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Refugiados em Mianmar Refugiados em Mianmar 

Mianmar: missionários abandonam diocese para viver em campos de refugiados

Religiosas, religiosos, sacerdotes, catequistas e leigos deixaram mais de 35 paroquias em Mianmar para viverem na floresta em campos de refugiados. Verdadeiro testemunho de Igreja em saída.

Rosa Martins - Vatican News

Mais da metade da diocese de Loikaw, no Estado de Kayah, em Mianmar está deserta. Para estar perto das pessoas e compartilhar com elas as dificuldades e os sofrimentos da vida cotidiana, religiosos, religiosas, padres e catequistas deixaram mais de 35 paróquias. Eles se mudaram, por longos períodos ou, às vezes, permanentemente, para lugares precários, barracos, cabanas ou tendas onde vivem os deslocados.  A missa dominical é celebrada ao ar livre ou em capelas simples de madeira construídas pelos fiéis. As pessoas estão assustadas e traumatizadas.

Os dois anos de guerra civil, que se intensificam gradualmente em Mianmar, têm mudado gradativamente a maneira de religiosas, religiosos, sacerdotes, catequistas e agentes pastorais fazerem pastoral, de maneira particular, nas áreas mais afetadas pelo confronto entre o exército e os grupos rebeldes das Forças de Defesa do Povo. Nas áreas fronteiriças de Mianmar, os rebeldes se fundiram com as milícias étnicas.

A situação social se caracteriza pela presença de fluxos maciços de deslocados internos: pessoas forçadas a deixar suas casas para encontrar refúgio nas florestas, longe da violência, onde começaram a se sustentar com dificuldade. Famílias que procuram abrigo em campos de refugiados improvisados - montados da melhor forma possível, às vezes até por paróquias católicas.

O sacerdote da diocese de Loikaw, padre Paul, explica que o bispo não está sozinho.  Os padres da diocese percorrem caminhos muitas vezes difíceis e viajam por áreas muito perigosas onde os combates continuam. “As pessoas precisam de nossa presença e incentivo em tempos de medo e incerteza. Há mais de 20 campos de deslocados internos na área de uma única paróquia”.

Campo de deslocados
Campo de deslocados

“Esperamos e oramos para que o povo deste país possa voltar a viver em paz, com dignidade humana e em verdadeira liberdade. Oramos todos os dias pela restauração da paz e da justiça no país, pela reconciliação e conversão de nosso povo”, diz o bispo da diocese de Loikaw, dom Celso Ba Shwe.

Uma missão com riscos

Ainda de acordo com padre Paul, os sacerdotes, homens consagrados, catequistas, agentes pastorais e da Caritas “caminham no fio da navalha porque, ao dar conforto espiritual e levar ajuda humanitária aos deslocados, podem ser falsamente acusados pelos militares de apoiar a resistência e, assim, detidos e colocados na prisão” conta.

Campo de deslocados - benção
Campo de deslocados - benção

Igreja em saída

Desde o início do conflito, a Igreja de Loikaw tem se engajado no trabalho humanitário, mesmo em condições precárias: se a linha de frente dos combates muda, as pessoas deslocadas geralmente precisam se mudar. Nessas circunstâncias, a infraestrutura para moradia, abastecimento de água, alimentação e tentativas de organizar escolas são um desafio constante. A Igreja local, também graças à ajuda estrangeira, organizou clínicas móveis, planos de ajuda emergencial e programas educacionais para crianças, adolescentes e jovens que não frequentam a escola regularmente há quase dois anos, sempre com o objetivo de “ficar ao lado das pessoas”.

A guerra em Mianmar

As notícias dos últimos dias confirmam a crescente violência contra os civis. Em um ataque aéreo lançado pelo exército em 7 de janeiro, na parte ocidental do país, 17 civis, incluindo crianças, foram mortos e mais de 30 pessoas ficaram feridas.

A ofensiva ocorreu na cidade de Kanan, entre Khampat e Boukkan, no distrito de Tamu, território da diocese católica de Kalay. Mais de dez casas foram destruídas, além de uma escola e uma igreja. Neste contexto, cresce o número de pessoas deslocadas internamente, todos civis, especialmente idosos, mulheres e crianças, que, no total, ultrapassam 2,5 milhões no país.

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11 janeiro 2024, 11:16