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Padre Sérgio Leal (Foto: Agência Ecclesia) Padre Sérgio Leal (Foto: Agência Ecclesia) 

Sínodo: “procurar o que somos capazes de pensar juntos como Igreja”

O padre português Sérgio Leal, especialista em sinodalidade, assinala a importância de caminharmos juntos na capacidade de construirmos comunhão e fraternidade.

Rui Saraiva – Portugal

Decorre no Vaticano a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos subordinada ao tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Após as fases diocesana e continental, num caminho iniciado em 2021, até 29 de outubro estão no Vaticano 464 participantes dos quais 365 têm direito a voto, incluindo 54 mulheres.

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Serão quatro semanas, pontuadas por vários compromissos, que terão cardeais, bispos, religiosos e leigos de todo o mundo reunidos na Sala Paulo VI.

O padre Sérgio Leal, da diocese do Porto, em Portugal, é especialista em sinodalidade e considera que o Papa com este Sínodo quer colocar-nos a recuperar o nosso sentido de Igreja mais original. Caminharmos juntos na “capacidade de construirmos comunhão e fraternidade”, declarou em entrevista.

“Para o Papa sinodalidade é a dimensão constitutiva da Igreja. Portanto, é a identidade da própria Igreja. E com esta proposta o Papa quer colocar-nos a recuperar o nosso sentido de Igreja mais original e sobretudo aquele que melhor corresponde ao sonho de Deus e à iniciativa divina. Isto é, de uma Igreja que se sabe como povo que caminha em conjunto. Indo à etimologia da palavra sinodalidade percebemos que deriva da palavra sínodo que significa caminho conjunto. A sinodalidade implica movimento, a palavra odos, caminho. Quem se coloca a caminho coloca-se em processo de transformação. E por isso até as próprias resistências à sinodalidade provêm disto, da nossa dificuldade e da nossa resistência à mudança. Mas esta mudança não acontece isoladamente, mas no caminho conjunto que vamos construindo. E não é só irmos juntos. Caminharmos juntos em direção ao Senhor, abertos às surpresas do Espirito. Caminhamos juntos na capacidade de construirmos comunhão e fraternidade e, portanto, este Sínodo ao refletir sobre a sinodalidade trata-se de, à luz do Concilio Vaticano II, nos sabermos situar no mundo em que vivemos”, disse o sacerdote.

Segundo o docente da Universidade Católica Portuguesa, para o Papa Francisco a sinodalidade recorda que todo o povo de Deus é sujeito da ação eclesial. Colocando a Igreja no horizonte da escuta. Sinal relevante foi a renovação que o Santo Padre fez à estrutura da Secretaria Geral do Sínodo.

“O Papa quer fazer algo de inédito e isso acontece já no modo como o Papa reforma e renova esta estrutura do Sínodo dos bispos que agora fica com o título de Secretaria Geral do Sínodo e não Secretaria Geral do Sínodo dos bispos. O Papa com a Episcopalis Communio, renova o ordenamento canónico do Sínodo dos bispos. Enquanto o Papa Paulo VI na Apostolica Sollicitudo sublinha a colegialidade própria da sinodalidade e entende que o Sínodo dos bispos, por ele instituído em 1965, deveria ser um prolongar da experiência do Concílio Vaticano II, que essa riqueza se pudesse prolongar ao longo do tempo, o Papa Francisco sublinha aqui algo de novo no seu modo de conceber a sinodalidade. Uma sinodalidade que não é só uma ligação à colegialidade, mas uma sinodalidade que se alarga a todo o povo de Deus. Uma sinodalidade que recorda que todo o povo de Deus é sujeito da ação eclesial. Como diz o Papa Francisco, a sinodalidade coloca a Igreja no horizonte da escuta. Sinodalidade e escuta a certo ponto, para o Papa, parecem sinónimos. A Igreja sinodal é a Igreja da escuta. Escuta a voz de Deus para nela sentir o grito do povo e que escuta o povo para nessa voz sentir o apelo de Deus. E esta escuta tem que se tornar operativa. Para o Papa Francisco sinodalidade não é apenas um conceito teológico e a operatividade aconteceu em modo muito prático na fase diocesana”, afirmou.

“A sinodalidade é muito mais do que dizer o que cada um pensa, é procurar o que somos capazes de pensar juntos como Igreja”, revela o sacerdote português assinalando que há ainda dificuldades em caminhar em conjunto.

“É verdade que há ainda limites que revelam a nossa dificuldade de nos sentarmos juntos e de caminharmos juntos. Denotam ainda uma Igreja clericocêntrica. Numa experiência pessoal na paróquia onde me encontrava na fase diocesana recordo um senhor que vem ao encontro sinodal paroquial porque era pai de escuteiros e a determinada altura diz: ‘é a primeira vez que venho à Igreja não para ouvir o padre, mas para dizer o que penso sobre a Igreja’. Para mim a fase diocesana teve este valor de colocarmos as pessoas a pensar juntas com os trabalhos de grupo e a reflexão em grupo. A sinodalidade é muito mais do que dizer o que cada um pensa, é procurar o que somos capazes de pensar juntos como Igreja, discernir o que o Espírito nos está a pedir. Perceber aquilo que nos diz S. Bento: ‘mesmo o mais novo da comunidade deve ser ouvido’. Não colocarmos, à partida, ninguém de fora deste dinamismo de escuta”, sublinhou o padre Sérgio Leal.

Esta é o primeiro tempo do Sínodo em Roma. Em 2024 será a segunda sessão. Entre os dois momentos haverá muito caminho sinodal a percorrer.

Laudetur Iesus Christus

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04 outubro 2023, 09:28