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A guarda nacional ucraniana patrulhando ao redor da Usina nuclear de Chernobyl A guarda nacional ucraniana patrulhando ao redor da Usina nuclear de Chernobyl 

“O risco nuclear não é iminente, mas a guerra deve acabar”.

O risco nuclear e o controle das armas estão sendo discutidos, desde sexta-feira (08/4), em uma Conferência internacional de três dias, promovida pela Academia"dei Lincei", em Roma, no contexto dos problemas e progressos em tempos de pandemia e guerras. Sempre se corre o risco de um erro casual.

Antonella Palermo - Vatican News

A Academia Nacional "dei Lincei", com sede em Roma, está promovendo, nestes três dias, uma Conferência sobre os riscos nucleares e controle das armas. Participam do evento conferencistas, de diversas partes do mundo, acadêmicos e representantes de instituições e organizações internacionais, entre os quais o Prêmio Nobel de Física, Giorgio Parisi, o Prêmio Nobel de Medicina, Jules Hoffmann, e estudiosos do Japão, Letônia e Rússia. Nestes dias, os participantes abordarão temas como “armas nucleares, risco cibernético, militarização da inteligência artificial e cooperação internacional por uma energia sustentável”. A Santa Sé está presente, na pessoa de Alessio Pecorario, do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, que falará sobre “a promoção do desenvolvimento humano integral e a paz na era digital”.

Entrevista com Luciano Miani, Presidente das Conferências de Amaldi, que comenta sobre o risco nuclear:

A Conferência realiza-se um momento crucial, em que a guerra na Ucrânia traz à tona o perigo de um possível uso de armas nucleares...

Uma clara preocupação emergirá desta Conferência sobre a necessidade de os governos continuarem a tratar do tema nuclear. Foi dado um passo a mais com o Novo START (Novo Tratado sobre a Redução de Armas Estratégicas) assinado pelos Estados Unidos e pela Rússia em 2010. O horizonte não é róseo. Por outro lado, é preciso que os governos apontem indicações precisas de como pretendem agir. Achamos que este procedimento deve continuar e sejam restabelecidos os tratados cancelados, como o de mísseis de médio alcance. Claro, uma condição para que isso seja possível é que a guerra não seja travada.

Mas quanto é possível este risco?

Por enquanto o risco não parece tão iminente, parece apenas uma ameaça cogitada. Creio que a política dos países ocidentais de ajudar a Ucrânia, evitando intervir diretamente, é muito sábia. Somos moderadamente otimistas. A demora de um cessar-fogo é o que mais preocupa. Se esta guerra continuar por muito do tempo, os riscos indesejados aumentam. Por isso, é preciso detê-la o mais rápido possível. Por enquanto, os contatos entre russos e ucranianos ainda são bastante abstratos. Para nós, as armas nucleares são um tabu. Não devemos nos enganar que as armas nucleares táticas possam melhorar a situação, pelo contrário, seria uma destruição ambiental inimaginável, em um mundo industrializado e densamente povoado. Seria um desastre global. Quando se diz que é possível destruir a base da existência humana na terra, não é fruto de alarmismo.

O regime de não proliferação nuclear é sustentável no novo ambiente geopolítico?

Sabemos que quando o tratado de não proliferação foi introduzido, esperava-se que outros 20-30 Estados nucleares se formariam em curto prazo. Porém, além das potências tradicionais, já dotadas de energia nuclear, foram acrescentados apenas o Paquistão, Líbia e Coreia do Norte. Esperemos que prevaleça o bom senso e que este tratado seja revisto e, finalmente, aprovado.

Neste conflito atual, fala-se do uso de armas não convencionais, como as armas químicas ou as chamadas bombas de fragmentação, proibidas em nível internacional. Nesse sentido, levando em conta também outros conflitos, como no Oriente Médio, quais as perspectivas desta Conferência?

Nossa posição é bem clara: as armas impróprias, dirigidas sobretudo contra civis, como as minas, que produzem grandes prejuízos, não devem ser absolutamente usadas. Porém, eu não as colocaria no mesmo nível das armas nucleares.

Entre os temores, ligados à guerra na Ucrânia, como um simples 'acidente', poderia desencadear um conflito mundial. Como evitar esse perigo?

Corremos este perigo há quarenta anos, como a crise dos mísseis de Cuba... houve ameaças de 'erro casual'. A estratégia de uma mútua destruição, que manteve o equilíbrio nuclear nos últimos anos, pode ser um risco neste conflito. Noto uma clara resistência política em limitar a intervenção externa nesta guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que não se estende a outros autores. Isto deve ser absolutamente mantido. Claro, enquanto houver uma guerra em andamento, o risco persiste. Por isso, há necessidade de negociações que levem a uma solução. É preciso que a guerra se transforme em um confronto civil, para se chegar uma ordem estável.

O governo ucraniano continua pedindo apoio de outros países pelo envio de armas para defender o país da invasão russa. Neste sentido, a Itália também aceitou aumentar seus gastos militares, que causou divisões políticas. Qual o seu parecer a este respeito?

São coisas diferentes: o apoio aos combatentes ucranianos deve ser dado, dentro de certos limites. A questão do aumento dos gastos militares é um problema político. Quem adere à aliança internacional, tem que aceitar as suas regras. O fato de participar de uma aliança, de forma consciente, implica muitos gastos. Todos nós não gostaríamos que fossem feitos gastos em armamentos, mas a situação é esta.

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09 abril 2022, 08:22