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O cardeal António Augusto dos Santos Marto, enviado especial do Papa ao Brasil O cardeal António Augusto dos Santos Marto, enviado especial do Papa ao Brasil 

Cardeal Marto: a Eucaristia é sacramento do altar quanto é sacramento do irmão

O legado do Papa Francisco, cardeal Marto, concede entrevista a Adielson Agrelos, do Regional Leste 1 da CNBB, sobre a sua missão no 18º Congresso Eucarístico Nacional que começa nesta sexta-feira (11) na Arquidiocese de Olinda e Recife, em Pernambuco. O bispo emérito da Diocese de Leiria - Fátima, em Portugal, afirma: "a Eucaristia é sacramento do altar quanto é sacramento do irmão".

Adielson Agrelos*

Nomeado pelo Papa Francisco como seu representante no 18º Congresso Eucarístico Nacional que terá início a partir dessa sexta-feira (11) na Arquidiocese de Olinda e Recife no Estado de Pernambuco, o Cardeal António Marto é bispo emérito da Diocese de Leiria – Fátima em Portugal e reside no Santuário da Virgem da Fátima.

Quando fora nomeado para ser bispo em Fátima, uma curiosidade chamou a atenção de todos, o sobrenome Marto. Pois trata-se do mesmo sobrenome dos pastorinhos videntes da Mãe de Jesus, Francisco e Jacinta. O próprio Dom António Augusto explicou essa curiosa situação em entrevista ao jornal português Diário de Notícias, em abril de 2017:

“É uma coincidência curiosa. O meu pai chamava-se Serafim Augusto Marto e era de Vimioso, da aldeia de Santulhão. É a única família que conheço no Norte com este sobrenome. Perguntam se tenho algum parentesco com os pastorinhos, mas que saiba não. Quando foi da minha nomeação para bispo de Fátima, alguém intitulou: ‘Nossa Senhora foi buscar o quarto pastorinho’ (…) Gostei, é um humor saudável. O humor é o sorriso do amor. Li isto uma vez e concordo.”

Não podendo participar pessoalmente do encontro, Papa nomeou o cardeal Marto como seu enviado ao Brasil
Não podendo participar pessoalmente do encontro, Papa nomeou o cardeal Marto como seu enviado ao Brasil

Após um breve contato, mediado pelo querido Paulo Rocha da Agência Ecclesia e pela estimada diretora do Gabinete de Comunicação da diocese portuguesa, Carmo Rodeia, o purpurado aceitou prontamente nos atender para essa entrevista na qual fala da sua missão em nosso país, mostrando conhecimento eclesial e cultural sobre a Igreja aqui presente.

Dom Antônio, nos próximos dias o senhor será o legado pontifício no Brasil durante a realização do 18º Congresso Eucarístico Nacional. Em que consiste essa missão confiada ao senhor e como foi receber esse encargo a pedido do Papa Francisco?

Cardeal António Marto (AM): O legado pontifício é um enviado especial do Papa com uma missão específica. Neste caso, a missão de o representar no Congresso Eucarístico Nacional, um evento de toda a Igreja do Brasil. Em concreto, trata-se de participar e presidir ao Congresso em nome do Santo Padre, nos momentos mais importantes, concretamente nas celebrações de abertura e encerramento. Além disso, a missão inclui também uma série de encontros com os irmãos bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, fiéis leigos, seminaristas e algumas comunidades locais, num programa acordado com a Comissão organizadora do Congresso em nome da CNBB. Recebi, com todo o gosto, este encargo confiado pelo Papa Francisco como seu colaborador próximo e sobretudo por ir ao encontro do povo brasileiro que tanto amo desde criança porque tinha tios e primos no Rio de Janeiro. Ir ao Brasil, e em particular ao Recife que ainda não conheço, é sempre uma emoção que me enche o coração de alegria.

 

Brasil e Portugal possuem relações históricas profundas, principalmente na transmissão da fé e na herança devocional do nosso povo. O Estado que o senhor pisará, Pernambuco, tem como padroeiro Santo Antônio. Sem contar na íntima relação com a Virgem de Fátima, lugar em que muitos peregrinos brasileiros acorrem todos os anos para reverenciar a Mãe de Deus. O senhor, como bispo daquele Santuário, como vê essa relação de fé entre os povos?

AM: Santo António é o santo de todo o mundo, um santo popular como em Portugal e na Itália que fala ao coração de toda a gente pela sua atenção e ternura para com os pobres e aflitos. Foram certamente os emigrantes portugueses e italianos que levaram consigo esta devoção ao Brasil. Por outro lado, já tive ocasião de ver ao vivo a devoção do povo brasileiro a Nossa Senhora de Fátima quer quando estive em Aparecida, oferecendo ao Santuário uma imagem levada daqui, quer ao verificar o grande número de grupos de peregrinos do Brasil aqui em Fátima. Penso que também foram os migrantes portugueses que levaram esta devoção para o Brasil. Mas a própria Mensagem de Nossa Senhora em Fátima tem uma força de atração muito forte que toca os corações. É a Mãe que fala, coração a coração, a seus filhos com uma mensagem de misericórdia, de consolação, de esperança e de paz para um mundo ferido e ameaçado pelas guerras. Tudo isto significa que esta devoção a Santo António e a Nossa Senhora de Fátima criam laços espirituais de afeto e comunhão fraterna entre os dois povos, Portugal e Brasil, irmanados na fé.

 

O que representa nos dias de hoje, onde vivemos imersos em uma sociedade cada vez mais secularizada, realizar um evento que convida os homens e as mulheres a continuarem reconhecendo o valor e a presença real do Cristo por meio da Eucaristia?

AM: Este evento não pode ser meramente devocional e intimista. É um apelo aos cristãos católicos a ir ao coração da fé que está na relação de amizade pessoal com Jesus ressuscitado e vivo, presente no meio de nós, de modo admirável, no sacramento da Eucaristia. A fé não se reduz a um conjunto de regras ou práticas devocionais e é também apelo a ser testemunhas convictas e corajosas da alegria do Evangelho, da fraternidade, da justiça e da paz que Jesus traz ao mundo.

O Congresso Eucarístico deste ano traz como tema “Pão em todas as mesas”, apontando também para a dimensão social da Eucaristia. É impossível não se recordar de uma célebre frase de Dom Hélder Câmara, o grande bispo de Olinda-Recife, que dizia: “se dou comida aos pobres me chamam de santo, mas se pergunto porque passam fome acusam-me de comunista”. Dessa forma, Dom Marto, como ajudar o povo na compreensão de que a partilha do Pão do Céu deve nos impulsionar a partilhar o Pão que mata a fome?

AM: Respondo com uma outra frase de D. Heldér Câmara quando afirmava: “Há uma Eucaristia do santo Sacramento: a presença viva de Cristo sob as aparências do pão e do vinho. Há também outra Eucaristia: aparência da miséria, realidade de Cristo”. O mesmo Cristo sob a aparência do pobre, do necessitado: “o que fizestes ao mais pequeno dos meus irmãos, a mim o fizestes”. A Eucaristia é sacramento do altar quanto é sacramento do irmão. Também aqui vale “não separe o homem aquilo que Deus uniu”! É isto que todos precisamos de compreender que o Senhor ressuscitado que reparte conosco o Pão da Vida, ou seja, a sua vida e o seu amor, nos pede também a nós, como Igreja, partilhar o pão nosso de cada dia, para que não falte o sustento do pão de cada dia, que inclui por sua vez o pão do amor, da acolhida, da partilha, da fraternidade, da solidariedade, da cultura, da dignidade e da paz em todas as mesas, em todas as casas.

Qual Mensagem a Virgem de Fátima traz aos brasileiros e brasileiras sobre a Eucaristia?

AM: Na mensagem de Fátima, é central o mistério do amor misericordioso de Deus, centrado na oblação de Cristo na Cruz, celebrado na Eucaristia. Em síntese, direi que a mensagem que a Virgem de Fátima traz aos brasileiros e brasileiras sobre a Eucaristia é a mensagem de misericórdia e da compaixão com todos os sofredores e a conversão dos corações alimentada na celebração e na adoração eucarística.

* Regional Leste 1 – CNBB

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11 novembro 2022, 13:41