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Jornalismo, construir a cultura do encontro

"Em um momento em que muitas pessoas difundem fake News”, a humildade impede de vender a comida avariada da desinformação e convida a oferecer o pão bom da verdade.

Silvonei José - Cidade do Vaticano

Tudo o que você precisa é de um simples tuíte para magoar uma pessoa ou uma comunidade inteira. Pensamento do Papa Francisco expresso em uma audiência no Vaticano nos dias passados, quando recebeu membros da associação de imprensa estrangeira na Itália. O Papa deu voz à sua preocupação numa época cada vez mais dominada pelas redes sociais.

O Pontífice falando diretamente aos jornalistas elogiou o valor da humildade: “jornalistas humildes não significam medíocres, mas sim conscientes de que, através de um artigo, um tuite, uma transmissão ao vivo pela televisão ou rádio que pode fazer o bem, mas também, se você não for cuidadoso e escrupuloso, podem machucar e por vezes inteiras comunidades”. “Penso – disse o Papa -, por exemplo, em certos títulos “gritantes” que podem criar uma representação falsa da realidade”.

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O anátema do Papa às falsas notícias: "em um momento em que muitas pessoas difundem fake News”, a humildade impede de vender a comida avariada da desinformação e convida a oferecer o pão bom da verdade. Numa época em que, especialmente nas redes sociais, mas não só, muitos usam a linguagem violenta e depreciativa, com palavras que ferem e às vezes destroem as pessoas, - sublinha Bergoglio -, é necessário calibrar a linguagem, e como dizia o Santo São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, “usar a palavra como o cirurgião usa o bisturi”. Num tempo de demasiadas palavras hostis, em que falar mal dos outros tornou-se hábito, junto com o de classificar as pessoas, é preciso sempre lembrar que cada pessoa tem a sua intangível dignidade, que nunca lhe pode ser tirada.

O Papa disse que "o jornalista humilde é um jornalista livre". Livre dos condicionamentos. Livre dos preconceitos, e por esta razão corajoso. “A liberdade requer coragem".

No seu discurso sincero aos jornalistas presentes no Vaticano e que serve a todos os jornalistas no mundo inteiro Francisco advertiu: “uma retificação é sempre necessária quando se erra”, mas não é suficiente para restitiuir a dignidade, especialmente em um tempo em que, através da Internet, informações falsas podem se espalhar chegando a parecer autênticas. Por isso, os jornalistas devem considerar sempre a potência do instrumento que tem à sua disposição e resistir à tentação de publicar uma notícia que não foi suficientemente verificada.

Cada um de nós sabe como é difícil e quanta humildade requer a busca da verdade, disse o Papa, acrescentando “que é mais fácil não fazer muitas perguntas, contentando-se das primeiras respostas, simplificar, permanecer na superfície, na aparência; contentar-se com soluções óbvias, que não conhecem a fadiga de uma investigação capaz de representar a complexidade da vida real. A humildade do não saber tudo primeiro é o que move a busca. A presunção de saber já tudo é o que a impede”.

Francisco recordou ainda que “liberdade de imprensa e de expressão” é um indicador importante do estado de saúde de um país. E enfatizou: “lembrem-se que as ditaduras, uma das primeiras medidas que tomam é tirar a liberdade de imprensa”.

O Papa disse que temos necessidade dos jornalistas e do seu trabalho para ajudar a não esquecer tantas situações de sofrimento, que muitas vezes não têm a luz dos holofotes, ou têm-no por um momento e depois voltam à escuridão da indiferença. Francisco recordou e agradeceu os jornalistas pelo que fazem para não esquecer as vidas que são sufocadas antes mesmo de nascerem; os recém-nascidos que se extinguem pela fome, pelas privações, pela falta de cuidado, pelas guerras; as vidas das crianças-soldados; as vidas das crianças violadas. Os jornalistas ajudam a não se esquecer de tantas mulheres e homens perseguidos pela sua fé ou etnia, discriminados ou vítimas de violência e do tráfico de seres humanos. Ajudam a não se esquecer de quem é forçado - por calamidade, guerra, terrorismo, fome e sede – a deixar a própria terra, não é um número, mas um rosto, uma história, um desejo de felicidade".

O Pontífice lamentou ainda a morte de jornalistas que perderam a vida no cumprimento de seu dever. Francisco pediu um jornalismo livre, a serviço da verdade, do bem, do correto; um jornalismo que ajude a construir a cultura do encontro. “Precisamos de jornalistas que estejam do lado das vítimas, do lado dos perseguidos, do lado daqueles que são excluídos, descartados, discriminados”. As palavras de Francisco são um bálsamo aos jornalistas, que com fadiga, fazem do seu trabalho uma missão, da sua missão um estilo de vida a serviço do próximo sem olhar a quem.

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25 maio 2019, 08:00