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O Papa Francisco recebe em audiência membros do Comitê Nacional para o centenário do nascimento de padre Lorenzo Milani O Papa Francisco recebe em audiência membros do Comitê Nacional para o centenário do nascimento de padre Lorenzo Milani  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Papa: padre Milani, "eu me importo", uma declaração explícita de amor

O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã desta segunda-feira, 22 de janeiro, na Sala Clementina, no Vaticano cerca de 100 pessoas, membros do Comitê Nacional para o centenário do nascimento de padre Lorenzo Milani, presidido pela senhora Rosy Bindi. Padre Lorenzo nasceu em Florença no dia 27 de maio de 1923 e faleceu nesta mesma cidade em 26 de junho de 1967.

Silvonei José – Vatican News

Francisco no seu discurso aos membros do Comitê Nacional para o centenário do nascimento de padre Lorenzo Milani recordou que o acontecimento central na vida desse sacerdote italiano é sua conversão: ela nos permite compreender plenamente sua pessoa, primeiro em sua busca incansável e, depois, após sua completa adesão a Cristo, em sua plena realização. Seu "sim" a Deus toma conta dele, transforma-o e o leva a comunicá-lo aos outros.

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O Santo Padre então recorda que diante do corpo de um jovem sacerdote, Lorenzo diz uma palavra decisiva a seu pai espiritual, padre Raffaele Bensi: "eu o substituirei". É a resposta à vocação de ser cristão e sacerdote ao mesmo tempo, tanto que Adele Corradi, a professora que era próxima a ele, diz: "ele não conseguia se lembrar de nenhum momento como crente em que não pensasse em ser sacerdote. Para ele, parecia que a decisão de ser padre era simultânea à conversão". 

A conversão – acrescentou o Papa - é o coração de toda a experiência humana e espiritual de padre Milani, que faz dele um crente, um sacerdote apaixonado pela Igreja, um fiel servidor do Evangelho nos pobres.

Recordando a vida do padre Lorenzo, o Papa Francisco disse que ele viveu plenamente as bem-aventuranças evangélicas da pobreza e da humildade, deixando seus privilégios burgueses, sua riqueza, seus confortos, sua cultura elitista para se tornar pobre entre os pobres. E ele nunca se sentiu diminuído por essa escolha, porque sabia que essa era a sua missão, e a localidade de Barbiana era o seu lugar, tanto que, assim que chegou, comprou seu túmulo lá.

Padre Bensi, quando o visitou, - disse o Papa - já gravemente enfermo, e o viu no quarto que servia de escola, rodeado por seus meninos, ficou impressionado e escreveu: "estavam todos ali em silêncio [...]. E ele era um deles, nem diferente, nem melhor [...]. Compreendi então, mais do que em qualquer outro momento, o preço de sua vocação, o abismo de seu amor por aqueles que ele havia escolhido e que o haviam aceitado. [...] Ele foi para mim, e continua sendo, a imagem mais heroica do cristão e do sacerdote.

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça" (Mt 5:6). Padre Milani também experimentou essa bem-aventurança com seu povo e seus alunos. A escola era o ambiente no qual se trabalhava para um grande propósito, um propósito que ia além: restaurar a dignidade dos últimos, o respeito, a posse de direitos e a cidadania, mas, acima de tudo, o reconhecimento da filiação de Deus, que compreende a todos nós.

"Nós", disse ele aos padres em Experiências Pastorais, "temos como única razão de viver agradar ao Senhor e mostrar a ele que entendemos que cada alma é um universo de dignidade infinita".

O Papa Francisco disse então que padre Milani foi testemunha e intérprete da transformação social e econômica, da mudança de época em que a industrialização se impunha sobre o mundo rural, quando os camponeses e seus filhos tinham que trabalhar como operários, condição que os confinava ainda mais às margens.

Com uma mente esclarecida e um coração aberto, padre Lorenzo entendeu que até mesmo a escola pública naquele contexto era discriminatória para seus filhos, porque rebaixava e excluía aqueles que começavam em desvantagem e contribuía, com o tempo, para consolidar as desigualdades. Não era um lugar de promoção social, mas de seleção, e não funcionava para a evangelização, porque a injustiça distanciava os pobres da Palavra, do Evangelho, distanciava os camponeses e os trabalhadores da fé e da Igreja.

Padre Lorenzo se pergunta como a Igreja pode ser significativa e causar impacto com sua mensagem para que os pobres não sejam deixados cada vez mais para trás. E, com sabedoria e amor, - disse Francisco - ele encontra a resposta na educação, por meio de seu modelo de escola, ou seja, colocando o conhecimento a serviço daqueles que são os últimos para os outros, os primeiros para o Evangelho e para ele.

Ao pequeno rebanho de Barbiana, ao seu povo, padre Lorenzo entrega toda a sua vida, que ele entregou primeiramente a Cristo. O lema "Eu me importo" não é um "eu me importo" genérico, mas um sincero "eu me importo com vocês", uma declaração explícita de amor à sua pequena comunidade; e, ao mesmo tempo, é a mensagem que ele transmitiu aos seus alunos e que se tornou um ensinamento universal.

O Papa concluiu seu discurso dizendo que padre Milani nos convida a não ficarmos indiferentes, a interpretar a realidade, a identificar os novos pobres e a nova pobreza, a nos aproximarmos de todos os excluídos e a levá-los a sério. Cada cristão deve desempenhar seu papel nesse sentido. Padre Lorenzo foi um sacerdote inquieto e irrequieto, fiel ao Senhor e à sua Igreja, pelo testemunho que nos deixou como um legado exigente.

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22 janeiro 2024, 10:15