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Santíssima Trindade Santíssima Trindade  (©Renáta Sedmáková - stock.adobe.com)

Dom Vital: A Solenidade da Santíssima Trindade

Nós somos chamados a viver o mistério de Deus Uno e Trino na vida familiar, comunitária e social. Ele é o princípio e o fim de todas as nossas atividades particulares, comunitárias, orações, ações pastorais e sociais.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Nós festejamos a Solenidade da Santíssima Trindade, Deus Uno e Trino, Um só Deus em três Pessoas, Três Pessoas num único Deus. É o mistério dos mistérios. No entanto Ele é dado para nós e para a nossa salvação. Nós o adoramos, o glorificamos, porque Ele realizou infinitas maravilhas para o bem da humanidade. Ele mora em nossos corações e em nossas vidas. A seguir nós daremos uma visão a partir de alguns padres da Igreja, escritores do cristianismo dos primeiros séculos.

As três co-eternas pessoas

São João Damasceno, presbítero nos séculos VII e VIII afirmou que o Pai e o Filho e o Espírito Santo são três co-eternas pessoas nas quais são veneradas, sendo um único Senhor Deus, tendo a unidade da natureza divina de modo que os seres humanos aclamam Majestade divina, Trindade Santa, liberta os seus servos das tribulações[1]. A Santíssima Trindade é amiga do ser humano sendo toda misericórdia.

A fé na Trindade preenche tudo

São João Damasceno disse também que a fé em Deus ao qual nada se opõe, preenche todas as coisas sem ser por nenhuma circunscrita, antes Ele mesmo circunscreve tudo, porque tudo contém e a tudo provê, pois ela penetra todas as substâncias deixando-as intactas além de estar em todas as coisas, transcendente a toda substância, superior a toda coisa, superior pela sua divindade, bondade, plenitude, esta sobre toda a ordem e a todo o poder, mais alto por essência, vida, palavra, inteligência. É o Deus que é a luz mesma, a bondade própria, a vida mesma, não recebendo de nenhum ser nem das coisas que existem, mas antes Ele mesmo é a fonte do ser por tudo aquilo que é, da vida, por tudo aquilo que vive, dá razão por todas as criaturas que fazem uso[2].

Os fieis são chamados a acreditar num só Deus

Ainda segundo São João Damasceno, os fiéis são chamados a acreditar em um só Deus que é causa de todo o bem para todas as coisas, que prevê tudo antes que venha a existir, única divindade, poder, vontade, atividade, reino. O escritor também afirmou em acreditar num único Deus conhecido nas três perfeitas pessoas e venerado com um único ato de culto, objeto de fé e de adoração da parte de toda a criatura racional, de todos os fieis cristãos, e essas pessoas são unidas sem mistura ou sem confusão, sem alguma distância no Pai e no Filho e no Espírito Santo, no nome no qual fomos batizados. Foi desta forma que o Senhor antes de voltar ao Pai pediu para que as pessoas fossem batizadas em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19)[3]

As três divinas pessoas

São Basílio de Cesaréia, bispo no século IV disse que o Pai criou todas as criaturas através o Filho que por sua vez o Filho realiza as obras a semelhança do Pai e o Filho leva as criaturas pela perfeição através o Espírito Santo[4]. De fato os céus foram criados pela Palavra do Senhor e o seu poder pelo sopro da sua boca (cf. Sl 32,6). Tudo isto se tratou da Palavra que era no principio junto a Deus e é Deus (cf. Jo 1,1). O sopro da boca de Deus é o Espírito Santo da verdade que procede do Pai. É o Senhor que ordena, o Verbo que cria, o Espírito que confirma a obra criada[5].

A graça transmitida

Orígenes, padre da Igreja no século III disse que a graça do Espírito Santo de Deus é comunicada a quem é digno , vem transmitida por Cristo e é operada pelo Pai segundo o merecimento daqueles que tornam-se merecedores de recebê-la[6]. Uma e idêntica é a atividade da Trindade: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos” (1 Cor 12,4-7, )[7]. Isto significa em modo claro que na Trindade não existe diferença, pelo fato de que aquilo que é dito do Espírito, vem transmitido mediante o Filho e dado por obra do Pai[8].

A unidade na Trindade

São Gregório de Nissa, bispo no século IV defendeu a unidade na Trindade cuja fé manifesta, diz que Deus é Uno e Trino ao mesmo tempo. O mistério é grandioso, infinito, imutável de modo que o ser humano não possui palavras humanas referentes a darem uma visão de Deus. No entanto a fé cristã leva a dizer que a Trindade está próxima do ser humano da qual ela habita em seu coração. Algumas atitudes são importantes como as do silêncio e amor para vivê-lo intensamente neste mundo. Se as palavras não dizem tudo, Deus permanece o mistério para vida humana e cristã na certeza de que ele deve ser adorado, amado pelos seus discípulos e discípulas e ao mesmo tempo seja proclamado aos povos. A análise dá-se por um tratado dogmático elaborado por Gregório de Nissa contra Ablábio[9], um eclesiástico para que assim não se falasse de três deuses[10], mas de um único Deus em três Pessoas.

Unidade na Trindade

Tertuliano, padre africano no segundo e no terceiro séculos, afirmou a unidade na trindade. Ele se opôs à Praxeas, o qual afirmava que o sofrimento não foi dado para o Filho, mas para o Pai, uma vez que para ele se o Pai está no Filho e o Filho está no Pai, quem sofreu foi o Pai e não o Filho. Tertuliano disse que a paixão foi assumida pela segunda pessoa, Jesus Cristo. Por isso, o autor africano afirmou a unidade em Deus, a qual é dada em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. É a unidade na substância, de modo que há um só Deus, mas não uma única Pessoa, no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Tertuliano afirmou que as três Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo não podem ser vistas na condição, mas em grau; não em substância, mas em forma; não em poder, mas em aspecto, em uma substância, uma condição e um poder, enquanto que Ele é um Deus, de onde estes graus, formas e aspectos são reconhecidos, sob o nome de Pai, Filho e Espírito Santo[11].

Nós somos chamados a viver o mistério de Deus Uno e Trino na vida familiar, comunitária e social. Ele é o princípio e o fim de todas as nossas atividades particulares, comunitárias, orações, ações pastorais e sociais. A nossa solidariedade é dada para com todas as pessoas que perderam tudo com as chuvas no Sul do Pais. Nós percebemos a ajuda de milhares de pessoas que estão possibilitando vida aos sofredores e às sofredoras. O Deus Uno e Trino abençoe a todas as pessoas e sobretudo aquelas mais pobres, aquelas que mais precisam de nossas ajudas.

 

[1] Cfr. Giovanni Damasceno, Ochtoêtcos, VIII. In: Ogni Giorno con i Padri della Chiesa. A cura di Giovanna della Croce. Presentazione di Enzo Banchi. Paoline, Milano, 1996. Pg. 182.  

[2] Cfr. Idem. Esposizione della fede ortodossa, 1,8. In: La teologia dei padri, v. 1. Città Nuova Editrice, Roma, 1981, pg. 37.

[3] Cfr. Idem, pgs. 37-38.

[4] Cfr. Basilio di Cesarea, Lo Spirito Santo 16,38. In: Ogni Giorno con i Padri della Chiesa. Idem, pg. 180.

[5] Cfr. Ibidem, pg. 180.

[6] Cfr. Origene, I principi 1,3,7. In: Ibidem, pg. 181.

[7] Cfr. Idem, Ibidem, pg. 181.

[8] Cfr. Idem, Ibidem, 181.

[9]Cfr. Opere di Gregorio di Nissa. A cura di Claudio Moreschini. Torino, Unione Tipografico-Editrice Torinese(UTET), 1992, pp. 521-538.

[10] Cfr. J. Quasten. J. Patrologia, I Padri greci(secoli IV-V). Casale, Marietti, 1980, p. 262.

[11]Cfr. Contro Prassea, 2. CCL 2. Ver também: e-cristianismo.com.br/.../tertuliano-contra-praxeas.html?start=2. 

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24 maio 2024, 17:25