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Padre António Bacelar, Pároco na diocese do Porto (Portugal) Padre António Bacelar, Pároco na diocese do Porto (Portugal) 

“O Sínodo é a grande etapa seguinte depois do Concílio Vaticano II”

O padre António Bacelar é da diocese do Porto e participou na Assembleia Mundial “Párocos pelo Sínodo”. Assinala a importância da experiência do método da conversação no Espírito que se está a aprofundar na Igreja com o Sínodo.

Rui Saraiva – Portugal

Foi a convite da Secretaria Geral do Sínodo que o padre António Bacelar participou na Assembleia Mundial “Párocos pelo Sínodo” que decorreu em Roma de 29 de abril a 2 de maio sobre o tema “Como ser uma Igreja local sinodal em missão”.

Nela participou com grande entusiasmo levando consigo na bagagem a recente experiência como pároco na cidade da Maia, a que se junta uma experiência anterior como pároco das Antas na cidade do Porto, serviço que acumulou durante 8 dos 26 anos em que foi diretor da pastoral universitária na diocese do Porto.

A espiritualidade dos focolares no caminho

Hoje com 63 anos e um acumulado de intenso trabalho pastoral, sobretudo com os jovens universitários, o padre António Bacelar cumpriu nos últimos 9 anos em Roma um serviço de âmbito global como responsável de um dos ramos do Movimento dos Focolares, o dos presbíteros e diáconos permanentes diocesanos que aderem àquela espiritualidade e se afirmam focolarinos. Uma experiência que o levou pelo mundo em serviço de acompanhamento pastoral.

“Esta última década, foram 9 anos, por isso quase 10 anos, foi de um serviço para o qual fui eleito de responsável de um dos ramos do Movimento dos Focolares que é o dos presbíteros e diáconos permanentes diocesanos focolarinos, padres e diáconos diocesanos que aderem à espiritualidade e que fazem dela o seu modo de estar e de ser e de construir a Igreja local. Foi um trabalho com um respiro universal, ainda que o trabalho fosse feito a partir de Roma, estar junto dos colegas e dos irmãos e das realidades que animam foi uma preocupação e também uma possibilidade que me levou aos três continentes fora da Europa exceto a Austrália. Foi sobretudo a partilha de tantas experiências e de tanta diversidade”, refere.

A espiritualidade dos focolares ajudou a fazer caminho e a tentar “perceber aquilo que Deus nos pede”, revela o sacerdote.

“A espiritualidade dos focolares é dita de comunhão, onde a experiência de caminho juntos e de olhar juntos as realidades e perceber aquilo que Deus nos pede acreditando e tentando exprimir a experiência do ressuscitado sempre mais forte no meio de nós, é uma nota característica. E que também nos ajuda, e foi nesse sentido que fui a este encontro em Roma, a pormo-nos numa posição de podermos acolher tudo aquilo que vive na Igreja. Uma característica fundamental da experiência dos focolares é a do diálogo a todos os níveis, não só inter-religioso e ecuménico, com o mundo da cultura, mas também dentro da própria Igreja. Mas ninguém é mestre na comunhão, todos somos aprendizes e discípulos e faz-se no acolhimento da diversidade”, salienta.

Voltar à fonte que é Deus para evitar o clericalismo

Para o padre António Bacelar “não há caminho sinodal, sem a contínua conversão de cada um. Isto é, sem o irmos à fonte e a fonte é Deus”.

“O andamento do Sínodo é o andamento da Igreja, porque a Igreja é Sínodo e o Sínodo é Igreja. Aquilo que partilhei com os colegas que faziam parte do meu grupo é que não à Igreja, não há caminho sinodal, sem a contínua conversão de cada um. Isto é, sem o irmos à fonte e a fonte é Deus. No caminho sinodal toca-se algo, que às vezes pode ficar distante do nosso quotidiano, é que a Igreja é de Deus. E este de Deus não é um ornamento. É aquele que a conduz, que a inspira que a leva. Hoje quando gravamos esta conversa estamos em Solenidade de Pentecostes e o caminho sinodal parece-me que traz este fruto. Eu vejo sempre este reconduzir-nos à fonte e celebrar e construir a Igreja por aquele que de facto a conduz e que é Deus. E isto desdobra-se na história, nas culturas diferentes, nas dificuldades que muitas vezes uma Igreja muito em volta da hierarquia e dos padres, pode constituir uma dificuldade. Quando se fala do clericalismo, fala-se da tentação por parte dos padres, mas também da parte dos leigos. Trata-se de uma conversão de mentalidade de que o Sínodo é um passo muito importante”, sublinha.

A importância da experiência do método sinodal

Da assembleia mundial de párocos, o sacerdote português assinala a partilha de sonhos, de visões e dificuldades, mas sobretudo a experiência do método da conversação no Espírito que se está a aprofundar na Igreja com o Sínodo.

“Poder participar com párocos de todo o mundo, neste contexto do caminho do Sínodo, poder partilhar experiências, partilhar sonhos, visões e dificuldades, foi absolutamente extraordinário. Extraordinária também a experiência do método que se está a desenvolver e aprofundar na Igreja com o Sínodo e de que este encontro foi parte, este método de discernimento usando a conversação no Espírito nos diversos grupos onde o encontro se desenrolou”, assinala.  

O padre António Bacelar, considera que o Relatório de Síntese da primeira sessão do Sínodo é um “documento aberto”, “que interpela” e que “levanta desafios”. E, recordando o discurso do Papa Francisco no cinquentenário da instituição do Sínodo, afirma que o Sínodo é a grande etapa seguinte do Concílio Vaticano II.

“O que me parece importante sublinhar no Sínodo é sublinhar o famoso discurso do Papa Francisco em 2015 no cinquentenário da instituição do Sínodo que merece ser relido também como documento da Comissão Teológica Internacional. Nesse enquadramento parece-me que o Sínodo é o grande passo, a grande etapa seguinte do Concílio Vaticano II. Vejo cada vez mais sobretudo na centralidade do povo de Deus, na Igreja mistério e povo de Deus e, por isso, conduzida por Deus, uma grande sintonia com o Sínodo e com o caminho da Igreja. E penso que seja o Espírito Santo o autor destas sintonias”, declara o sacerdote.

A Assembleia Mundial “Párocos pelo Sínodo” recolheu a reflexão de mais de 200 párocos em ritmo de oração, de escuta e de partilha de experiências. De Portugal, para além do padre António Bacelar, da diocese do Porto, que esteve no encontro a convite da Secretaria Geral do Sínodo, estiveram presentes por indicação da Conferência Episcopal Portuguesa o padre Sérgio Leal, da diocese do Porto e o padre Adelino Guarda da diocese de Leiria-Fátima.

As conclusões desta grande assembleia de párocos de todo o mundo serão contributo relevante para a elaboração do Instrumentum Laboris, o documento de trabalho para a segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos do próximo mês de outubro.

Laudetur Iesus Christus

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23 maio 2024, 09:25