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Diocese de Caxias do Sul: 90 anos de comunhão, participação e missão

Criada em 08 de setembro de 1934, atualmente reúne 73 paróquias de 32 municípios da Serra Gaúcha em quase mil comunidades de fé; entre os desafios para os próximos anos, a Iniciação à Vida Cristã

Leandro Ávila - Cidade do Vaticano

Ouça a matéria completa, com a entrevista com Dom Gislon

A Diocese de Caxias do Sul completa cem anos de uma história de fé e evangelização, os primeiros imigrantes italianos, que trouxeram consigo a riqueza de sua fé, foram os pioneiros na região. Com coragem e determinação, eles ergueram igrejas, fundaram comunidades e deram vida às paróquias que até hoje são pilares da diocese. Construíram um legado através da devoção, esperança e ardor evangélico, arraigadas no coração destes imigrantes, mas também naqueles que viram os frutos do trabalho destes desbravadores e aqui decidiram firmar suas raízes. A devoção e o compromisso dos sacerdotes, irmãs, irmãos e todo o povo de Deus foram fundamentais para a construção e fortalecimento da igreja.

Além disso, diversas congregações religiosas e movimentos também desempenharam um papel importante na evangelização e na promoção da vida cristã na região. Seja através da educação, da saúde, da assistência social ou de outras áreas de atuação, essas instituições e grupos testemunharam o amor de Deus e auxiliaram no crescimento espiritual e material da comunidade.

Criada na festividade da Natividade de Nossa Senhora, em 08 de setembro de 1934, a Diocese de Caxias do Sul está celebrando seu jubileu de 90 anos. A Bula Quae Spirituali Christifidelium do Papa Pio XI, desmembrou o território da Arquidiocese de Porto Alegre e lhe deu o nome de “Diocese de Caxias”.

Em 10 de novembro de 1966, por Decreto da Sagrada Congregação Consistorial, passou a denominar-se Diocese de Caxias do Sul. A padroeira da Diocese é Nossa Senhora de Caravaggio. Atualmente atende a 73 paróquias e quase mil comunidades, em 32 municípios.

O primeiro bispo foi Dom José Baréa, que serviu à Diocese de 1936 a 1951; seu sucessor foi Dom Benedito Zorzi, de 1952 a 1983, quando se tornou emérito, sucedido por Dom Paulo Moretto, que governou a Igreja até 2011. De 1957 a 1978, a Diocese de Caxias também teve como bispo auxiliar o capuchinho Dom Cândido Maria Bampi. Em 2010, o Papa Bento XVI nomeou como bispo coadjutor Dom Alessandro Ruffinoni, que foi empossado bispo diocesano em julho de 2011 e permaneceu até 2019. Em 26 de junho de 2019, o Santo Padre Francisco nomeou Dom José Gislon, OFMCap. como quinto bispo da Diocese de Caxias do Sul, tomando posse em 08 de setembro daquele ano, aniversário de 85 anos da Diocese.

No dia 12 de outubro, solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, durante o 43º Encontro Diocesano de Zeladoras e Zeladores de Capelinhas, Dom José Gislon deu abertura aos festejos dos 90 anos. Inseridas no processo sinodal da Igreja Católica, as nove décadas podem ser resumidas com as três palavras-chave do Sínodo: comunhão, participação e missão.

Para celebrar os 90 anos, a Diocese de Caxias do Sul está organizando uma programação intensa que vai desde grandes encontros, como o das zeladoras e coroinhas, até a atualização das diretrizes da Iniciação à Vida Cristã e a publicação de novos subsídios. Além de atividades já estabelecidas, a Coordenação de Pastoral busca ouvir as sugestões dos conselhos das sete regiões de pastoral acerca de ideias e sugestões para esta grande celebração.

Uma das equipes de trabalho, a Pastoral da Comunicação, está organizando um material audiovisual para ser lançado em capítulos que contam a história da Igreja na região, além da veiculação de uma série para o rádio. O ponto alto dos festejos será em setembro de 2024.

Marca comemorativa

 

Para celebrar os 90 anos, a Assessoria de Comunicação da Diocese confeccionou uma marca comemorativa. O logotipo é composto pelo numeral “9” em fonte cursiva e o “0” é formado por uma “meia-lua” que remete à cúpula do Santuário de Caravaggio, coração da Diocese.

Acima está a cruz, sinal de redenção e ícone visível no topo da Casa da Mãe. Sob a meia-lua está Nossa Senhora de Caravaggio, padroeira da Diocese. A parte inferior é aberta, no sentido do caminho sinodal que a Igreja está vivendo. O logo ainda recebe a palavra “anos” e o período das nove décadas: 1934-2024. A marca é completada pelo nome: “Diocese de Caxias do Sul”.

Dom José Gislon, OFMCap, bispo da Diocese de Caxias do Sul (Foto: Felipe Padilha)
Dom José Gislon, OFMCap, bispo da Diocese de Caxias do Sul (Foto: Felipe Padilha)

Dom José Gislon, nos fale da Diocese de Caxias do Sul, com sua presença nos dias de hoje e também de sua história de fé...

A Diocese de Caxias do Sul está extremamente ligada à imigração italiana no sul do Brasil, somente quando a partir de 1875 começaram a chegar aqui, e como toda a realidade – mais as planícies estavam ocupadas pela imigração alemã, que tinha acontecido vários anos antes -, os italianos chegaram, subiram a Serra Gaúcha, e era uma região que praticamente estava tudo em floresta e eles trabalharam muito, desbravaram esta região e começaram então a partir das pequenas propriedades constituir os núcleos familiares, construindo também as pequenas capelas muito rudimentares no início, preparando também espaço para o cemitério e o espírito de comunidade foi muito forte em cima disso, onde a comunidade e as família eram protagonistas daquilo que se fazia necessário para a comunidade. Isso significa a escola, a igreja, o hospital, tudo isso que, digamos, era para servir a comunidade.

Isso marcou a criação de dezenas de comunidades na Serra Gaúcha, depois foram se criando paróquias. Teve anos que foram mais de 10 paróquias - pelo forte número de imigrantes - até que em 1934 foi criada então a Diocese de Caxias do Sul, desmembrando da Arquidiocese de Porto Alegre. Hoje a nossa Diocese Caxias do Sul é composta por 72 paróquias e cerca de 980 comunidades, temos mais de 1 milhão de habitantes, destes 750.000 são católicos. E temos sim uma caminhada muito bonita de senso de pertença às comunidades e orações. Foi uma região também no passado teve um grande florescimento vocacional ligado também à cultura italiana, à cultura veneta, mais precisamente, onde muitas congregações tinham aqui suas casas provinciais, mas também tinham as casas de formação tanto masculina. como feminina.

A realidade de hoje também que nós temos na diocese é na redução do número de vocações, porque vivemos esse contexto das famílias menores, mesmo no meio rural, e a realidade das nossas cidades médias, geralmente onde nós temos um grande número de pessoas que vieram migrando de outras realidade do Rio Grande, mas também do Brasil. Então se constituíram essas comunidades de fé a partir, digamos, das várias realidades culturais que hoje formam também a diocese, tendo presente mais recente a migração de haitianos, venezuelanos, senegaleses, de outras culturas e também de outras religiões. Mas eu penso que a parte mais bonita que é uma realidade onde tem um profundo senso de família, de comunidade e também um forte senso do trabalho como parte da vida da família, da pessoa, mas também como fator de desenvolvimento da nossa sociedade. Por isso é uma realidade onde podemos contar muito com as lideranças dos leigos, foi aberta também uma escola diaconal de diáconos permanentes - que estamos tendo uma resposta muito bonita, tem um grupo em formação -, e temos lideranças leigas, toda a questão das zeladoras de Capelinha, ministro e ministra extraordinário da Sagrada Comunhão Eucarística, nós temos milhares de catequistas e além de todos os movimentos e pastorais onde nós temos muitos leigos envolvidos, mas também nas equipes administrativas, nos conselhos pastorais, que tocam a vida do povo de Deus, da nossa comunidade.

Creio que vocacionalmente, hoje, nossa diocese tenha um número mais reduzido de vocações, mas temos bons vocacionados, que estão em processo de formação, temos ainda um bom grupo de padres jovens, temos uma presença bastante grande também de padres religiosos, de consagradas na diocese, mas também de religiosos consagrados. Então o rosto da nossa Igreja diocesana é um rosto de uma Igreja que traz presente a questão da imigração, traz presente toda uma caminhada de vocações da vida religiosa masculina e feminina, mas também do clero diocesano e traz presente, acima de tudo, eu acho que esse olhar para a realidade de hoje, de um mundo também na América do Sul que vai se secularizando bastante, onde a transmissão da fé às novas gerações - que uma vez era uma coisa automática, praticamente que acontecia nas famílias – hoje ela precisa de um forte  trabalho na iniciação à vida cristã. Com muitos desafios, a força da iniciação à vida cristã, mas também de trabalhar a dimensão dos jovens, da continuidade da iniciação à vida cristã no pós-Crisma com os jovens, envolvendo as novas gerações, também na vida da igreja, mas também no testemunho da vida de fé, seja na comunidade, seja no mundo do trabalho. Temos uma realidade também bonita que podemos perceber mesmo depois da pandemia, o compromisso dos casais mais jovens de cuidarem da formação religiosa dos filhos. Então percebemos assim um interesse muito grande de casais jovens com os filhos pequenos, de levá-los à igreja, de cuidar da vida de fé da família. Esse protagonismo dos pais, ele é fundamental na vida dos filhos. Porque, lembrando, que a família é a primeira Igreja doméstica, é importante, que transmite valores humanos e cristãos, que as crianças levam depois no coração e na vida também como adultos e também a família como a primeira escola, aquela escola que dá os ensinamentos básicos da convivência comunitária, da convivência fraterna, por assim dizer.

Eu vejo nós estamos numa região que tem uma forte situação digamos, agrícola, mas também temos uma forte concentração industrial. É o segundo polo industrial do Rio Grande do Sul, isso graças ao espírito empreendedor dos imigrantes que começaram às vezes num pequeno negócio de fundo de quintal, uma pequena oficina, e hoje temos aqui grandes empresas, fruto desse trabalho, dessa persistência, desse amor ao trabalho, mas também do espírito de responsabilidade, corresponsabilidade social na nossa caminhada.

Em tempo de caminho sinodal como o senhor vê os desafios da evangelização nos dias atuais, dentro da diocese neste jubileu de 90 anos?

Olhando a dimensão da Igreja, nessa caminhada sinodal, eu vejo que é muito importante, eu acho que é uma inspiração do Espírito Santo, o Papa Francisco com a sua idade, mas também com toda a sua experiência de pastor, conhecendo essa realidade da América Latina, e agora já estando há um bom tempo a frente da igreja, 10 anos de Pontificado, dele convocar o Sínodo. Eu acho que o Sínodo, a partir da escuta dos cinco continentes, escutando homens e mulheres, consagrados e consagradas, bispos e sacerdotes, é fundamental para expressarmos, nos colocarmos à escuta do Povo de Deus, para depois nos colocarmos também à escuta do Espírito Santo, para onde nós queremos caminhar como Igreja e que resposta nós queremos dar à luz de Evangelho à realidade do homem de hoje, que vive nesse mundo cheio de tecnologias, conectado, mas ao mesmo tempo um mundo fragilizado pela indiferença, pela cultura do descarte, portanto situações que ferem a vida, a dignidade da vida dom de Deus. E o Sínodo, penso que se nos colocarmos juntos como Igreja, rezarmos juntos, nos colocarmos na escuta de Deus e deixarmos que o Espírito Santo também não se aponte o caminho, é fundamental nesse terceiro milênio, para ajudarmos as nossas comunidades de fé, e acima de tudo as novas gerações a se tornarem protagonistas do Evangelho na vida da Igreja Povo de Deus a caminho da Casa do Pai. Eu acho que uma instituição que não se ocupa dos jovens,  da iniciação vida cristã, da formação das crianças, das novas gerações, é sinal que já perdeu a esperança do futuro. E nós percebemos o quanto é importante na vida da Igreja, a Jornada Mundial da Juventude, a Jornada das Famílias, a Jornada dos Missionários, acima de tudo, e se cuidar da formação das novas gerações, porque devemos ter presente, que não acontece mais de forma automática na vida das famílias e a Igreja tem que ser uma missão continua, a missão de anunciar o Evangelho ad gentes, mas também a missão de anunciar o Evangelho aonde a Igreja está já há muitos séculos, e em alguns lugares até milênios, mas que precisa ser missionária para que possa, digamos, tocar o coração dos jovens, das novas gerações, que possam conhecer Jesus, que possam conhecer o projeto do Reino de Deus, e acima de tudo, que levem, acolham no coração a força redentora, mas ao mesmo tempo motivadora do Evangelho na construção da fraternidade, da fraternidade da paz, da solidariedade, da justiça, de defender a dignidade da vida em todas as culturas em todos os continentes.

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31 outubro 2023, 13:56