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Menino indonésio mostra crucifixo em Serpong, próximo a Jacarta Menino indonésio mostra crucifixo em Serpong, próximo a Jacarta  (AFP or licensors)

Qual é o nome de Jesus em indonésio?

Por determinação do governo da Indonésia, a partir de 2024, tanto em documentos quanto em discursos, as instituições públicas usarão o termo “Yesus Kristus”, que os batizados indonésios, de todas as denominações, usam em suas orações e liturgias.

O governo indonésio não irá mais se referir a Jesus Cristo e às festividades cristãs com a expressão na língua bahasa, a língua nacional da Indonésia, “Isa Al-Masih”, palavra de origem árabe, colocando assim um fim à prática, em voga há décadas, de utilizar o termo habitualmente utilizado pelos crentes da religião islâmica, que se inspiram na terminologia árabe do Alcorão.

Assim, a partir de 2024,  tanto em documentos quanto em discursos, as instituições públicas usarão o termo “Yesus Kristus”, que os batizados indonésios, de todas as denominações, usam em suas orações e liturgias. Por exemplo, a Sexta-feira Santa era definida em documentos oficiais estatais como "Wafatnya Isa Al-Masih", enquanto a Ascensão de Cristo era "Kenaikan Isa Al-Masih".

“Haverá uma mudança na nomenclatura, no que diz respeito aos nomes das festividades, conforme proposto pelo ministro para os Assuntos Religiosos”, explicou nestes dias o ministro coordenador para o Desenvolvimento Humano e a Cultura, Muhadjir Effendy, informando que “o nome Isa Al-Masih será alterado para Yesus Kristus.” O vice-ministro para os Assuntos Religiosos, Saiful Rahmat, especificou que a mudança foi solicitada por representantes dos cristãos indonésios.

A medida gerou reações e opiniões contraditórias na opinião pública, bem como nos meios de comunicação social indonésios. Segundo alguns cristãos, é a decisão acertada porque, nas liturgias cristãs, a palavra “Isa Al-Masih” nunca é usada, mas sim “Yesus Kristus”. Segundo outros, a mudança não era necessária porque “as pessoas já sabem que dizer Isa Al masih se refere a Jesus Cristo, e o nome é intercambiável”.

De qualquer forma, com a medida não se registrou nenhum tipo de tensão nas relações islâmico-cristãs no país asiático, dada a natureza do “Islã Nusantara”, ou Islã Indonésio, que se difundiu e enraizou no arquipélago graças à pregação dos mercadores e sem qualquer violência, a partir do século XIII dC. Não foram criados, nem no passado nem no presente, problemas de semântica religiosa. No passado foi levantada a questão relativa à possibilidade para os muçulmanos - se era certo ou não a nível da sua fé - desejar aos cristãos "Feliz Natal". No final, os próprios líderes muçulmanos concordaram, na ótica de uma pura partilha de sentimentos religiosos.

Na língua bahasa, língua nacional da Indonésia, muçulmanos e cristãos utilizam habitualmente o termo árabe "Alá" para se referirem a Deus, testemunhando, também a nível lexical, serem todos "filhos de Abraão", crentes das "religiões do Livro".

A recordar, porém, que o uso desse termo gerou tensões na vizinha Malásia, nação com proximidade cultural e linguística com a Indonésia, tanto que a língua bahasa é comum, embora com algumas nuances nacionais. O governo da Malásia emitiu uma disposição em 2008 proibindo os cidadãos cristãos de usarem o termo "Alá" para se referirem a Deus nas suas publicações e liturgias. O assunto foi parar na Justiça, com recurso apresentado pela Igreja Católica: depois de uma longa batalha jurídica, em três graus de julgamento, em 2021 o Supremo Tribunal da Malásia definiu como "inconstitucional" aquela disposição e estabeleceu que também os cidadãos não-muçulmanos poderiam usar a palavra Alá nas suas publicações religiosas e materiais culturais.

Dom Vitus Rubianto Solichin, missionário xaveriano e bispo de Padang, cidade de Sumatra, ilha indonésia onde vivem comunidades que observam um Islã rigoroso e tradicionalista, comentou à Agência Fides que “o caso relativo ao nome de Jesus na Indonésia nos vê vigilantes: não gostaríamos que tomasse o rumo que tomou na Malásia, ou seja, que se transformasse numa proibição dirigida aos cristãos indonésios de usarem o termo Isa Al-Masih. O importante é manter e garantir a liberdade para todos, inclusive no idioma. Deve-se dizer que os cristãos indonésios usam regularmente várias palavras árabes nos seus discursos religiosos, como 'Al-kitab' para indicar a Bíblia, 'Injil' para os Evangelhos e 'Jemaat' para congregações. Fazemos votos e estamos confiantes de que o governo indonésio possa manter firmes os princípios de igual dignidade, direitos e liberdades de todos os crentes na Indonésia, sem qualquer discriminação."

*Agência Fides

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12 outubro 2023, 08:22