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Colômbia, Duque: reforma da polícia e um "departamento para os direitos humanos"

Após as denúncias sobre o uso excessivo da força nos protestos que começaram em 28 de abril passado, o presidente colombiano Duque anuncia uma reforma da polícia com um fortalecimento da política de direitos humanos. A crise, o diálogo e o papel da Igreja no país na entrevista com o especialista latino-americano Bruno Desidera: "Duque teve que admitir que algo deu errado na ação da polícia".

Elvira Ragosta, Silvonei José – Vatican News

Transformação e modernização do Ministério da Defesa e da Polícia Nacional. Foi o que prometeu o presidente Ivan Duque, que neste domingo (06/06) anunciou uma reforma. Enquanto isso, o Comitê Nacional de Greve, formado por sindicatos, organizações da sociedade civil e grupos de estudantes, suspendeu as negociações com o governo, acusando-o de ainda não ter assinado o pré-acordo alcançado no final de maio. A greve nacional que levou milhares de colombianos às ruas desde o final de abril para exigir mudanças na política social e política custou ao país vítimas e feridos. Vinte pessoas morreram, informa o Ministério Público, mas seriam 75 as pessoas que perderam a vida, de acordo com a contagem das organizações sociais.

Várias organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas, condenaram o uso excessivo da força pela polícia para conter os protestos.  Segundo o especialista latino-americano Bruno Desidera, duas considerações emergem do anúncio da Duque: "até mesmo o presidente teve que admitir que nas últimas semanas algo deu errado na ação da polícia e em particular das forças especiais, o chamado Esmad (Esquadrão móvel de choque).  Além disso, o fato de se anunciar um organismo mais atento aos direitos humanos diz de uma preocupação que a Colômbia admite que deve ter. Todavia, é difícil dizer como isto se concretizará, também em relação ao que continua a acontecer no país".

A reforma

O anúncio da reforma pelo presidente Duque ocorreu no dia em que uma delegação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos chegou à Colômbia, e que entre 8 e 10 de junho visitará Bogotá e Cali para verificar a extensão e a responsabilidade das violências durante os confrontos. O projeto de reforma da polícia será apresentado ao Congresso no dia 20 de julho, no início da próxima legislatura, e inclui uma restrição ao comércio, dimensão e uso de armas letais e a criação, dentro da força policial, de um "departamento dos direitos humanos" chefiado por um especialista que não faz parte da polícia. O objetivo de mudança também será perseguido através da mudança do uniforme policial. Os oficiais deixarão de usar seus uniformes verdes militares e vestirão um uniforme azul em conformidade com os padrões internacionais que destacam o caráter civil da instituição.

A situação no país, entre as manifestações e o diálogo

Enquanto isso, as manifestações na Colômbia continuam afetando várias cidades. Neste domingo uma longa manifestação com milhares de pessoas marchou pela capital Bogotá, por ocasião da chegada da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e também nesta ocasião se registraram ações por parte do Esmad. No sábado passado em Cali, epicentro dos protestos, cinco jovens foram mortos a tiros. Em vez disso, o diálogo entre o Comitê Nacional de Greve e o governo estagnou. "Na semana passada - acrescenta Desidera - o Comitê havia solicitado a remoção dos bloqueios de estradas, que foram a causa de muitos confrontos entre manifestantes e policiais; foi criada uma mesa de negociações com o governo, com a facilitação da Conferência Episcopal Colombiana e da ONU, mas neste domingo o Comitê abandonou a mesa unilateralmente devido à falta de assinatura do governo ao acordo preliminar para assegurar uma transição depois dos protestos das últimas semanas. O especialista também lembra o apelo para continuar o diálogo feito neste domingo pelo diretor da Caritas Colômbia, dom Héctor Fabio Henao, representante da Igreja colombiana na mesa de negociações.

A oração de Francisco pela Colômbia

O Papa também tem rezado pela Colômbia nos últimos meses. No Regina Coeli de 9 de maio a preocupação de Francisco pelas tensões e confrontos no país, dirigindo-se aos fiéis colombianos presentes na Praça de São Pedro, ele disse: "Há muitos colombianos aqui, rezemos por sua pátria". Depois, o apelo, na solenidade de Pentecostes, para seguir o caminho do diálogo: "Rezo para que o amado povo colombiano possa acolher os dons do Espírito Santo, para que através de um diálogo sério possam ser encontradas soluções justas para os muitos problemas dos quais sofrem especialmente os mais pobres devido à pandemia".

O papel e o apelo da Igreja local

Os bispos colombianos também têm apelado repetidamente para o diálogo e o confronto. Bruno Desidera também destaca o papel fundamental da Igreja na Colômbia, onde sua voz é muito ouvida, como também é demonstrado com a sua presença, como facilitador, nas negociações entre o governo e o comitê que organiza a greve nacional. "Houve muitos comunicados", explica, "tanto em nível da Conferência Episcopal como dos bispos locais". Os bispos disseram e repetiram que nada é conseguido através da violência, mas também pediram para reconhecer a bondade dos pedidos que vêm da maioria dos manifestantes que saem pacificamente às ruas. Também dos bispos veio a observação de que a repressão policial era, em muitos casos, desproporcional". "Neste contexto - conclui Desidera -, destaca-se em particular o arcebispo de Cali, dom Monsalve, que há semanas não poupa esforços para buscar o diálogo e pedir aos manifestantes que o façam de forma não violenta e ao mesmo tempo denunciando as evidentes desproporções na reação da polícia especial e do exército na cidade de Cali, onde a maioria das vítimas foram registradas”.

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07 junho 2021, 15:41