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Próximo ao ártico, Papa encerra visita ao Canadá com os jovens: nunca percam a esperança

O jovem é feito para voar, rumo a Deus, não para ser prisioneiro de um celular: próximo ao círculo polar ártico, Papa conclui sua viagem apostólica ao Canadá encontrando o futuro do país, representado pelos jovens da etnia Inuit.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O Papa Francisco dedicou seu último encontro em terras canadenses aos jovens e idosos, num cenário completamente diferente: Iqaluit, próximo ao círculo polar ártico. O Pontífice deixou a urbana Quebéc e se dirigiu ao norte do Canadá, na ilha de Baffin.

Iqaluit (que significa "local de muitos peixes") é a capital e a maior cidade do território de Nunavut, onde durante quase todo o ano a cor predominante é o branco da neve. No período invernal, que dura oito meses por ano, a temperatura média é 25 graus abaixo de zero. A temperatura mais baixa já registrada em Iqaluit foi de -45,6°C em 10 de fevereiro de 1967. A neve está normalmente presente do início de outubro até o início de junho, mas nunca em grandes quantidades (muitas vezes menos de 5 cm). O verão é curto, fresco e úmido, com temperaturas às vezes superiores a 15 graus, normalmente em julho e agosto. O clima é de tundra.

Na pequena cidade de Iqaluit vivem pouco mais de 7 mil habitantes e ali se concentra a maior comunidade de Inuit, uma população indígena originária da costa americana, distribuída entre Groenlândia e Alaska, presente inclusive na Ásia.

Como os demais povos tradicionais, os inuítes também sofreram as consequências da colonização, a língua quase foi suprimida como resultado das escolas residenciais. Em um dos quatro colégios da cidade, Escola Primária Nakasuk, o Papa se encontrou a portas fechadas com sobreviventes. Francisco ouviu testemunhos e, juntos, rezaram o Pai-Nosso. Já no pátio da escola, houve um momento público, com a apresentação danças, cantos e músicas tradicionais.

Indignação e vergonha

Em seu discurso, Francisco agradeceu a coragem com a qual os sobreviventes relataram suas histórias de dor e repetiu seus sentimentos de indignação e vergonha que o acompanham ao ouvir esses testemunhos.

“Também hoje e aqui quero dizer-vos o grande pesar que sinto; e desejo pedir perdão pelo mal cometido por não poucos católicos que, naquelas escolas, contribuíram para as políticas de assimilação cultural e de alforria.”

De modo especial, as palavras de um idoso marcaram o Santo Padre ao narrar a abrupta mudança de vida com a chegada dos colonizadores e o afastamento da família. Antes, era a primavera. Depois, predominou o inverno. “Tais palavras, ao mesmo tempo que geram tristeza, provocam também escândalo; e mais ainda quando as confrontamos com a Palavra de Deus.” Mas somente com a ajuda divina é possível percorrer, agora juntos, um itinerário de cura e de reconciliação.

Cuidar da terra, das pessoas e da história

Os inuítes, disse ainda o Papa, são como a terra que habitam: fortes e resilientes. Sabem cuidar do solo e do coração, sabem respeitar o meio ambiente e os idosos. Esta é a principal herança para os jovens: “Cuidar da terra, cuidar das pessoas, cuidar da história”.

O Pontífice se dirigiu à juventude com inúmeras referências à cultura local, oferecendo três conselhos: caminhar para o alto, ser luz e trabalhar em equipe.

“Amigo, você não é feito para ir vivendo, para passar os dias equilibrando deveres e prazeres, mas para voar para o alto, rumo aos desejos mais verdadeiros e belos que abriga no coração, rumo a Deus que deve amar e ao próximo que deve servir.”

Diante de um mundo marcado por escândalos, guerras, injustiças, destruição do meio ambiente e indiferença, a força é Jesus, que está sempre pronto a abraçar, acolher e encorajar. “Nunca perca a esperança”, exortou o Papa. “Oriente o GPS da existência para uma meta grande, para o alto!”

Jovens reféns do celular

Com Jesus, é possível discernir a luz das trevas.  O recurso à disposição é a liberdade. “Uma liberdade que não consiste em fazer tudo o que me apraz e vem à cabeça; não é aquilo que posso fazer não obstante os outros, mas pelos outros; não é total arbítrio, mas responsabilidade. A liberdade é o dom maior que o nosso Pai celestial nos deu juntamente com a vida.”

A felicidade de Deus é quando escolhemos amá-Lo, é quando escolhemos fazer o bem, que é muito mais eficiente quando feito em conjunto. Os jovens não podem passar os dias isolados, mantidos como reféns por um celular, afirmou o Papa, citando como exemplo o esporte nacional do Canadá: o hóquei no gelo, que requer disciplina e criatividade, mas, sobretudo, espírito de equipe. “Para se alcançar grandes objetivos, não se pode ir para diante sozinhos; é preciso mover-se em conjunto.”

Francisco concluiu seu último discurso no Canadá fazendo votos que os jovens sejam capazes de beber da riqueza das tradições locais e abraçar o Evangelho transmitido pelos antepassados e, assim, encontrar o rosto “inuíte” de Jesus Cristo.

Do colégio, o Papa se dirigiu imediatamente ao aeroporto internacional de Iqaluit, de onde regressa a Roma.

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29 julho 2022, 23:57