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O cardeal Eugène Tisserant com o Papa Paulo VI O cardeal Eugène Tisserant com o Papa Paulo VI 

A ajuda do Cardeal Tisserant aos perseguidos pelos nazistas

Uma leitura da biografia do cardeal, 50 anos após sua morte, acrescenta mais detalhes sobre suas ações no território da Santa Sé para salvar vidas após a adoção das leis raciais na Alemanha e na Itália. Foi confirmada a existência de uma verdadeira rede clandestina dentro do Vaticano para ajudar os perseguidos: o nome em código do religioso era "Minerva".

Eugenio Bonanata – Vatican News

O Cardeal Eugène Tisserant era uma personalidade multifacetada. Durante a perseguição nazista-fascista, um jovem judeu francês, Miron Lehner, entrou no Vaticano escondido no bagageiro de seu carro. Este ato fazia parte da ação da rede clandestina ativa naquela época fora e dentro dos muros do Vaticano com o objetivo de salvar vidas da fúria do regime. O nome em código de Tisserant era "Minerva", de acordo com o seu título cardinalício de "Santa Maria Sopra Minerva". Estes detalhes estão presentes no relatório de Paule Hennequin, sobrinha-neta do cardeal, enviado à mesa redonda realizada no dia 22 de fevereiro por ocasião do 50º aniversário da morte do cardeal e organizada pelo Pontifício Comitê para as Ciências Históricas no Pontifício Colégio Teutônico do Vaticano.

Um incômodo para as autoridades nazistas

Um relatório que se baseia em grande parte na documentação pela qual em 2020 o Yad Vashem declarou Tisserant "Justo entre as Nações", o prêmio dado aos que ajudaram os judeus na época nazista. "Este é um elemento parcialmente desconhecido da vida do cardeal", especifica Dom Giuseppe Maria Croce do Arquivo da Basílica Papal de Santa Maria Maior sobre a conduta do cardeal naqueles anos. "A polícia italiana o seguia constantemente porque era suspeito de ser anti-fascista", acrescenta, citando documentos mantidos no Arquivo Central do Estado em Roma. Na base da preocupação do regime de Mussolini, aponta, "há uma carta que o cardeal escreveu ao arcebispo de Paris para lamentar o que lhe pareceu ser uma certa lentidão das reações do Vaticano sobre o avanço nazista". As forças alemãs, que tinham ocupado a França, recuperaram a carta durante uma busca. "As autoridades nazistas ficaram particularmente irritadas com a posição de Tisserant e pediram a Roma que interviesse para refrear suas atividades ou mesmo para detê-las completamente". Entretanto, Mussolini não fez nada e Tisserant continuou seu trabalho. Trabalho que sua sobrinha-neta descreve em seu relatório. Particularmente eficaz e generosa", afirma, "foi sua ação em favor dos judeus, tanto em relação aos judeus franceses que se refugiaram na Itália após a invasão dos alemães, quanto em relação aos judeus italianos durante a perseguição racial de 1938-1944, e especialmente após a invasão da Itália por Hitler em 1943. Mas ele também interveio em nome dos judeus alemães que foram forçados a fugir de seu país, que havia caído sob o regime nazista".

Judeus escondidos no Vaticano

O presidente do Pontifício Comitê para as Ciências Históricas, Padre Bernard Ardura, lembra que o cardeal protegeu os judeus no Vaticano, especialmente no Colégio Etíope (que se encontra nos Jardins do Vaticano). Além disso, "ele contratou vários estudiosos judeus na Biblioteca do Vaticano onde trabalhava". Um fato, confirmado pelo arquivo pessoal do cardeal repleto de depoimentos e outros detalhes relatados por Paule Hennequin. "Em uma carta escrita ao seu diretor espiritual, o cardeal afirma: 'Nós empregamos, na Biblioteca do Vaticano, vários judeus alemães, que, de acordo com a nova lei, não poderão mais ficar na Itália. Pergunto-me como a Secretaria de Estado irá lidar com o caso deles. Recebo pedidos de todos os lados de judeus que me imploram para encontrar um lugar para eles nos Estados Unidos. A própria Palestina não está aberta para eles". Naquela época, o Papa ainda era Pio XI. "Já em 1938", descreve a sobrinha-neta de Tisserant, "o cardeal estava preocupado com as medidas desumanas tomadas na Itália contra os judeus, para desacreditá-los na mente da população, acrescentando que "os regulamentos prometem ser mais severos do que os do Reich".

A acolhida de desconhecidos em sua casa romana

E tem mais. Padre Ardura conta que Tisserant "também escondeu algumas famílias em seu apartamento privado na Via Po em Roma, onde algumas ficaram até o final da guerra". Também aqui, o relatório de Paule Hennequin oferece mais alguns detalhes. Por exemplo, ela afirma que em novembro de 1943, foi o Sr. Cesare Verona quem chegou à casa de Tisserant. “Apesar dos riscos envolvidos", pode-se ler, "ele o manteve em sua casa, ou seja, até a libertação de Roma, no início de junho de 1944". Esta acolhida também justificou o reconhecimento concedido ao cardeal pelo Yad Vashem. Vários outros casos fizeram parte de sua vida. "O próprio cardeal", continua o relatório, "durante uma conferência em Paris, em novembro de 1944, disse que tinha ajudado judeus cujos nomes não conhecia e que provavelmente eles não conheciam o seu".

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23 fevereiro 2022, 15:18