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O Poder Silencioso da Graça na Natureza Humana

A Graça ou Dádiva emanada do poder silencioso de Deus, reporta ao fato de que, “Aprouve a Deus, na sua Bondade e Sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o Mistério da Sua Vontade (cf. Ef. 1,9)” (DV. 1).

Diácono Adelino Barcelos Filho – Diocese de Campos

A Bíblia é Sagrada como sendo, a “Comunicação de um Deus Amor, de um Deus Irmão“, o Ordenamento realizado nos atos da Criação, a Revelação de Deus (Uno e Trino), ocorre, de maneira especial, quando a prerrogativa divina da Graça é prefigurada na grande importância da mulher, “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência (semente) e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15). Esta passagem está intimamente relacionada à Virgem Santíssima, uma propriedade que, pelo poder silencioso de Deus, determina a essência ou a natureza humana de Cristo. Dessa maneira, sinaliza para Maria Santíssima como nascente do Rio de Água da Vida, a humanidade de Cristo (pelo poder silencioso de Deus), e, para o Pai Celeste, como autêntico Pai de Jesus, sem excluir o pai nutrício,  São José, pois foi mais que conveniente que, Cristo, em sua humanidade, recebesse uma educação, formação e forja da firmeza de caráter, por um “homem justo”, modelo de masculinidade e paternidade, fazendo com que Jesus chegasse a maturidade tal, capaz de entregar a Sua Vida pela Salvação e Redenção da humanidade inteira, bem como, recondução do universo inteiro ferido pelo pecado,  deixando-se morrer, por Amor; vislumbrando a família como base e “célula mãe” da sociedade, do resgate e recondução de toda a Criação. Providência de combate ao pecado das origens e todas as suas consequências universais.

A desobediência dos “primeiros pais”, com seus “jogos” de colocar a culpa um no outro ou arranjar um culpado, orgulho – arrogância e prepotência, em não assumir seus próprios atos, não alterou o desejo de Deus, em multiplicar a Sua Obra da criação, bem como, Ele pudesse contemplar a Si mesmo, em uma criatura à Sua Imagem e Semelhança. A influência maligna do “mistério da iniquidade”, revelada pelo próprio Deus, na Pessoa de Jesus Cristo, não impediu a Ação do Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, Ruah, o sopro e Espírito da Vida, que consagrou Maria Santíssima, tornando-a “sagrada”, concedendo-lhe o Pai, a Graça do reconhecimento, numa inserção de hiperdulia (culto de especial veneração, que na Igreja Católica é reservado apenas à Virgem Maria, superior à dulia, que se dedica aos santos e aos anjos), sendo confirmado o fato de que, “desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc 1,48-49), no Silêncio. 

A Vida veio do feminino, com o suporte do masculino. O preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, derramado na Cruz, por Amor, transformou a culpa “Adâmica”, em “Feliz Culpa”, cantada na solene Liturgia da Páscoa. A Graça ou Dádiva emanada do poder silencioso de Deus, reporta ao fato de que, “Aprouve a Deus, na sua Bondade e Sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o Mistério da Sua Vontade (cf. Ef. 1,9)” (DV. 1). Por causa da fidelidade de Deus à Sua própria Liberdade, “não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no Seu Coração” (GS 1) Amantíssimo.  “Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da Liberdade como hoje, em que surgem novas formas de servidão social e psicológica” (GS); muitas vezes o que prejudica são os desequilíbrios e desmandos quanto à Vontade de Deus. “Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (cf. Jo. 1,3), oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo (Graça ou Dádiva) na Criação (cf. Rom. 1, 1-20) e, além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação (cf. Gn. 3,15)” (DV. 3).

As consequências sociais do pecado individual ocorrem pelo simples motivo de que cada um, no cultivo do egoísmo, não assume uma correta posição de responsabilidade sobre si mesmo e pelas vidas interligadas a si. Quando se percebe a real necessidade de mudança diária nos  deparamos com “a sangrenta brutalidade com a qual se pode alcançar a Salvação; desta forma, qualquer um é tentado a dizer que prefere ficar com as coisas da terra” (Castillo J. M. 2015). Esta impostura religiosa e reducionista gera uma espécie de “relativismo” perigoso, tendo como consequências a “ditadura das armas” e a “ditadura da cultura” (Aquino, F. 2009); por exemplo, a “cultura de morte” e do “descarte humano“, abandono. Perde-se de vista, a realidade “de que o Senhor quer que suportemos com alegria qualquer mal, seja ele devido às nossas más ações egoístas ou às alheias, o dizer (como muitos dizem para disfarçar a própria impaciência, de maus cristãos) que tais coisas não são Vontade de Deus, não passa de um pretexto, para encobrir a própria culpa e recusar a Cruz que Ele nos ordena a carregar (Lc 9,23)” (Scupoli L. 2014).

Por outro lado, O Papa Francisco, na manhã de 17 de março de 2013 nos exorta que “a mensagem de Jesus é a Misericórdia; para mim, digo com humildade, é a mensagem mais forte do Senhor”; e ainda que,  “o primeiro e único passo necessário para experimentar a Misericórdia é reconhecer que necessitamos da Misericórdia; Jesus vem em nosso auxílio” quando assumimos a condição de que somos pecadores, “Ele esquece, beija, abraça e lhe diz apenas: nem Eu  o condeno vá e de hoje em diante não peque mais” (Francisco, Papa, 2016, p.15-17).  Desta maneira, “a escuta da Palavra faz-me sentir três coisas: proximidade, hipocrisia e mundanidade” (p.41), ou seja, o nosso Deus está sempre pronto em nos socorrer, a apelar para que não sejamos fingidos, mascarados, no trato com Ele, como aqueles “que afastam o povo de Deus da Salvação”(p.43), impedindo sua participação, por conta de um “clericalismo” de fachada; “Jesus aponta o coração e diz-lhes: dos vossos corações saem as más intenções, as fornicações, os roubos, os homicídios, os adultérios, avareza, a maldade, os enganos, as desonestidades, a inveja, a difamação, o orgulho, o desatino” (Bergoglio, J.M., PP, p. 41-43), atirando lama, na honra de pessoas que, por vezes, lutam sós, para serem verdadeiramente fiéis a Deus; que nossa defesa seja pela Verdade, pois nos revelou que a Verdade é uma Pessoa.

Quando não cuidamos do Caminho de Santidade, de Perfeição “sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48) nos abandonamos a necessidade “de admiração ante as próprias descobertas e poder, debate, porém, muitas vezes, com angústia, as questões relativas à evolução atual do mundo, ao lugar e missão do homem no universo, ao significado do seu esforço individual e coletivo, enfim, ao último destino das criaturas e do homem” (GS 3).  Observamos assim, uma “tríplice relação entre Deus, a Pessoa Humana e a Criação”, onde se ergue a profunda e inquietante questão sobre o ato de existir e as suas consequências positivas ou negativas, pois o conhecimento determina o comportamento” (Fernandes,L.A. 2013, p.25-30). A ausência, de uma Catequese sólida, de uma Formação Continuada (em todos os níveis), do Conhecimento de Deus e de Sua Vontade, da realidade, da “Casa Comum”, fazem com que as pessoas pereçam (Pr 29). Existe uma constante necessidade organizacional de uma recondução da Casa Comum, do universo, a partir de Ações individuais e coletivas.

Nos idos de 24 de maio de 2015 (dia de N. S. Auxiliadora e aniversário de Casamento dos meus pais), o Papa Francisco tornou pública, a Encíclica ‘Laudato Si’, nesta Carta são abordadas questões socioambientais,  apontando a urgente necessidade de mudanças de mentalidade, tendo em vista o caminho que a humanidade vem trilhando de autodestruição, por causa do clamor da terra “contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou” (LS, 2); afirmando ser urgente, garantir melhorias no futuro da humanidade, do planeta e quiçá, do universo; uma vez que, “A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22)” (LS, 2). Vale ressaltar que, esse documento se tornou um marco ativo da participação Católica, em ciclos de debates sobre Sustentabilidade, Ecologia e Justiça Social. Precisamos crescer na consciência de que, Deus quer precisar de nóspara nos Salvar e Reconduzir,  do retorno ao Projeto de Pureza inicial da Criação, da nossa Imagem e Semelhança, para que um dia, no movimento da Perfeita Ação de Graças, entoarmos ao Pai, todo louvor, por Cristo, com Cristo e em Cristo, na Unidade do Espírito Santo, toda honra, toda a Glória, agora e para sempre. Amém.

Siglas:Gn– Genesis; Lc– Lucas; Ef– Efésios; DV– Dei VerbumGS– GaudiumSpesJo– João; Rom- Romanos; Mt– Mateus; Pr- Provérbios; LS-Laudato si.

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11 outubro 2023, 10:54