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Um momento do Processo no Vaticano sobre a gestão dos fundos da Santa Sé (Vatican Media) Um momento do Processo no Vaticano sobre a gestão dos fundos da Santa Sé (Vatican Media)

Processo vaticano, o jornalista Fittipaldi fala sobre suas fontes

Durante a 48ª audiência do processo sobre a gestão dos fundos da Santa Sé, o ex-cronista do "L'Espresso", que em outubro de 2019 publicou uma cópia integral do contrato com o qual a Secretaria de Estado comprou o controle do Prédio de Londres do fundo do financeiro Mincione, foi ouvido: declarou na sala do Tribunal que não a havia recebido do ex-diretor da Aif Di Ruzza

Alessandro Di Bussolo – Vatican News

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Na audiência mais curta de todo o processo sobre a administração dos fundos da Santa Sé, apenas 25 minutos entre 9h40 e 10h05, o jornalista Emiliano Fittipaldi, vice-diretor do Domani, mas na época dos fatos um jornalista do L'Espresso, foi ouvido esta quarta-feira (22/02) como testemunha por alguns advogados dos réus e pelo promotor de justiça. Interrogado na Sala dos Museus Vaticanos, Fittipaldi, a única testemunha presente das quatro convocadas pela defesa, respondeu principalmente às perguntas feitas pelo advogado de Tommaso Di Ruzza, ex-diretor da Autoridade financeira (Aif, hoje Asif) da Santa Sé, a quem a acusação imputa os crimes de peculato, abuso de cargo e violação do sigilo de ofício.

Fittipaldi: Di Ruzza não me deu o contrato

O advogado Borgogno perguntou ao jornalista se foi seu cliente quem lhe havia dado uma cópia do acordo-quadro entre o fundo Gof de Raffaele Mincione (Athena Capital Global Opportunities) e a Secretaria de Estado, contida no artigo "Vaticano, aqui estão os papéis do escândalo", publicado em 1º de outubro de 2019 no L'Espresso. Fittipaldi negou, como também negou que o documento lhe tivesse chegado de outra pessoa de dentro do Vaticano, descartando inclusive que Di Ruzza pudesse ter tido qualquer papel na entrega.

O acordo-quadro para readquirir o Prédio de Londres

O jornalista lembrou que o contrato estava no centro da investigação lançada em julho de 2019 pela Gendarmaria Vaticana após uma queixa do Instituto para as Obras de Religião (Ior), pois era o acordo-base para a Secretaria de Estado comprar de volta as ações do Prédio de Londres, na Sloane Avenue 60, do fundo de Mincione, a fim de então passar o controle das ações para a empresa Gut de Gianluigi Torzi. "Foi por isso que tentei recuperá-la e publicá-la", disse ele em resposta a perguntas. O financista Mincione, que, de acordo com a acusação, fez a Secretaria de Estado subscrever ações importantes do fundo que possuía a propriedade londrina no número 60 da Sloane Avenue, depois usou o dinheiro recebido para seus investimentos especulativos, é acusado de peculato, fraude, abuso de cargo, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. O financista Torzi, que também é acusado de extorsão, chamado para ajudar a Santa Sé a sair do fundo de Mincione, teria conseguido obter até 15 milhões para devolver o Prédio a seus legítimos proprietários.

"Nunca revelo minhas fontes"

Perguntado se ele havia revelado sua fonte a Francesca Immaculata Chaoqui, ex-membro da Cosea (a Pontifícia Comissão de estudo sobre a organização da estrutura econômico-administrativa, agora suprimida) já ouvida como testemunha no julgamento em meados de janeiro, Fittipaldi explicou que ele conhece Chaoqui desde 2014, mas não se lembra de ter-lhe falado sobre o documento, cuja cópia digital foi também foi projetada na sala do tribunal durante o interrogatório. Junto com Francesca Chaouqui e seu colega Gianluigi Nuzzi, o ex-jornalista do Espresso esteve entre os réus do julgamento do Vatileaks 2 entre 2015 e 2016, saindo absolvido. Fittipaldi disse ter lido as declarações espontâneas feitas pela Chaoqui à Gendarmaria um mês após seu artigo, no qual a mulher explicava que tinha provas de que a fonte do jornalista estava dentro da Aif. "Mas eu nunca revelo minhas fontes - acrescentou ele - e àqueles que me perguntam por elas eu minto e faço fumaça para confunir as idéias".

"Recebi o documento de Massinelli, em nome de Micione"

Imediatamente depois, porém, Fittipaldi disse que poderia revelar de quem recebeu o documento, porque "a fonte me autorizou a fazê-lo". Foi, explicou ele, Marcello Massinelli, "colaborador de Mincione, que me enviou o documento em formato digital, também tirei uma foto da tela das mensagens com ele" provando esta entrega. E entregou uma cópia para o Tribunal Vaticano. O jornalista revelou então, quando solicitado pelo promotor de justiça Alessandro Diddi, que em 10 de outubro de 2019 encontrou Massinelli, Mincione e outro colaborador do financeiro em Milão, na sede da Wnm, a empresa do financeiro. "Eles queriam me mostrar que tudo que tinham feito estava absolutamente correto - disse Fittipaldi - e por isso queriam que o acordo-quadro fosse publicado". Diddi então perguntou à testemunha se ele teria se encontrado alguma vez com Di Ruzza, e o jornalista lembrou que o primeiro contato foi em 2016, quando ele estava trabalhando sobre alguns artigos acerca da Aif. "E em 2019?" Perguntou Diddi. "Em 6 ou 7 de outubro, após a publicação do artigo com o acordo-quadro". O promotor então quis saber como o jornalista entrou em contato com Massinelli, e Fittipaldi explicou que ele tinha conseguido seu contato quando tentava chegar a Mincione, e também leu seu número de telefone, um celular italiano, na sala de audiências.

Próxima audiência em 8 de março

Tendo constatado que as outras testemunhas convocadas não estavam presentes, o presidente do Tribunal Giuseppe Pignatone anunciou que a próxima audiência está marcada para quarta-feira 8 de março, novamente para a oitiva das testemunhas solicitadas pela defesa e pela acusação.

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23 fevereiro 2023, 12:00