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Papa Francisco discursa aos presentes na Universidade Católica Péter Pázmány, em Budapeste Papa Francisco discursa aos presentes na Universidade Católica Péter Pázmány, em Budapeste  (Vatican Media)

Francisco e a cultura: os grandes intelectuais são humildes

Em seu último compromisso, durante a Viagem Apóstolica para a Hungria, Francisco encontrou-se com o mundo universitário e da cultura na Universidade Péter Pázmány, na Faculdade de Tecnologia da Informação e Biônica que celebra neste ano seus 25° aniversário.
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Irmã Grazielle Rigotti, ascj - Vatican News

Na tarde deste domingo, 30 de abril, o Papa Francisco encontrou-se com o mundo universitário e da cultura, na Faculdade de Tecnologia da Informação e Biônica da Universidade Católica Péter Pázmány, pouco antes da cerimônia de despedida e de seu retorno a Roma.

No início de seu discurso afirmou que a cultura é como um grande rio - fazendo alusão ao Danúbio que corta a capital Budapeste - "que percorre várias regiões da vida e da história relacionando-as, permite navegar pelo mundo e abraçar países e terras distantes, sacia a mente, irriga a alma, faz crescer a sociedade." 

Citou ainda Romano Guardini, e as duas formas de conhecimento por ele destacadas: aquele conhecimento humilde e relacional e o que não observa, mas analisa. Guardini não demoniza a tecnologia, diz Francisco, mas, nesta segunda forma, alerta para o risco de ela se tornar reguladora, se não dominadora, da vida.

“O saber requer uma semeadura diária que, mergulhando nos sulcos da realidade, dá fruto.”

"A vida pode permanecer vivível? É uma questão que será bom pormo-nos, especialmente neste lugar onde se aprofundam a informática e as ciências biónicas", refletiu o Santo Padre, aprofundando a questão que pode nascer do risco de uma vida "enquadrada num sistema de máquinas", causando solidão e a erosão dos laços comunitários.  

"Quantos indivíduos isolados – muita rede social, mas pouco sociais – recorrem, como num círculo vicioso, às consolações da tecnologia para preencher o vazio que sentem, correndo de forma ainda mais frenética, enquanto, súcubos dum capitalismo selvagem, sentem como mais dolorosas as suas fragilidades, numa sociedade onde a velocidade exterior anda de mãos dadas com a fragilidade interior."

Não querendo ser pessimista, o Papa afirma ter-se demorado em "tons sombrios" porque é precisamente em tal contexto que melhor resplandecem os papéis da cultura e da universidade. E ressaltou então o seu papel.

“A universidade é o lugar onde o pensamento nasce, cresce e matura aberto e sinfônico.”

"De fato a universidade, como o próprio nome indica, é o lugar onde o pensamento nasce, cresce e matura aberto e sinfônico. Não monocorde, não fechado. Aberto e sinfônico. É o «templo» onde o conhecimento é chamado a libertar-se dos limites estreitos do ter e do possuir para se tornar cultura, isto é, «cultivação» do homem e das suas relações fundantes: com o transcendente, com a sociedade, com a história, com a criação." 

"É verdade! Os grandes intelectuais são humildes." Ressaltou ainda o Pontífice, sublinhando que, de fato, quem ama a cultura nunca sente ter chegado ao fim acomodando-se, mas sente dentro de si uma saudável inquietação.

Por fim, Francisco deixou aos presentes duas frases orientadoras: "Conhece-te a ti mesmo", o oráculo de Delfos, e "a verdade vos tornará livres", palavras ditas por Jesus no evangelho de São João (8,32), alertando o povo da Hungria do risco de passarem do comunismo ao consumismo, com a falsa ideia de liberdade. E deixou seus votos para a Universidade Péter Pázmány e para todas as Universidades: "que sejam um centro de universalidade e liberdade, um fecundo estaleiro de humanismo, um laboratório de esperança."

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29 abril 2023, 18:16