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O Papa durante o Sínodo de outubro passado O Papa durante o Sínodo de outubro passado

Francisco: o caminho sinodal, uma escuta “aberta e vulnerável”

O livro “A Conversa no Espírito – A arte do discernimento e a prática da sinodalidade” (Livraria Editora Vaticana) dos padres jesuítas Juan Antônio Guerrero Alves e Óscar Martín López será lançado na terça-feira, 30 de abril, com o prefácio do Papa Francisco. O volume já foi publicado no ano passado em espanhol com o título original “Conversación espiritual, discernimiento y sinodalidad” (Editorial Sal Terrae, Grupo de Comunicación Loyola).

Papa Francisco

Queridos irmãos, obrigado por compartilharem este livro comigo antes de ser publicado. Pelo que dizem na introdução sobre a sua gênese, vejo que Óscar conseguiu arrancar o seu companheiro do mundo da economia no qual o tínhamos colocado nesta casa, para o restituir a temas mais espirituais. É muito bonito que da conversa espiritual tenha surgido entre seus autores um livro sobre a Conversa no Espírito.

Ouça e compartilhe

Embora a discussão seja dedicada sobretudo à conversa no Espírito, que é a metodologia adotada no caminho sinodal, aprecio muito que vocês não tenham ficado no método e no seu funcionamento. Vejo com satisfação que vocês fornecem ao leitor referências históricas suficientes para compreender a profundidade deste método e tudo o que ele põe em jogo para se transformar verdadeiramente numa experiência de escuta do Espírito. Vocês salientam que o método sinodal é uma experiência espiritual, na qual a palavra e a escuta visam garantir que o Espírito Santo seja o verdadeiro protagonista. O desenrolar do livro deixa claro que o caminho sinodal que empreendemos como Igreja constitui uma experiência espiritual pessoal, comunitária e eclesial e, portanto, requer o trabalho individual de cada um dentro de si.

A ideia de conversa como «derramar num leito comum» merece mais desenvolvimento futuro. Na verdade, esta concepção de conversa permite que diferentes pontos de vista enriqueçam esse leito comum. Uma maior dose de conversa na vida da cidade e na vida eclesial nos faria muito bem. Na conversa no Espírito encontramos um caminho participativo orientado para a comunhão e a renovação da missão, que incentiva a participação de todos e acolhe na comunhão e na unidade a grande diversidade que todos somos.

A conversação no Espírito, o discernimento e a sinodalidade consistem, sobretudo, na escuta. O caminho sinodal empreendido pela Igreja é um caminho de escuta profunda. A atitude que vocês sugerem, de “escuta aberta e vulnerável”, é fundamental e muito necessária. De fato, permite que o Espírito nos mova e nos faça mudar, nos faça escolher e nos conduzir a decisões concretas. Se cada um permanecer entrincheirado nas posições que adotou anteriormente, não haverá conversa verdadeira, nem escuta verdadeira do Espírito. Não encontrará nada que possa aprender ou assimilar dos outros e terá medo de qualquer decisão que implique mudanças. Na verdade, só quando nos ouvimos realmente é que saímos enriquecidos e aprofundamos a comunhão e missão.

O capítulo sobre disposições interiores me pareceu particularmente essencial. Como já disse em mais de uma ocasião, a nossa intenção não é convocar um parlamento ou mesmo realizar uma sondagem de opinião. Queremos caminhar juntos como irmãs e irmãos, na escuta do Espírito Santo. Ele é o verdadeiro protagonista do Sínodo. A escuta do Espírito exige uma certa atitude interior. A conversa no Espírito, o discernimento e a sinodalidade só podem acontecer se tentarmos nos esvaziar para nos enchermos do Espírito, se a nossa liberdade for desintegrando as amarras materiais, ideológicas e afetivas, de modo a permitir que o Espírito nos guie com mais eficácia; se cultivarmos em nós atitudes de humildade, hospitalidade e acolhimento, e ao mesmo tempo banirmos a autossuficiência e a autorreferencialidade. Só assim a nossa comunhão e a nossa missão poderão ser fortalecidas.

Vocês dedicam o último capítulo à maneira concreta de conduzir a conversa no Espírito. Explicam o método, a forma de conduzi-la, os aspectos que requerem atenção especial. Este capítulo não deve ser lido como se fosse o culminar do livro. Todo método é um meio para um fim, não o fim. O Instrumentum laboris refere-se também à necessidade de adaptar o método às diversas situações, para que seja realmente útil. A importância dos capítulos anteriores consiste justamente em permitir que a metodologia seja bem elaborada e aplicada.

O Instrumentum laboris sublinhou a necessidade de formação na conversa no Espírito. Parece-me que o livro que vocês apresentaram fornecem materiais úteis para esse fim. Muito obrigado pelo seu compromisso e estou certo de que será uma excelente ajuda em muitos ambientes eclesiais.

Jesus os abençoe e a Virgem os proteja e por favor não se esqueçam de rezar por mim.

Vaticano, 21 de julho de 2023

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29 abril 2024, 14:00