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Coro da Capela Sistina regido por mons. Massimo Palombela Coro da Capela Sistina regido por mons. Massimo Palombela 

Os cantos do Coral da Capela Sistina para o Tríduo Pascal

A Capela musical Pontifícia Sistina, a mais antiga formação coral do mundo, recorre ao repertório arquivado ao longo dos séculos no fundo "Capela Sistina", presente na Biblioteca Apostólica Vaticana, para estudar e pesquisar as músicas a serem interpretadas nas celebrações papais.

Massimo Pallombella – Cidade do Vaticano

A Semana Santa é o coração de todas as celebrações que acontecem no decorrer do ano litúrgico. Historicamente, o melhor da produção musical para a liturgia - e também para situações extra-litúrgicas - centra-se precisamente sobre esta semana e especialmente no Tríduo Santo.

A Capela musical Pontifícia Sistina, a mais antiga formação coral do mundo, acompanhou ao longo da história a liturgia papal e todas as reformas que esta teve,  recolhendo ao longo do tempo um vasto repertório hoje preservado no fundo "Capela Sistina" presente na Biblioteca Apostólica Vaticana.

E é precisamente a este precioso fundo que a cada vez se recorre para realizar com pertinência a primeira missão da Capela que é o cuidado, o estudo e a pesquisa em relação às celebrações papais, no horizonte do quanto hoje a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II exige.

A partir deste trabalho de pesquisa e estudo, surge uma proposta musical para Tríduo Santo, que procura integrar o patrimônio histórico-cultural da Igreja com a necessária novidade que representa  o imprescindível diálogo com a cultura contemporânea.

Para a Missa do Crisma - onde se cantará a Missa de Angelis para favorecer a fácil participação de todos (com o Sanctus alternado entre gregoriano e polifonia de nova forma) - digno de nota são o ofertório Dextera Domini de Giovanni Pierluigi da Palestrina (Capella Sistina 43  [1619], ff.7v-11r) junto ao tradicional O redemptor incluído com uma nova elaboração polifônica do refrão e com as estrofes realizadas em polifonia em duplo coro, que serão cantados ao final da celebração, após a antífona mariana.

A ação litúrgica da Sexta-feira Santa terá, no lugar Salmo responsorial, a canção da peça Domine orationem Exaudi meam e o famoso gradual Christus factus est. A Passio vai ser alternada com as intervenções polifônicas de Tommaso Ludovico da Vittoria (Officium Hebdomadae sanctae [Romae, Apud Alexandrum Gardanum, 1585]; Capell Sistine 322 [1737], ff 24v-38r).

Para a adoração da cruz, à proposta em canto gregoriano Ecce Lignum Crucis, responderá a Capela Sistina com Venite adoremus de nova composição. Seguirá o Popule meus de Giovanni Pierluigi da Palestrina, incluído na sua concreta interpretação do estudo cuidadoso do manuscrito do próprio Palestrina, conservado no Arquivo musical Lateranense (código 59, ff. 89v-90).

Após Popule meus ressoará o inédito Miserere de Costanzo Festa composto em 1517, ano em que entrou como cantor na Capela Pontifícia (Capella Sistina 205-206 [sec. XVII], ff. 5v-7r, 9v-12r, atribuição de L . Baini), composição que representa de alguma forma a "fonte" (com o anônimo de 1514) de todos os Miserere a "Faux-Bourdon" sucessivamente escritos para as celebrações papais (Luigi Dentice, Francesco Guerrero, Teofilo Gargari, Giovanni Francesco e Felice Anerio, Sante Naldini, Giovanni Pierluigi da Palestrina, Ruggero Giovannelli, Gregorio Allegri...).

Para a antífona de Comunhão Diviserunt sibi vestimenta mea serão alternados dois versos: Recordata e Omnis populis retirados das Lamentações de Giovanni Pierluigi da Palestrina (Octob Lat 3387..).

O segundo canto de comunhão será o responsório Sepulto Domino de Domino Tommaso Ludovico da Vittoria (Capela Sistina 74 [1585]), que irá introduzir-nos no silêncio do Sábado Santo.

A Via Sacra no Coliseu será aberta com Adoramus te Christe Francesco Rossello (Cappella Sistina [metade do século XVIII] 484-489, ff 44v-45r.) – composição que, por sua sofisticação, foi atribuída por um longo tempo a Palestrina – se concluirá com o responsorial Sepulto Domino de Marc’Antonio Ingegneri (Responsoria hebdomae sanctae [Venetiis, Apud Riciardum Amadinum, 1588]).

Na Vigília Pascal, é interessante notar a conexão entre o anúncio do Aleluia no VIII modo após a epístola e o salmo responsorial, que tem como refrão o conhecidíssimo Aleluia pascal, de modo a favorecer a fácil participação de toda a assembleia.

Tal conexão ocorre com uma intervenção polifônica da Capela Sistina, que realiza uma espécie de "transição" entre o oitavo e o VI modo, criando uma fluidez e pertinente continuidade entre o anúncio do Aleluia e o salmo responsorial.

No Ofertório será cantado o motete pascal Surrexit pastor bonus com dupolo coro de Giovanni Pierluigi da Palestrina (Capela Sistina 29 [final do século XVI], ff 84V-88r; Capela Sistina 97 [1687], ff 3v-11r.). O verso da antífona de comunhão Pascha nostrum será Confitemini Domino de nova forma.

A Missa do dia no Domingo de Páscoa - com base na Missa de Angelis para facilitar a participação de todos (com o Gloria alternado entre o canto gregoriano e a polifonia de nova forma) - começará com um canto processional, cujo refrão é evidenciado pela introdução da própria celebração, Resurrexi, e a qual introdução conduz naturalmente.

No ofertório haverá a antífona própria Terra tremuit de Giovanni Pierluigi da Palestrina (Capela Sistina 549 / I-550 / I-551 / s [1593], Cappella Giulia XIII.11 / s [1593]).

Na Vigília de Páscoa e no Domingo de Páscoa teremos também a presença de um grupo de instrumentos de metal. Tal escolha - que teve origem com o Maestro Giuseppe Liberto (maestro diretor do Sistina 1997-2010), por ocasião do Jubileu do ano 2000 - é a resposta concreta ao que a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II exige em relação a uma saudável “ministerialidade” onde celebrante, assembleia, coro e instrumentos musicais, interagem como "sujeitps celebrantes”.

O desafio do Concílio Vaticano II em relação ao grande patrimônio cultural da Igreja é o de saber recoloca-lo na liturgia de hoje com "pertinência celebrativa”. Somos desafiados em ser guardiões da tradição, mas não como se faria em um museu. (L'Osservatore Romano)

Mons. Massimo Palombella

 

 

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28 março 2018, 15:00