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Obras-primas da polifonia europeia em Castelo de Vide com o ensemble Utopia, de Antuérpia

O Festival Terras sem Sombra apresenta às 21h30 de 31 de Julho na Igreja Matriz de Santa Maria da Devesa, o concerto pelo reputado Utopia Ensemble, que interpreta obras da polifonia europeia. Ao esplendor da Música Antiga, o festival junta as memórias judaicas de Castelo de Vide, revisitadas na acção de património (31 de Julho, 15h), e as deslumbrantes paisagens da Serra de S. Mamede (1 de Agosto, 9h30), com a rica biodiversidade deste território por horizonte.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Devesa, em Castelo de Vide – uma das mais vastas do Sul de Portugal – é o palco perfeito para receber as vozes do Utopia Ensemble, um dos mais destacados grupos vocais da actualidade, com um repertório de peças do século XVI e inícios do século XVII. O projecto tem o epicentro em Antuérpia e inspira-se no célebre livro epónimo de Thomas Morus, com o qual partilha a vocação europeia. Entre outras iniciativas, este premiado ensemble procura trazer à superfície uma visão inovadora do panorama musical, tanto flamengo como internacional, após a Idade Média.

O quinteto é composto por Alice Foccroulle (soprano), Bart Uvyn (contratenor), Adriaan De Koster (tenor), Lieven Termont (barítono) e Guillaume Olry (baixo). Os cantores apresentam-se como tendo “a polifonia flamenga nos seus genes” e partilham, todos eles, a paixão pela Música Antiga. Têm larga experiência na prática da interpretação historicamente fundamentada em reputados ensembles e já se apresentaram em alguns dos mais destacados palcos e festivais internacionais.

Sob o sugestivo título “Porque Vagueias, Alma Minha? Polifonia Europeia do Renascimento e do Maneirismo”, o programa alicia com uma combinação do Canto Gregoriano e obras fundamentais de grandes compositores europeus. Destacam-se, muito justamente, numa terra fronteiriça, as obras do português D. Pedro de Cristo (Tristis est anima mea) e do espanhol Cristóbal de Morales (quatro Lamentatio). Serão interpretadas ainda peças do franco-flamengo Josquin Desprez e do holandês Caspar van Weerbecke.

Património e salvaguarda da biodiversidade

 

Sob o signo da presença judaica em Castelo de Vide, a actividade de salvaguarda de património, a 31 de Julho (15h00), propõe um périplo pelas ruas e monumentos da vila alentejana, tendo como mote “De Volta a Casa: Memórias Judaicas de Castelo de Vide”. A reminiscência colectiva e a paisagem urbana guardam reflexos desses tempos áureos. Conservada com grande cuidado pela comunidade local, a Judiaria apresenta elementos característicos, como as velhas calçadas, a toponímia e a singular arquitectura, de que faz parte a antiga Sinagoga. A actividade, orientada pelo investigador Carolino Tapadejo, terá como ponto de encontro o Posto de Turismo (Praça D. Pedro V).

Para finalizar o programa Terras sem Sombra no concelho de Castelo de Vide, o Festival propõe um olhar à biodiversidade sob o mote “Um Alentejo Diferente: A Serra de S. Mamede”. O encontro está marcado às 9h30 no Coreto do Jardim Grande. Os participantes são convidados a conhecer as singularidades da Serra, numa visita sob a orientação, entre outros peritos, do ornitólogo Gonçalo Elias e do técnico de arqueologia Nuno Félix, grandes conhecedores da área montanhosa, nas suas diversas paisagens histórico-naturais. A serra integra a secção sul da Meseta Ibérica, com o ápice nos 1025 metros de altitude, abriga um microclima com notável coberto vegetal e é casa para inúmeras comunidades de seres vivos, com destaque para as aves de presa. A longa presença humana manifesta-se no excepcional património cultural. Afigura-se uma entrada memorável em Agosto, numa região fecunda de motivos de interesse.

Um festival que revela o melhor do Alentejo

 

O Festival Terras sem Sombra é uma temporada cultural que, em itinerância por diversos concelhos do Alentejo, propõe um programa que abarca a música erudita, o património e a salvaguarda da biodiversidade. As actividades acontecem aos fins-de-semana e são de entrada livre, sujeitas às regras sanitárias em vigor decorrentes da actual situação pandémica.

O próximo destino Terras sem Sombra é Beja (7 e 8 de Agosto). O destaque vai para o concerto do agrupamento checo Musica Florea, que apresenta um programa dedicado à Música do Barroco. A 17.ª temporada do Festival continua em Sines (21 e 22 de Agosto), Ferreira do Alentejo (4 e 5 de Setembro), Viana do Alentejo (11 e 12 de Setembro) e Odemira (18 e 19 de Setembro).

Promovido pela Pedra Angular – associação cultural e científica, sem fins lucrativos, fundada em 1996 –, o Festival é uma iniciativa da sociedade civil que visa dar a conhecer a um público alargado um território, o Alentejo, que sobressai pelos valores ambientais, culturais e paisagísticos e apresenta um dos melhores índices de preservação da Europa. A valorização dos recursos patrimoniais e a sensibilização das comunidades locais para a sua salvaguarda e valorização são, assim, as grandes prioridades do Festival, que é uma estrutura financiada pela Direcção-Geral das Artes.

O Festival Terras sem Sombra é uma estrutura financiada pela Direção-Geral das Artes.

Utopia Ensemble, de Antuérpia
Utopia Ensemble, de Antuérpia

Utopia Ensemble

 

Soprano Alice Foccroulle

Contratenor Bart Uvyn

Tenor Adriaan De Koster

Barítono Lieven Termont

Baixo Guillaume Olry

Programa

 

“Porque Vagueias, Alma Minha? Polifonia Europeia do Renascimento e do Maneirismo”

Josquin Desprez [?-1521] Miserere mei Deus (Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Ms. 10, fls. 158 v.-177, 1525-1530)

Gregoriano Passionarum Toletanum: Daleth (Alcalá de Henares, In officina Arnaldi Guillelmi Brocatii, 1516)

Cristóbal de Morales [1500-1553] Lamentatio: De lamentatione Jeremiæ. Coph (Lamentationi di Morales a quatro, a cinque et a sei voci, Veneza, Antonio Gardano, 1564)

D. Pedro de Cristo [ca. 1550-1618] Tristis est anima mea (Novum et insigne opus musicum, Nuremberga, Montanus et Neuberus, 1559)

Cristóbal de Morales Lamentatio: Zain (Lamentationi di Morales a quatro, a cinque et a sei voci, Veneza, Antonio Gardano, 1564)

Gregoriano Passionarum Toletanum Zain (Alcalá de Henares, In officina Arnaldi Guillelmi Brocatii, 1516)

Cristóbal de Morales Lamentatio: Aleph (Lamentationi di Morales a quatro, a cinque et a sei voci, Veneza, Antonio Gardano, 1564)

Gregoriano Passionarum Toletanum: Et factum est (Pomplutensi, In officina Arnaldi Guillelmi Brocatii, 1516)

Cristóbal de Morales Lamentatio: Et factum est (Lamentationi di Morales a quatro, a cinque et a sei voci, Veneza, Antonio Gardano, 1564)

Gaspar van Weerbeke [ca. 1445-post 1516] Tenebræ factæ sunt (Motetti de passione de cruce de sacramento de beata virgine et huiusmodi, Veneza, Ottaviano Petrucci, 1503)

Josquin Desprez Ave verum corpus (Cantiones triginta selectissimæ, ed. dir. por Clemens Stephani, Nuremberga, Ulrici Neubert, 1568)

Biografia Utopia Ensemble

 

Em 1515, Thomas More começou a escrever, em Antuérpia, Utopia, aí publicada no ano seguinte sob a égide de Erasmo. Nesta obra-prima, procurou apontar soluções para problemas sociais que se revelam, hoje, talvez mais importantes do que nunca. Cerca de cinco séculos decorridos, cinco cantores com larga experiência na prática da interpretação historicamente fundamentada em reputados ensembles (Collegium Vocale Gent, Huelgas Ensemble, Capilla Flamenca, Nederlandse Bachvereniging, Bach Collegium Japan, etc.) uniram esforços para criar um grupo com uma nova sonoridade. Têm a polifonia flamenga nos seus genes e partilham, todos eles, a paixão pela música do século XVI e dos inícios do século XVII. Dedicam também grande atenção à criação contemporânea, privilegiando a versatilidade expressiva. O projecto tem o epicentro em Antuérpia e inspira-se no célebre livro epónimo, cuja vocação europeia partilha. Entre outras iniciativas, procura trazer à superfície uma visão inovadora do panorama musical, tanto flamengo como internacional, na era do Renascimento. Cruza-a com a intervenção em domínios fundamentais para a cultura actual, v.g., o Festival Utopia, realização bianual que associa a música às artes plásticas, ao cinema e à fotografia, sem esquecer conferências e debates sobre temas emergentes do ponto de vista social. A par de uma intensa actividade concertística, já editou dois discos, The Lamentations of Cristóbal de Morales e Luther, the Noble Art of Music (em colaboração com o Inalto Ensemble), que suscitaram grande interesse. É o agrupamento residente da igreja de São Paulo, de Antuérpia. 

Para informações adicionais: terrassemsombra.press@gmail.com

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26 julho 2021, 09:02