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Dom Oriolo: Espiritualidade digital, um olhar além das telas

A era digital vem proporcionando uma revolução, em muitos aspectos, de nossas vidas e a espiritualidade não fica de fora. Papa Francisco já reconheceu que o mundo digital já é espiritual.

Dom Edson Oriolo - Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

Nos dias atuais, falamos muito sobre espiritualidade. Esse termo vem de espírito, “animus”. Na Bíblia, “espírito” é vida, movimento, energia, sopro, ardor. É impulso que nos leva à ação, vem de dentro de nós e nos leva a viver cada momento da vida, desafios e conquistas, à luz da fé cristã. É dar a tudo o que é humano uma dimensão divina.

Espiritualidade cristã é a capacidade de vivermos a vida segundo o Espírito, de nos relacionarmos com o transcendente; é o humano conectado com divino. O Catecismo da Igreja Católica ensina que “o desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso” (n. 27).

Na exortação Gaudete et Exsultate, sobre a santidade, Papa Francisco afirma:  “(...) oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida. Deixa-te transformar, deixa-te renovar pelo Espírito para que isso seja possível, e assim a tua preciosa missão não fracassará” (n. 24).

É preciso cultivar essa vida no Espírito, sentir-se habitado pela presença amorosa de Deus. São muitas as oportunidades que nos são oferecidas para alimentar a espiritualidade, a fim de não perdermos o entusiasmo por nossa vocação e missão.

Desde o tempo em que era sacerdote, tive o privilégio de orientar retiros espirituais para congregações religiosas, masculinas e femininas, sacerdotes, e, atualmente, como bispo diocesano continuo pregando retiros espirituais para cleros de várias arquidioceses e dioceses de nosso Brasil.

Durantes os retiros espirituais, apresento alguns pontos de oração para ajudar os retirantes a fazerem uma experiência cristã de Deus. Num determinado momento, com presbíteros, faço uma divisão por gerações (anos ordenados) e convido a partilharem: como vivem o dia a dia do ministério, como rezam, suas devoções, a vida corrida no Dia do Senhor, a Liturgia das Horas, as celebrações dos sacramentos e sacramentais, a religiosidade e as dificuldades da vida de oração. Uma coisa surpreendente é que cada geração se manifesta de forma totalmente diferente da outra.

Os sacerdotes das gerações baby boomers (ordenados entre 1946-1964), da geração X (ordenados entre 1965-1980), da geração Y (ordenados entre 1981 e 1996), da geração Z (ordenados entre 1997 e 2010), da geração écrans virtuais (ordenados a partir de 2010) apresentam várias formas de vivência da espiritualidade que sustenta seu ministério ou consagração. Os mais vividos falam da reza do terço, dos devocionários, da Bíblia, dos livros de novenas e de outros meios que os colocam em ligação com o transcendente. Os mais novos falam do smartphone, dos aplicativos, dos blogs, onde encontram meios para se deixarem guiar pelo Espírito, nas diversas circunstâncias da vida. Há uma riqueza enorme de exercícios, instrumentos e meios que sustentam a vida interior, entendendo o sacerdócio ou consagração no aspecto ontológico e funcional. Cada geração conecta com o transcendente à sua maneira.

A era digital vem proporcionando uma revolução, em muitos aspectos, de nossas vidas e a espiritualidade não fica de fora. Papa Francisco já reconheceu que o mundo digital já é espiritual. O mundo digital, mesmo com sua ambivalência, vem trazendo um verdadeiro conforto para os que acreditam que podem encontrar nele modos de estar em comunhão com Deus.

As plataformas de mídia social, os blogs, os vídeos de mensagens, os podcasts e os canais de vídeo vêm se tornando os novos templos e espaços sagrados nos quais as pessoas estão buscando orientação e conexão espiritual. Há uma transformação, impactando a espiritualidade dos que buscam vida interior e a comunhão com Deus. Segundo um estudo do instituto Reveiw of Religious Research, feito com jovens entre 18 e 35 anos da América do Norte, cerca de 35% dos jovens consomem algum tipo de conteúdo religioso online.

Porém, mesmo sabendo que a espiritualidade digital vem ganhando espaço em nosso tempo para ajudar na comunhão com Deus, isto é, na amizade e harmonia com Ele, não podemos esquecer que o compromisso com a comunidade paroquial e eclesial faz-se necessário na vida das pessoas. Nunca podemos perder o vínculo de comunhão e, principalmente, temos que servir, reverenciar e louvar a Deus nas pessoas de nossos irmãos de maneira presencial e não somente de maneira digital.

O segredo de usar bem os meios digitais é deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus e beber sempre desse poço para realizar a missão sempre com novo ardor, com entusiasmo, contagiando os outros. Mais do que com palavras, é com o testemunho de seguidor primeiro do Mestre Jesus, o Bom Pastor que dá a vida pelo seu rebanho, que usamos os meios digitais. Ser um apaixonado por Jesus Cristo, pelas Sagradas Escrituras, por Nossa Senhora e pela Igreja faz com que a busca e o compartilhamento nas redes sejam fruto de uma consciência plena e profunda – perceptível pelos fiéis – de que o material, a técnica e tudo o que a modernidade oferece deve estar a serviço do transcendente, do espiritual, do invisível, para que “Cristo seja tudo em todos” (Cl 3,11).

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13 janeiro 2024, 13:07