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A jovem em conferência de Engenharia Biomédica em Glasgow, Escócia, em julho deste ano A jovem em conferência de Engenharia Biomédica em Glasgow, Escócia, em julho deste ano 

A ciência para o bem: em Oxford, brasileira estuda tratamento inédito para Mal de Parkinson

Uma jovem do interior de São Paulo faz parte de um projeto de pesquisa da Universidade de Oxford que busca desenvolver um tratamento não invasivo e acessível para pessoas com Mal de Parkinson. Trata-se de um aparelho, como se fosse um relógio, que gera choques elétricos em momentos específicos do tremor. “Na ciência encontrei uma maneira de poder desenvolver um trabalho humanitário”, afirma Beatriz Arruda.

Laura Lo Monaco - Vatican News

A brasileira Beatriz Arruda, de 26 anos, iniciou seus estudos acadêmicos em 2015 com a graduação em Engenharia Biomédica e Neurociência na Universidade de Brown, nos EUA. Hoje, ela prossegue seus estudos na Universidade de Oxford, Inglaterra, onde faz o doutorado em Neurociência ao lado de estudantes do mundo todo.

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Em entrevista ao Vatican News, Beatriz compartilhou suas experiências de estudo no exterior e como o projeto de pesquisa do qual faz parte pode ajudar no tratamento de pessoas com Mal de Parkinson.

Os estudos nos EUA e na Inglaterra

Beatriz nasceu e cresceu em Jundiaí, no interior do estado de São Paulo, e desde pequena demonstrou interesse pelas ciências naturais. Na escola, ela sempre foi uma excelente aluna e já demonstrava interesse pela área acadêmica. Mesmo sempre ocupada com as aulas extracurriculares, ela não media esforços para ajudar aqueles que tinham maior dificuldade de aprendizado. Durante o ensino médio, participou de um programa de mentoria que prepara estudantes para aplicarem a universidades no exterior e assim conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade de Brown, em Rhode Island. Após a graduação, continuou seus estudos com o doutorado na universidade inglesa de Oxford.

A brasileira Beatriz Silveira de Arruda, de 26 anos
A brasileira Beatriz Silveira de Arruda, de 26 anos

O projeto de PhD

A tese de doutorado de Beatriz consiste em utilizar a Neuroengenharia para desenvolver um tratamento não invasivo para tremores patológicos como o Mal de Parkinson:

“Estamos desenvolvendo um bracelete pra tratamento dos tremores da Doença de Parkinson por meio de choques elétricos no pulso. Então seria um aparelho que as pessoas poderiam usar como se fosse um relógio, um bracelete mesmo, e ele dá choques elétricos em momentos específicos do tremor, que são adaptáveis para cada pessoa. A ideia é que estes choques gerariam um sinal que seria enviado de volta para o cérebro pra modificar a atividade dos circuitos relacionados à Doença de Parkinson.”

A doutoranda explica que o uso de medicamentos é uma outra opção de tratamento para o Parkinson, que funciona muito bem para algumas pessoas, mas não para todas, sendo que alguns pacientes sentem os efeitos colaterais dos medicamentos e outros sentem melhorias de alguns sintomas, mas nem sempre dos tremores. Outra possibilidade de tratamento é a cirurgia de estimulação, que envolve a inserção de um eletrodo no cérebro e que tem ótimos resultados, porém é um procedimento caro e os critérios de seleção de quem pode se submeter a esta cirurgia são muitos restritos.

“Então tem um espaço que precisa ser preenchido em relação ao desenvolvido de tratamentos não invasivos, que não envolvam cirurgia ou medicação e é nisso que entra o meu projeto.”

Quando falamos de tratamentos de doenças progressivas, é preciso levar em consideração a realidade do paciente em sua totalidade, e isso inclui o fator socioeconômico. A maior parte dos parkinsonianos provenientes de países em desenvolvimento não têm acesso a tratamentos de alto custo. Neste cenário, o projeto desenvolvido em Oxford traz uma outra perspectiva para o tratamento da doença, que afeta cerca de 1% da população mundial após os 65 anos. O projeto no qual Beatriz faz parte busca desenvolver um tratamento para o Mal de Parkinson que seja acessível, pensado para ser aplicado em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

O amor ao próximo através da ciência

Beatriz compartilha que é possível amar ao próximo através dos estudos: “Na ciência, encontrei uma maneira de poder desenvolver um trabalho humanitário, de poder ajudar o próximo de maneira efetiva. Este sempre foi meu foco: ajudar pessoas através do meu amor pela ciência. Neste sentido, tenho focado meus estudos na área da Neuroengenharia, que é uma grande aliada para o desenvolvimento de tratamentos de doenças que afetam o sistema nervoso”.

Descoberta há mais de dois séculos, a Doença de Parkinson é a segunda patologia degenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central mais frequente no mundo, atrás apenas da Doença de Alzheimer. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com a Doença de Parkinson. Com o aumento da expectativa de vida, o número pode dobrar até 2040. No Brasil, a estimativa é de que 200 mil pessoas vivam com a enfermidade.

“Eu tenho uma preocupação muito grande com o desenvolvimento de tecnologias baratas, de baixo custo e acessíveis que beneficiem pessoas em países em desenvolvimento porque eu vim de um país que tem um sistema público de saúde muito grande e muito abrangente e eu gostaria de desenvolver algo que seja aplicável neste sistema público de saúde, pra beneficiar muita gente”, conclui Beatriz.

O Mal de Parkinson

A Doença de Parkinson ou Mal de Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, causada por uma diminuição intensa da produção de dopamina, um neurotransmissor que auxilia na transmissão de impulsos nervosos do cérebro para o resto do corpo. De maneira prática, a falta de dopamina afeta a realização dos movimentos voluntários do nosso corpo, gerando lentidão motora, rigidez entre as articulações do punho, cotovelo, ombro, coxa e tornozelo, tremores de repouso notadamente nos membros superiores (geralmente predominantes em um lado do corpo quando comparado com o outro), instabilidade da postura e alterações na fala e escrita. Podem ocorrer também “sintomas não-motores”, como a diminuição do olfato e alterações intestinais e do sono.

Com o envelhecimento, é natural ocorrer a morte progressiva das células nervosas que produzem dopamina, porém, algumas pessoas perdem estas células num ritmo muito acelerado e, assim, acabam por manifestar os sintomas da doença.

Não se sabe exatamente quais os motivos que levam a essa perda progressiva e exagerada das células nervosas, mas o envelhecimento e histórico familiar estão entre os principais fatores associados à essa degeneração.

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21 novembro 2022, 12:00