Cardeal Reina: desarmar a informação comunicando esperança
Tiziana Campisi – Vatican News
O coração e a esperança: são as ferramentas que todo jornalista deve usar para informar, comunicar, contar. É o que o Jubileu do Mundo da Comunicação, inaugurado na sexta-feira (24) na Basílica de São João de Latrão, convida a recuperar. O chamado está nos dois momentos que deram início ao primeiro grande evento do Ano Santo: a liturgia penitencial, conduzida pelo padre Giulio Albanese, diretor do Escritório para as Comunicações Sociais do Vicariato de Roma, e a missa internacional da memória litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro de todos os trabalhadores da comunicação, presidida pelo cardeal Baldo Reina, vigário geral do Papa para a Diocese de Roma. O coração, também evocado por uma relíquia do bispo e doutor da Igreja, protetor dos meios de comunicação, que chegou excepcionalmente à capital vinda de Treviso - onde está guardada no Mosteiro da Visitação desde 1913 -, e a esperança que o Papa Francisco, em sua Mensagem para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais divulgada na sexta-feira (24)- citada várias vezes durante os dois ritos -, exortam a compartilhar “com mansidão”.
Desarmando a comunicação como Jesus fez
“O Jubileu é um tempo de misericórdia para todos. É um tempo em que revisamos nossas vidas não tanto à luz dos pecados que cometemos, mas acima de tudo com o poder da misericórdia de Deus”, apontou o Cardeal Reina, que se deteve no importante convite do Pontífice “para sermos comunicadores de esperança, para desarmar a comunicação”. Uma “regra” aplicada por Jesus quando a mulher adúltera lhe foi apresentada. Há uma notícia: uma mulher apanhada em flagrante adultério, mas “Jesus, precisamente para desarmar a informação, precisamente para ser o primeiro comunicador de esperança” nos oferece “uma comunicação mansa”, “uma comunicação que não é nada agressiva, mas que colabora com a verdade”, observou o cardeal. Jesus não se concentra na notícia, mas se pergunta “onde está a esperança diante do fato” que lhe é apresentado: “uma mulher que errou”. “Não nega a realidade”, “não tenta exonerar a mulher, mas vai ao coração daqueles que a levaram até ele”. “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”, são as palavras de Cristo. “Para desarmar a comunicação, devemos antes de tudo desarmar o nosso orgulho, sem pensar que somos superiores aos outros, melhores do que os outros, capazes de julgar os outros”, explica o vigário geral do Papa, porque “a Escritura é clara, somente Deus é juiz”.
Não definir uma pessoa a partir de um erro cometido
Outro aspecto destacado pelo cardeal vigário é que Jesus, que depois se viu sozinho com a mulher adúltera, não a condena, porque Ele “não nos define a partir do erro que cometemos, para Ele não somos uma coleção de erros”, mas “muito mais”. “Todos nós precisamos recuperar esse princípio”, observou o cardeal, “se quisermos semear a esperança, buscar a esperança, devemos abraçar esse princípio, senão, também por meio da comunicação”, como escreve o Papa em sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, “alimentamos a guerra”. “Aquela guerra fratricida que muitas vezes mata, mata pessoas, mata a dignidade”, acrescentou o cardeal Reina, especificando que “Jesus não toma o partido da mulher para justificá-la, nem toma o partido daqueles que a colocaram diante dele para anular a lei, mas entra no coração daquela mulher, procura intuir a beleza, a preciosidade daquele coração que é muito maior do que os erros que ela cometeu”.
O horizonte da esperança
Por fim, a esperança. Ela está nas últimas palavras de Jesus à mulher: “Vai e de agora em diante não peques mais”. “De agora em diante": isso nos indica o futuro, a esperança, esclareceu o cardeal. Alguém oferece à adúltera “um horizonte de esperança”, “aquele foi o seu Jubileu”. “E assim, se também queremos celebrar nosso Jubileu como mundo da comunicação, vamos abraçar esse estilo, esse paradigma que Jesus nos oferece”, concluiu Reina, referindo-se novamente à Mensagem do Papa para os comunicadores, para pedir “uma comunicação que nos ajude a reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos de nossa casa comum”.
Convidados a mudar
Na liturgia penitencial que precedeu a missa, foram propostos trechos da Bula de Indicação do Jubileu do Papa Francisco, Spes non confundit. “No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã. [...] Que o Jubileu seja para todos nós uma ocasião para reavivar a esperança": essa foi a passagem que antecipou o ‘Kýrie, eléison’. Em seguida, seguiu-se a liturgia da Palavra e, antes de dar espaço ao sacramento da reconciliação, com a disponibilidade de cerca de sessenta sacerdotes, padre Albanese propôs uma meditação. “Neste Jubileu da Esperança, somos todos convidados a passar pela Porta Santa, na certeza cristã de que essa porta é Jesus Cristo”, disse. “Uma passagem que implica mudança, conversão precisamente, deixar para trás o homem velho para ser novas criaturas”. Padre Albanese destacou que “o mundo da comunicação, em seu conjunto, é terra de missão” e, por isso, a conversão, à qual o Ano Santo nos impele, “não pode desconsiderar o contexto profissional” no qual somos chamados a viver nossa “aventura de crentes”, porque o risco “é o de trair o ditado evangélico”, tornando-nos, assim, “mercenários da palavra dos outros”.
Expressar a caridade de Deus
E voltando ao coração, ao amor, padre Albanese recordou que Jesus nos pede para amar como Ele amou e pediu a cada um de nós que nos perguntássemos se nosso modo de comunicar “expressa a caridade de Deus, aquela de que fala o Mestre, ou se, em vez disso, responde a uma lógica pretensiosa, mundana e ofensiva”. Porque o que o Papa Francisco está pedindo de nós neste Jubileu é que “sejamos portadores de esperança”.
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