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Chefe Littlechild ao Papa: uma honra caminhar juntos no caminho da reconciliação

Obter a verdadeira cura e a verdadeira esperança para os jovens, depois de um passado de devastação. É o que esperam os povos indígenas das Primeiras Nações, Métis e Inuítes no primeiro encontro com Francisco em Maskwacis. A saudação de boas-vindas foi feita pelo líder indígena Wilton Littlechild, sobrevivente das escolas residenciais e promotor de um caminho de reconciliação, verdade e justiça, compartilhado pelo Sucessor de Pedro, agora peregrino no Canadá num espírito penitencial.

Gabriella Ceraso – Vatican News

"Sua Santidade, Kitatamihi, bem-vindo à nossa terra".

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Ressoa forte em solo canadense a voz dos povos indígenas que o habitam "desde tempos imemoráveis", e essa voz ancestral fala hoje ao Sucessor de Pedro, que "viajou tanto" para se tornar um peregrino com cada um deles. A voz é a do Chefe Wilton Littlechild, "Águia Dourada" na língua Cree. O líder indígena, de 78 anos, reencontrou em sua terra o Papa que havia deixado em Roma no início de abril com a promessa de se reencontrar para continuar falando sobre verdade, justiça e perdão. Agora a promessa se tornou realidade e foi ele quem recebeu Francisco em sua chegada ao Bear Park Pow-Wow Grounds, voltando da pausa silenciosa e solitária de oração, no cemitério e no memorial do não retorno de tantas crianças indígenas às suas famílias, dilacerados em nome de uma ação homologadora estudada com a participação de cristãos nos séculos passados.

O Memorial de Maskwacis
O Memorial de Maskwacis

Estamos na área de Maskwacis, no centro de Alberta, nas reservas do grupo de tribos indígenas do Oeste do Canadá, a área das escolas residenciais destinadas à assimilação cultural, na qual cerca de 150 mil crianças indígenas entraram nos séculos XIX e XX, e um número desconhecido encontrou a morte por maus-tratos, desnutrição e abuso. Littlechild também estava entre elas, pois, antes dele, seus pais sobreviveram a tanto horror, mas não tanto para crescer os filhos, deixados aos avós: deles Littlechild foi levado para frequentar a Escola Residencial Ermineskin, onde, sem um nome, mas apenas com um uniforme, ele seria conhecido como o número 65. Uma infância marcada que o transformou num homem comprometido, que não cede à busca por justiça: desde a participação na Comissão da Verdade e Reconciliação, à presença no Conselho do fundo criado pelos bispos canadenses para projetos de reconciliação.

Maskwacis
Maskwacis

O esforço de Francisco, uma bênção

Francisco sabe de tudo isso: em Roma ele ouviu todas as histórias relacionadas às escolas e sofreu muito, e as delegações dos povos indígenas que o encontram hoje se lembram bem dele. O apreço é grande: "É uma grande honra recebê-lo entre nós. Ele viajou muito para estar conosco em nossa terra e caminhar conosco no caminho da reconciliação" são as primeiras palavras de Littlechild que destacou o "grande esforço pessoal" de Francisco para chegar tão longe, uma "bênção". Com "Águia Dourada" também falaram os representantes presentes dos Métis e Inuítes com suas canções, danças, roupas ricas e coloridas, jovens, idosos, crianças e famílias, que, disse o líder indígena com orgulho, habitam a terra do Canadá, parte da Ilha das Tartarugas, sua pátria. Maskwacis em particular é a terra ancestral de alguns deles e em cada nome se sente uma pertença, uma ligação com o solo e suas criaturas.

A terra e a dor

O meu nome é "Usow-Kiew", disse ele. "Fui estudante aqui na escola residencial em Ermineskin" que hoje representa todas.  "Lugares ", disse o Papa ao recebê-los em Roma em 1º de abril de 2022,  "no qual se manifestou o desejo arrepiante de fazer perder a dignidade". Hoje, o Papa tem diante de seus olhos mais uma vez, alguns dos sobreviventes. Littlechild disse que ouviu, como membro da Comissão da Verdade e Reconciliação, ativa de 2008 a 2015 para esclarecer a realidade dessas escolas e iniciar projetos de reconciliação, cerca de 7 mil testemunhos de ex-alunos sobreviventes. Depois, lembrou o encontro no Vaticano na primavera e ficou claro por suas palavras o quanto todos ficaram impressionados ao ouvir o Papa. Muitos em Roma já haviam dito: "Sentimos a dor em suas reações".

A compaixão de Francisco é fonte de profundo conforto

Hije, Littlechild também repetiu: "Durante nosso tempo com ele, ficou claro para todos nós que ele ouviu profundamente e com grande compaixão os testemunhos que contaram sobre a forma como nossa língua foi reprimida, nossa cultura foi tirada de nós e nossa espiritualidade denegrida. Ele sentiu a devastação que se seguiu da forma como nossas famílias foram destruídas. As palavras que Ele nos dirigiu em resposta vieram claramente do fundo do seu coração e foram uma fonte de profundo conforto e encorajamento para aqueles que as ouviram." O Papa então expressou o desejo de ir ao Canadá para expressar melhor sua proximidade.

Que haja verdadeira cura e esperança para as gerações futuras

Agora, o primeiro passo juntos é comovente: "Ele disse que vem como peregrino", disse o líder indígena, "tentando caminhar conosco no caminho da verdade, justiça, cura, reconciliação e esperança". Além da alegria dessa proximidade na viagem, há uma esperança nas palavras finais de Littlechild, de que o encontro de hoje e os discursos proferidos "obterão uma verdadeira cura e uma verdadeira esperança para muitas gerações futuras".

Sua Santidade, Kitatamihi, bem-vindo à nossa terra.

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25 julho 2022, 23:40