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Cristã paquistanesa em protesto contra a violência Cristã paquistanesa em protesto contra a violência  (ANSA)

“Masihi” e não mais "Esai", o histórico reconhecimento para os cristãos do Paquistão

o termo “esai”, historicamente utilizado para identificar os cristãos no Paquistão, trazia consigo uma conotação depreciativa, derivada da antiga discriminação de castas. O termo usado, pela primeira vez, durante o período colonial, referia-se, sobretudo, às pessoas que trabalhavam na limpeza das ruas e em outros serviços prestados por castas inferiores.

Por Paulo Affato

“Os cristãos paquistaneses são “Masihi”, ou seja, o Povo do Messias”: assim serão definidos, a partir de agora, com esta expressão, em documentos oficiais e discursos do governo e das instituições civis.

Esta decisão foi estabelecida pelo Supremo Tribunal do Paquistão de impor a substituição, para os cidadãos paquistaneses de fé cristã, do termo “Esai”, palavra árabe utilizada no Alcorão para definir Jesus.

O Padre Qaiser Feroz, franciscano, secretário executivo da Comissão para as Comunicações da Conferência Episcopal do Paquistão, declarou ao jornal vaticano “L’Osservatore Romano”: “Trata-se de uma decisão histórica, porque assim as instituições darão, finalmente, um passo significativo no reconhecimento da identidade cultural e religiosa das comunidades cristãs. Seremos chamados como a Bíblia nos define, com as palavras certas, que comprovam a nossa fé”.

Esta decisão do Supremo Tribunal foi tomada ao término de um recurso, apresentado por alguns cristãos da província de Khyber Pakhtunkhwa, no norte do país, mas com efeito em todo o território nacional.

Por isso, o Padre Qaiser Feroz explica: “Esperávamos esta mudança há muito tempo. Os fiéis de todas as denominações trabalharam muito para a sua realização. Isso é importante para que os direitos e dignidade das minorias cristãs sejam respeitados, mas indica também o compromisso das instituições de praticar, concretamente, os princípios de igualdade sancionados pela Constituição”.

De fato, o termo “esai”, historicamente utilizado para identificar os cristãos no Paquistão, trazia consigo uma conotação depreciativa, derivada da antiga discriminação de castas. O termo usado, pela primeira vez, durante o período colonial, referia-se, sobretudo, às pessoas que trabalhavam na limpeza das ruas e em outros serviços prestados por castas inferiores.

Por outro lado, o termo “churha”, que também tem a mesma conotação e expressa hostilidade e repugnância, é traduzido, oficialmente, como “varredor de rua”, uma palavra que indicava uma casta dos Dálits, os “intocáveis”. No decorrer dos anos, este termo manteve um significado negativo e era usado como um insulto aos cristãos, independentemente da sua profissão: tais abusos verbais, com impacto emocional e psicológico, muitas vezes, começam já nas salas de aula, com graves consequências para a confiança e autoestima das crianças paquistanesas de fé cristã.

Este termo está ligado ainda a uma prática social: no Paquistão, estima-se que 80 por cento dos agentes, que atuam no âmbito da ecologia ou são pessoas que limpam as ruas e os esgotos (pessoas sem instrução e os últimos da camada social), são cristãos. Estes são tratados também como párias ou “intocáveis”, pessoas que, geralmente, evitam dar a mão, fazer amizades e até comer ou beber com eles.

Enfim, a decisão do Supremo Tribunal do Paquistão, que contou com a aprovação do Conselho de Ideologia Islâmica (outro aspecto significativo), abre uma brecha para minar esta mentalidade discriminatória. De consequência, com base na diretiva, a Comissão Eleitoral do Paquistão começou a eliminar palavra “esai” dos formulários de recenseamento eleitoral, substituindo-o por “Masihi”, abrindo o caminho para que outros departamentos governamentais fizessem o mesmo.

Os líderes da comunidade cristã acolheram esta decisão com satisfação e gratidão, considerando-a um esforço para a promoção de uma coexistência harmoniosa na sociedade. Para a Comissão Nacional dos Direitos Humanos esta é “uma importante vitória para acabar com a discriminação religiosa”. Segundo a ONG, The Edge Foundation, “este é um passo rumo à unidade, porque a mudança deste termo expressa um compromisso para a mudança de mentalidades, no respeito do rico mosaico de culturas e crenças do Paquistão”. Por sua vez, a “Bargad”, a maior ONG muçulmana para o desenvolvimento da juventude muçulmana do Paquistão, também criou um programa para ensinar palavras alternativas, convidando seus membros a chamar os cristãos de “Masihi”, que tem uma conotação positiva e respeitosa.

*Agência Fides

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20 novembro 2023, 07:03