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Padre Leszek Kryża na Ucrânia Padre Leszek Kryża na Ucrânia  (@Leszek.Kryża)

Pe. Kryża, sacerdote polonês em missão na Ucrânia

“Estávamos no bunker com o padre Luca Bovio, secretário das Pontifícias Obras Missionárias na Polônia. Ambos tínham Terços no bolso e um dos soldados pediu um. Também o segundo quis e recebeu. Vendo isso, seu companheiro lhe perguntou: 'Mas tu acreditas?'. E ele respondeu: 'Não há não-crentes na guerra'. Então ele mostrou ao amigo o Terço e pediu-lhe: 'Agora ensina-me a rezar'". Em meio à tragédia da guerra, “esta é talvez para mim a coisa mais preciosa", diz o sacerdote na entrevista ao VN.

Beata Zajączkowska – Cidade do Vaticano

“A gratidão que recebemos na Ucrânia motiva-me a ajudar ainda mais e melhor.” Desde o início da guerra em grande escala na Ucrânia, padre Leszek Kryża, sacerdote polonês, viajou 22 vezes ao "martirizado". A equipe de Ajuda à Igreja do Leste da Conferência Episcopal Polonesa, por ele dirigida, destinou mais de 3 milhões de zlotys e organizou 53 transportes de ajuda humanitária. Estima-se que os alimentos, medicamentos, geradores de energia e aquecedores ajudaram vários milhares de pessoas a sobreviver durante este período.

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“Os moradores estão lentamente regressando às áreas libertadas dos russos. Num dos povoados, há um sacerdote, mas a igreja foi destruída.  Estamos ajudando a comprar um contêiner que possa servir como local de oração, algo que pedem com insist~encia”, contou padre Kryża à Rádio Vaticano – Vaticano News. E confessa que antes só sabia da guerra pelas histórias do seu pai e dos seus tios que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial. Agora ele se depara com uma realidade muito concreta.

“Estive em lugares onde explodiam bombas, caíam foguetes, onde as pessoas viviam nas ruínas, em porões, onde fugiam de uma casa em chamas. Eu mesmo tive que me retirar do fogo mais de uma vez. Essas situações mudam as pessoas e mostram que a guerra não é uma teoria ou uma ‘guerra nas estrelas’, mas uma realidade devastadora”, afirma o sacerdote. Ele se lrecorda dos povados fantasmas ao redor de Kherson, onde apenas cães vagavam: “Ver isso foi absolutamente deprimente”, diz ele, que também recorda uma viagem a um povoado às margens do rio Dnipro, cujos habitantes não tinham o que comer há vários meses e não havia água potável: “Apesar das nossas melhores intenções, não pudemos ajudá-los, porque os russos intensificaram os seus bombardeamentos. e tornou-se impossível alcançá-los."

As mensagens das crianças italianas levadas pelo sacerdote aos pequenos ucranianos
As mensagens das crianças italianas levadas pelo sacerdote aos pequenos ucranianos

Não há não-crentes nas trincheiras

 

Padre Leszek, com as ajudas, também chegou à linha de frente: “Estávamos no bunker com o padre Luca Bovio, secretário das Pontifícias Obras Missionárias na Polônia. Ambos tínhamos Terços no bolso e um dos soldados pediu um. Também o segundo quis e recebeu. Vendo isso, seu companheiro lhe perguntou: 'Mas tu acreditas?'. E ele respondeu: 'Não há não-crentes na guerra'. Então ele mostrou ao amigo o Terço e pediu-lhe: 'Agora ensina-me a rezar'". Precisamente estes tipos de encontros, segundo o sacerdote, permitem viver a guerra de um lado diferente, fazem com que em tudo isto comecemos a ver uma pessoa com toda a tragédia da guerra: “Esta é talvez para mim a coisa mais preciosa".

O sacerdote missionário sublinha que a enorme gratidão que recebe na Ucrânia o motiva a ajudar ainda mais e melhor: “Ao ajudar, sinto-me grato por poder ajudar”. Onde quer que fosse com seu grupo, sempre ouvia palavras como: "Por favor, agradeça aos poloneses. Que bom que vocês estão aqui e ainda se lembram de nós." Em particular, ele recorda o encontro com uma senhora idosa numa aldeia remota onde quase ninguém aparecia: “Quando lhe demos um pacote com o brasão polonês, ela perguntou-nos com espanto: de onde veio este pacote? Quando respondi a ela que vinha da Polônia, sussurrou-me emocionada: 'A Polônia se lembra de mim'".

Refugiados para refugiados

 

Mesmo antes da ocupação do Donbass pelos russos em 2014, padre Kryża havia visitado a cidade onde trabalhavam os sacerdotes da Sociedade de Cristo, Congregação à qual pertence. Fizeram amizades, o que com o tempo se revelou providencial.

“Quando os primeiros refugiados começaram a chegar à Polônia, comecei a organizar ajuda para eles. A saudade deles de casa era evidente no fato de terem participado na oração on-line conduzida pelo seu pároco em Donetsk. Quando começou a guerra em larga escala, imediatamente se uniram para juntos para ajudar seus compatriotas”, explica. Todos ajudaram de coração aberto, porque eles próprios sabiam como era a situação lá. Eles sabiam o que são as explosões, o que acontece no coração quando você tem que fugir, quando você está em um refúgio e não sabe o que o espera. “Começamos a rezar juntos e isso levou a outras iniciativas de apoio que continuam até hoje”, sublinha o sacerdote.

Padre Kryża na Ucrânia
Padre Kryża na Ucrânia

A solidariedade das crianças italianas para com os seus pares ucranianos

 

Além disso, ele conta que desde o início da guerra as atividades da equipe têm se concentrado no atendimento a crianças e idosos. Recentemente, ele conseguiu levar pacotes preparados por seus pares italianos para os pequeninos de Kherson. Isto foi possível graças ao empenho de padre Luca Bovio, que desde o início esteve ativamente comprometido com a ajuda à Ucrânia devastada pela guerra: “Vivemos momentos lindos, as crianças ficaram emocionadas”.

Os pacotes continham doces, cadernos, lápis, giz de cera e outros pequenos presentes. Cada pacote era acompanhado de uma carta da criança oferecendo o presente. "As crianças ucranianas ficaram entusiasmadas com isso. Nestas cartas estava escrito, em primeiro lugar, que as crianças italianas se recordam das crianças ucranianas que estão passando por um período difícil neste momento, que lamentam não poder frequentar uma escola normal, que eles não podem brincar como as crianças na Itália. Eles também escreveram que esperavam que este pequeno presente da Itália fosse um sinal para eles, que não estão sozinhos, que há alguém que se lembra deles e reza por eles, os apoia", relata com emoção padre Kryża.

Ele também fala da incrível reação espontânea das crianças ucranianas: “Elas não apenas decidiram pegar os pacotes e usufruir de seu conteúdo, mas no mesmo dia sentaram-se e cada um escreveu uma cartinha para a pessoa de quem recebeu o pacote. Foi muito agradável e bonito".

Esta é a nossa guerra também

 

“Não podemos ‘colocar em um canto’ a guerra na Ucrânia e dizer que não estamos interessados ​​na situação do povo daquele país. Esta é também a nossa guerra e deve preocupar-nos continuamente”, continua o sacerdote polonês. “Temos o direito de estar cansados, mas isso não nos livra da obrigação de ajudar. O apoio oferecido muitas vezes é como as migalhas da viúva do Evangelho, que transforma o desespero em esperança. Certa vez, uma senhora idosa ligou para o nosso escritório, dizendo que tinha uma pensão muito baixa, que estava gravemente doente, acamada e que não tinha realmente condições de nos ajudar materialmente, porque mal tinha dinheiro para os medicamentos, mas garantiu: rezo o Rosário por vocês todos os dias, rezo para que nada aconteça com vocês quando vocês vão levar ajudas. E agradeço a Deus pelo que vocês fazem. Para mim foi algo incrível." Esta oração, segundo o missionário, sustenta o mundo.

Por fim, padre Leszek destaca que para os ucranianos que vivem a guerra, a presença de pessoas que chegam até eles é de grande importância. Isto faz nascer a esperança, permite-lhes experimentar que não estão sozinhos: “Penso que os que mais levam esperança são os que estiveram ou ficam com eles. Penso nos padres e nas freiras. Para essas pessoas é um ponto de interrogação: por que permaneceram conosco, quais as suas motivações? E chegam à profunda conclusão de que deve haver algo mais em tudo isso. Ou melhor, Alguém mais. Isso levanta questões sobre Deus e o sentido da vida nestes tempos sombrios." Neste sentido, o religioso vê um sinal de esperança no pedido dos habitantes de uma das aldeias próximas de Mykolaiv para os ajudar a criar um lugar de oração e celebração diária da Eucaristia, dado que na igreja destruída pelos russos é atualmente impossível até mesmo entrar lá.

Don Leszek Kryża na alfaiataria dirigida por mulheres ucranianas
Don Leszek Kryża na alfaiataria dirigida por mulheres ucranianas

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18 fevereiro 2024, 09:48