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Associação Tetezana: uma ponte entre Itália e Madagascar

Andry Rakotomavo é a presidente da Associação Tetezana que na Itália e Madagascar realiza projetos no campo educacional e na formação das crianças. Colaboração e intercâmbio entre os dois países.

Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco irá a Antananarivo, capital de Madagascar, na próxima sexta-feira (06/09), no âmbito de sua 31ª Viagem Apostólica Internacional.

Antananarivo é a maior cidade da ilha, centro econômico e político do país. Lá se encontra a sede da Associação Tetezana, uma ponte entre Itália e Madagascar.

Tetezana foi criada, em Roma, em 2006, por duas jovens malgaxes, cuja presidente é Andry Rakotomavo que vive na Cidade Eterna. Na época, as jovens estudavam em Roma, através de uma bolsa de estudo doada por Propaganda Fide, e moravam no Centro João XXIII. Mandavam uma parte do dinheiro da bolsa de estudo para ajudar amigos e parentes em Madagascar.

“Enquanto estávamos na sala de espera para pegar a bolsa de estudos, eu ouvi a minha amiga que estava no telefone falando não a língua nacional, mas o dialeto. Quando ela terminou de falar, eu lhe disse: sou de Madagascar. O que você faz? Ela me respondeu, dizendo que ajudava o seu país com a bolsa de estudo, e eu lhe disse que eu também e a convidei a fazermos as coisas juntas, não cada uma por conta própria, para alcançarmos algo maior. A parti dali, levamos os nossos amigos, depois os nossos maridos, e fundamos essa associação. De 2006 a hoje, fizemos pequenas coisas, mas para eles lá são coisas grandes. Nasceu assim. Tetezana significa ponte, o nosso desejo de fazer ponte entre Itália e Madagascar. Somos uma diáspora na Itália e não nos esquecemos do nosso país. Ajudamos também as pessoas na Itália que desejam conhecer Madagascar, que querem adotar crianças malgaxes, e quem nasceu aqui e quer aprender a língua malgaxe. O que podemos, fazemos. Construímos sempre ponte: Tetezana.”

Ouça a reportagem com Andry Rakotomavo

“Estamos na capital, Antananarivo, na periferia que se chama Alasora, onde temos a nossa sede que foi financiada pela Organização Internacional para a Migração (OIM) que nos doou dez mil euros para construir a nossa sede. Nela, nós reunimos todas as nossas crianças para fazer atividades depois da aulas. O objetivo é pagar uma professora que dá assistência nos deveres de casa, porque os pais que não estudaram não podem ajudar as crianças. Têm uma professora de referência que explica para as crianças o que elas não entenderam durante as aulas. A maioria das crianças estuda em escola pública e existem classes de até cinquenta crianças. É uma maneira de ajudar as crianças em seus estudos.”

Na Itália, o projeto se realiza sobretudo nas escolas de Roma. Um trabalho de voluntariado realizado, no passado, também em Nápoles. Agora, a associação foi convidada por uma escola, em Milão. 

Madagascar “ocupa os últimos lugares no ranking dos países mais pobres do mundo. Não obstante tenha tantos recursos, eles não são explorados ao máximo. Existem possibilidades para sair da pobreza, mas falta a maneira para fazer isso”, disse Andry, apontando os motivos da pobreza nesse país em que 42% da população passa fome.

“O motivo principal é a divisão entre as pessoas. Por exemplo, a capital está lotada, mas na área rural existe muito espaço, muito terreno que podem ser cultivados para combater a pobreza. Não se fala muito, mas falta água, sobretudo no sul. Existem vários  lugares em que falta água. Muitos dizem: vamos construir poços, ajudar, mas não se constrói onde as pessoas realmente precisam. Para ajudar um país, não basta mandar dinheiro, porque não chega aonde tem de chegar, mas é preciso fazer um trabalho com as pessoas na base. A meu ver, não basta somente mandar ajuda humanitária, mas trabalhar no local, com as crianças, iniciando pela educação”.

Em Madagascar, a fauna e a flora são de riqueza incomparável. O país é considerado um santuário da natureza e berço de espécies endêmicas da ilha. É a quarta maior ilha do mundo. 90% dos lêmures do planeta vivem em Madagascar, junto com metade dos camaleões. Existem 120 variedades de palmeiras, mais de 600 plantas medicinais, 700 de orquídeas e 7 tipos diferentes de baobás.

Uma peculiaridade de Madagascar é sua primazia como produtor de baunilha no mundo, com quase trinta mil hectares de plantações na ilha.

Sobre os recursos naturais de Madagascar, eis o que diz a presidente da Associação Tetezana.

“Em Madagascar, existem minas onde há pedras preciosas, há também petróleo, a fauna e flora endêmicas que existem somente em Madagascar, que poderiam atrair muitos turistas pela biodiversidade que existe em Madagascar. Essas riquezas não são bem exploradas. Quem tem dinheiro terá sempre dinheiro, e quem não tem não terá, porque quem vai a Madagascar para abrir grandes hotéis, grades cadeias de resorts para as pessoas que vem do exterior, não ajuda o país. Elas não conhecem Madagascar, porque estão dentro dessas residências e o que fazem é uma excursão ao redor. Obviamente ajuda quem ganha com isso”.

“Outro exemplo é a baunilha de Madagascar que é importante para a exportação. Não é dado o valor justo da baunilha no exterior, mas, como sempre, explorando as pessoas que trabalham em Madagascar”, ressalta Andry. No fundo, se diz que ajuda, mas isso não é ajuda e não se resolve o problema. Permanece algo superficial. Dão um pouco de dinheiro, fazem publicidade, e depois continuam fazendo o seu mercado. Ao invés, se alguém quer realmente ajudar o país deve construir estruturas importantes como estradas, escolas e hospitais. Espero que a onda de mudança de governo possa mudar o futuro desse país”.

Quais são as suas expectativas para a viagem do Papa Francisco a Madagascar?

“Espero que com esse impacto os malgaxes sejam mais unidos, porque antes existiam divisões políticas e religiosas, e agora essa visita pode nos unir. Antes, nos uníamos com o esporte. Espero que essa visita impulsione a unidade e nos ajude a não ver a diferença de religião, cultura e tribos, mas a nos sentirmos malgaxes e fazer retornar a união que faz a força, no sentido de estarmos todos juntos, sem ver rico, pobre, branco ou negro. Por ser um país multicultural, multiétnico, existe sempre a diversidade, mas não deve ser uma diversidade que divide, mas uma riqueza a fim de enfrentarmos os problemas que temos. Que cada um de nós faça alguma coisa sem esperar que outros façam por nós. Também nós, em nossos ambientes, podemos ajudar na promoção desse país.”

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03 setembro 2019, 14:48