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Dom Ayuso Guixot entrevistado por Helene Destombes Dom Ayuso Guixot entrevistado por Helene Destombes 

Dom Ayuso Guixot: somente a fraternidade pode transformar o mundo

Nomeado pelo Papa Francisco como novo presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Dom Miguel Ángel Ayuso Guixot explica ao Vatican News os principais desafios enfrentados por seu dicastério.

Hélène Destombes - Cidade do Vaticano

A cultura do diálogo e do encontro, o respeito pela vida, a aceitação da diferença do outro e a promoção da fraternidade: estes são alguns dos atuais desafios do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, na ótica do bispo espanhol Miguel Ángel Ayuso Guixot, 66, nomeado no sábado, 25, pelo Papa Francisco para presidir o Dicastério, após a morte do Cardeal Tauran.

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Dom Ayuso Guixot, desde 2012 secretário do Dicastério, é missionário comboniano expert em Islã: trabalhou durante muitos anos no Egito e no Sudão. Nos últimos meses enviou mensagens a muçulmanos, budistas e hinduístas, encontrou-se e debateu com membros das principais religiões do mundo. O objetivo é o de construir sociedades pacíficas e fraternas, vencendo fundamentalismos e violências.

Como o senhor recebeu o anúncio desta nomeação?

 

Em primeiro lugar, devo expressar o meu mais profundo e sincero agradecimento ao Papa Francisco por ter depositado sua confiança em mim, colocando-me à frente de um Dicastério que é pequeno, mas muito significativo e muito importante para o futuro da humanidade. Por isso, tenho por um lado este sentimento de gratidão, de reconhecimento, e ao mesmo tempo, o senso de responsabilidade para continuar na esteira de todo aquele patrimônio que nos deixou nosso falecido cardeal Jean-Louis Tauran, de cuja escola aprendemos aquele estilo que nos leva a promover, como deseja o Papa Francisco, a cultura do diálogo. Vemos que hoje é muito importante difundir essa cultura do diálogo que, em minha opinião, deve passar do conceito da tolerância para o da convivência, do "viver com", para chegar a uma verdadeira convivência que nos levará a viver em espírito de paz. Por isso, acredito que deve haver sempre esse compromisso renovado em consertar esse diálogo entre povos, nações, culturas e membros pertencentes a diferentes tradições religiosas, porque o mundo realmente tem necessidade disso. Penso que o ponto de referência para seguir este caminho é muito bem indicado pelo Papa Francisco, quando nos convida a promover uma cultura de ternura, porque é através dessa ternura que poderemos fazer prevalecer os verdadeiros valores sobre tantos interesses que dividem, que são a base de muitos fundamentalismos e injustiças.

O cardeal Tauran se recusava a falar de "choque das civilizações", mas falava do "choque das ignorâncias e dos radicalismos". Quais são hoje os principais desafios para o Dicastério?

Acabamos de apresentar no Conselho Mundial de Igrejas um pequeno subsídio para a educação para a paz. Nele, recordamos o que dizia o cardeal Tauran quando evocava esse "choque de ignorâncias", afirmando que há necessidade de promover uma verdadeira e sã educação aos valores morais verdadeiros, ao ensino religioso adequado para que seja promovida uma educação à coexistência, à aceitação dos outros ... O outro desafio é o da sacralidade da vida, porque infelizmente, muitas vezes, vemos atos de terrorismo cometidos até mesmo em locais de culto, onde os crentes vão com simplicidade para louvar a Deus e são mortos de uma forma tão feroz. Outro desafio ainda, é colaborar para construir a paz mundial. E aqui eu gostaria de mencionar sobretudo a Declaração de Abu Dhabi.

Este Documento de Abu Dhabi foi um dos acontecimentos mais importantes destes últimos meses....

É um documento muito importante, também devido ao fato de ter sido deliberadamente assinado pelo Papa e pelo Grão Imame de Al Azhar, e isso já indica que existe um compromisso concreto para que o espírito do Documento de Abu Dhabi seja disseminado e colocado em prática nas diferentes comunidades. Somente a fraternidade será capaz de transformar o mundo em que vivemos hoje e do qual todos, de uma forma ou de outra, nos lamentamos, porque vemos tantos valores essenciais fracassarem.

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26 maio 2019, 14:22