que admitir, tanto por parte das instituições, com as quais trabalhamos, como daquelas italianas, com as quais colaboramos. Há boa vontade, mas não sabemos até quando será possível. Se a situação degenerar, as Embaixadas e os Consulados começarão a fechar. Então, o que acontecerá com o pessoal dependente, colegas com os quais trabalhamos há mais de dez anos? Ninguém sabe! Por isso, vivem aterrorizados”.

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13 agosto 2021, 09:29