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Paulo VI encerrou o Concílio Vaticano II em 1965 Paulo VI encerrou o Concílio Vaticano II em 1965 

A sinodalidade nas vozes dos protagonistas do pós-Concílio

Apresentado nestes dias na Universidade Lumsa o livro do padre Vito Magno, que reúne mais de cinquenta entrevistas com leigos, consagrados, fundadores de movimentos e intelectuais no centro da vida da Igreja nas últimas décadas. Cardeal Grech: não há competição entre leigos e pastores, mas corresponsabilidade como fiéis e batizados

Michele Raviart - Cidade do Vaticano

Em vista do Sínodo dos Bispos, que se realizará no Vaticano no próximo mês de outubro, foi apresentado nestes dias em Roma um livro do padre Vito Magno, intitulado “Conversão Sinodal”, que contém 54 entrevistas com santos, sacerdotes, leigos, fundadores de movimentos e intelectuais ligados à experiência do Concílio Vaticano II.

Os entrevistados respondem à pergunta: “Como o Evangelho é anunciado hoje?” Eis o caminho que o autor do livro percorre em sua obra. Padre Vito Magno manteve encontros com personagens que se distinguiram na vida da Igreja pós-conciliar”. Seu livro, publicado pela editora Paulus, reúne uma seleção de diálogos que o sacerdote rogacionista apresentou em transmissões da Rádio Vaticano nos últimos cinquenta anos.

“Loucos de amor pela Igreja e o Senhor”

 

O autor do livro fez uma seleção, entre mais de duzentas entrevistas, realizadas com pessoas “loucas de amor pela Igreja e o Senhor” que, com as suas contribuições, “ajudaram o barco de Pedro a não afundar” após o Concílio Vaticano II.

A primeira entrevista, recordou o moderador Andrea Tornielli, diretor editorial do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, não podia deixar de ser aquela com dom Luigi Bettazzi, o último dos Padres Conciliares, que faleceu, aos 99 anos, no último mês de julho. O bispo fez uma ligação indissolúvel entre o Sínodo o grande Concílio.

Cardeal Mario Grech: “No Sínodo, nenhuma abordagem ideológica ou reivindicativa sobre as mulheres na Igreja”

 

Em seu pronunciamento, na coletiva de apresentação do livro na Universidade Lumsa em Roma, o cardeal Mário Grech, secretário geral do Sínodo dos Bispos, recordou as considerações de dom Luigi Bettazzi sobre o Concílio Vaticano II: “Foi a maior novidade do cristianismo contemporâneo, que ainda deve ser atuado plenamente”.

Neste sentido, sublinhou o cardeal Grech, todos os entrevistados responderam à pergunta sobre a “evangelização hoje” em um “clima de sinodalidade”, um neologismo que emergiu dos âmbitos especializados da Igreja, graças ao Papa Francisco.

Entre as demais entrevistas, destaca-se a do arcebispo brasileiro, dom Hélder Câmara que fala, implicitamente, de "conversão sinodal": “É impensável que um padre trabalhe sozinho, sem o bispo e sem os fiéis”.

Por sua vez, também o cardeal argentino Eduardo Pironio dizia: “Os leigos não devem conquistar posições de poder em detrimento dos pastores, em uma lógica de competição, mas de corresponsabilidade como fiéis e batizados”.

Isso pode ser aplicado também, segundo o cardeal Mário Grech, ao papel das mulheres na vida da Igreja: “Longe de ser uma abordagem ideológica ou reivindicativa, seu papel deve ser inserido no quadro mais amplo da corresponsabilidade dos batizados e batizadas”.

Todos esses temas serão abordados, a partir do próximo dia 4 de outubro, na primeira Sessão da XVI Assembleia geral ordinária do Sínodo sobre a “Sinodalidade”. Aqui, o cardeal Mário Grech recordou, entre as demais entrevistas do livro, a do então cardeal Joseph Ratzinger: “Na Igreja não se deve fossilizar em estruturas, mas discernir o essencial do que é contingente, pois são sempre possíveis novas realizações”.

Margart Karram: “Criar espaços, onde as mulheres possam ter maior desempenho”

 

Na apresentação do livro, a presidente do Movimento dos Focolares, Margaret Karram, tomou a palavra para falar sobre “a conversão e a importância de caminhar juntos”. E afirmou: “Com o Concílio Vaticano II, a Igreja abriu-se, pela primeira vez, ao mundo feminino, graças à presença de 23 auditores”.

Aqui, ela citou a entrevista que o padre Vito fez a Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, que disse: “As mulheres sabem amar e sofrer mais que os homens. Cuidar bem do amor significa também sofrer, que é o preço do amor”.

Depois, Margaret Karram acrescentou: “Com o Papa Francisco houve uma forte aceleração sobre a presença feminina na Igreja. Não se trata de uma questão de funções ou igualdade, mas de criar espaços, onde as mulheres possam dar melhor seu contributo específico, tendo Maria como inspiração para aprender”.

Uma história de acolhimento do Concílio Vaticano II

 

Em sua intervenção, também o historiador Agostino Giovagnoli, docente da Universidade Católica do Sagrado Coração, citou alguns conteúdos do volume, partindo da entrevista do cardeal Roger Etchegaray: “A história do Sínodo, que nasceu em 1965, partiu da história do acolhimento do Concílio Vaticano II”.

A seguir, recordou o encontro inter-religioso de Assis, em 1986, que mudou a sua vida, mas também a do Cardeal Bernardin Gantin; a importância da Europa para a Igreja; as afirmações do cardeal Carlo Maria Martini, com suas reflexões proféticas sobre o ecumenismo, obstaculizado pelo nacionalismo”.

Por fim, padre Armando Matteo, secretário do Setor doutrinal do Dicastério para a Doutrina da Fé, concluiu: “Esta história de tantos homens e mulheres corajosos preparou o terreno para esta conversão sinodal, que a Igreja está vivendo”.

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24 setembro 2023, 09:06