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Campanha da Fraternidade convoca para exercício da Amizade Social

Dom Jaime Spengler pediu que todos assumam com força a vivência e o compromisso com a Amizade social para “que a quaresma nos ajude a sermos operários da reconciliação, da boa convivência, do desenvolvimento humano e da construção de uma sociedade solidária”.

*Por Elton Bozzetto e Pe. Gerson Schmidt 

O salão de eventos do Mensageiro da Caridade ficou repleto de agentes da caridade, sacerdotes, diáconos e lideranças de entidades na quarta-feira de cinzas, em sintonia com a abertura nacional da Campanha e mensagem do Papa. A entidade acolheu a todos para o lançamento oficial na Arquidiocese de Porto Alegre da Campanha da Fraternidade de 2024, que tem como tema “Fraternidade e Amizade Social” e como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”(Mt 23,8). A iniciativa está em sintonia com a orientação do Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti - donde é tirado o conceito de Amizade Social - para superar a cultura do ódio, dos antagonismos, dos preconceitos, da exclusão, das bipolarizações e do desrespeito à dignidade de cada filho e filha de Deus, no cuidado da grande Casa Comum, proposta apontada na Encíclica Laudato Si. 

O Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, saudou a iniciativa da Igreja do Brasil que convoca a promover uma sociedade de irmãos. Lembrou incialmente palavras de Bento XVI àqueles que pensam que a Campanha da Fraternidade na quaresma destoa do verdadeiro espírito penitencial, quando o Papa alertava da tentação de transformar o Cristianismo em moralismo. “Precisamos imediatamente de reconciliação. Quando a evangelização prescinde da dimensão social, a encarnação de Cristo passa a ser fictícia. A Campanha da Fraternidade faz a quaresma ter sintonia com a medula do Evangelho", afirmou Spengler.

Foto: jornalista Marcos Koboldt, Ascom da Arquidiocese de Porto Alegre
Foto: jornalista Marcos Koboldt, Ascom da Arquidiocese de Porto Alegre

Para o bispo Auxiliar de Porto Alegre, Dom Odair Gonsalves, todo o cristão deve ser um canal de reconciliação, aproximação e superação das divisões que existem nas comunidades e na sociedade. Disse que o Papa Francisco nos desafia a ir além do nosso pequeno grupo de amigos, procurando “iniciativas de comunhão, cultura do encontro, conscientização de cada um na construção de pontes, superando divisões e polarizações”. O prelado afirmou ainda que a “nossa vocação é formar comunidade de irmãos que se acolhem nas diferenças, nos erros e nos conflitos”. Ele acrescentou que é compromisso de todos os católicos nesta quaresma promover a cultura do encontro e da proximidade, rompendo com todas as formas de individualismo.

O ex-Chefe do Ministério Público do Estado do RS, Dr. Afonso Konzen, foi um dos painelistas do evento. Ele destacou que todos devem tomar consciência que a fraternidade deve ser o fundamento da convivência humana e que a palavra “amor” só tem sentido na relação com os outros – dimensão de alteridade. “O grande desafio da Amizade social é conectar pessoas com o bem comum. A primeira exigência é aprender a conviver, isso significa respeitar a condição, a compreensão e as opções do outro”. A Campanha deste ano desafia a alargar a tenda para uma solidariedade aos filhos do mesmo Pai, numa Fraternidade Universal, construída por São Francisco de Assis, inspiração do Papa para seu Pontificado.  

Foto: jornalista Marcos Koboldt, Ascom da Arquidiocese de Porto Alegre
Foto: jornalista Marcos Koboldt, Ascom da Arquidiocese de Porto Alegre

Urge descobrir e tirar a coberta do rosto fragilizado e abatido de nosso irmão, integrando-o na mesma família. Resgatar a liturgia do rosto de cada um, que é o “lugar da visibilidade de nossa individualidade”, como disse o jurista Konzen. Afirmou que a convivência é uma competência a ser aprendida e desenvolvida para que tenhamos uma sociedade humanizada. “Ser irmão não nos dá o direito de rejeitar, de explorar, de condenar, de desrespeitar. Ser irmão impõe a exigência e aprender a conviver. Isso significa ouvir a outra pessoa, acolher, proteger, promover, integrar e ajudar a se desenvolver”. Para o jurista promotor da justiça restaurativa, "cada dificuldade deve ser identificada como uma oportunidade de aprender". “O problema é que naturalizamos a ação e poder julgar e condenar, mas é preciso considerar que há no rosto do pobre, do preso, do migrante, do morador de rua, algo que nos solicita, interpela e chama. O outro não é conceito, mas uma pessoa". 

Para o gerente socioeducativo da Fundação Pão dos Pobres e painelista do evento, João Rocha, a amizade social deve ser compreendida como a capacidade de entender e estar próximo do outro. O desafio do tema deste ano é agir para conectar pessoas para que se possa promover o bem comum. “Isso é muito exigente: requer o empenho de cada um de nós para tornar o amor uma força operativa”, disse. 

Ao declarar aberta oficialmente a Campanha da Fraternidade, Dom Jaime Spengler pediu que todos assumam com força a vivência e o compromisso com a Amizade social para “que a quaresma nos ajude a sermos operários da reconciliação, da boa convivência, do desenvolvimento humano e da construção de uma sociedade solidária”.

*Pe. Gerson Schmidt, sacerdote, jornalista, Mestre em Comunicação, assessor da Rádio Vaticano / Elton Bozzetto, jornalista, radialista, filósofo, teólogo e relações públicas, titulado Cidadão de Porto Alegre 

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21 fevereiro 2024, 09:13