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Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, Bispo de Colatina com a Comunidade Maria Ortiz por ocasião do Grito dos Excluídos e Excluídas Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, Bispo de Colatina com a Comunidade Maria Ortiz por ocasião do Grito dos Excluídos e Excluídas  (franciscanos brasil)

Diocese de Colatina promove o "Grito dos Excluídos e Excluídas"

Na retomada do "Grito dos Excluídos e Excluídas" na sua 29ª edição, a Diocese de Colatina (ES) denuncia a dura realidade da Comunidade Maria Ortiz, da Paróquia Santa Clara. O Bispo diocesano, Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, disse que "é uma Comunidade fragilizada e que teve sua identidade religiosa comprometida por não poder acessar os templos locais".

Frei Augusto Luiz Gabriel

Este 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, foi marcado pela retomada do Grito dos Excluídos e Excluídas na Diocese de Colatina. Cerca de 120 pessoas saíram do centro de Colatina rumo à comunidade Maria Ortiz, pertencente à Paróquia Santa Clara, que fica no distrito de Baunilha. Fiéis e frades da Paróquia Santa Clara fizeram-se presentes e contribuíram com a organização e condução do evento.

No local, os participantes constataram uma realidade desafiadora. A pequena vila de pescadores, que fica a 23 quilômetros do centro, aguardava ansiosa a chegada do grupo e, durante o ato, expuseram sua situação de completo abandono. O local fica às margens do Rio Doce e da linha férrea. Após o rompimento da barragem com rejeitos de minério, em Mariana (MG), os ribeirinhos e pescadores locais tiveram sua principal fonte de subsistência interrompida, gerando graves problemas sociais e emocionais que persistem até hoje, quase nove anos depois desse crime ambiental.

“Fizemos o movimento inverso: saímos do centro em direção à periferia, à minoria para perceber a realidade de um povo esquecido e invisível aos olhos da sociedade. Contemplamos a situação com nossos próprios olhos e deixamos que aquela comunidade ‘gritasse’ as suas dores e angústias”, relatou o coordenador diocesano da Ação Evangelizadora, padre Marinaldo Serafim.

O bispo diocesano de Colatina, Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, ficou indignado com o que encontrou em Maria Ortiz: uma comunidade fragilizada e que teve sua identidade religiosa comprometida por não poder acessar os templos locais. “As capelas foram interditadas. Precisamos agir rápido para melhorar a realidade desse povo sofrido”, disse dom Lauro.

Segundo Genivaldo Lievore, membro da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Colatina, há duas igrejinhas na comunidade. Uma delas é histórica, tendo sido construída em 1916 e dedicada a Nossa Senhora da Cabeça, cujos devotos a ela recorrem para a cura de doenças da cabeça, como tumores e depressão.

Genivaldo explicou que o acesso a essa capela foi isolado em 2006 por uma muralha de blocos de granito, toras de madeira e a linha do trem, em decorrência da abertura do Porto Seco de Colatina. Trata-se da única igreja capixaba dedicada a Nossa Senhora da Cabeça e que padece pelo abandono em meio ao mato e à intensa atividade empresarial de transporte de cargas. Com isso, um imóvel localizado às margens do Rio Doce foi adaptado, em 2008, para que pudesse ser usado como templo. Mas a reforma realizada neste imóvel comprometeu a estrutura da construção e por isso foi interditada pela Defesa Civil, há mais de dez anos.

Ações imediatas

Diante dessa situação, os moradores manifestaram abertamente sua indignação ao bispo de Colatina que, junto à Comissão Justiça de Paz, tomou duas decisões que serão aplicadas o quanto antes: solicitar uma análise de engenharia estrutural do templo novo, seguida da obra necessária para sua recuperação; e buscar o diálogo com as empresas e os proprietários do entorno para dar condições de acesso à capela histórica. “Nesse momento, não devemos apontar culpados, mas procurar as melhores e mais rápidas soluções para esse caso”, informou Genivaldo.

Celebração Ecumênica

Sem acesso aos templos, o grupo de participantes do Grito dos Excluídos, entre idosos, crianças, jovens, religiosas, religiosos, padres, pastores e lideranças civis e de movimentos sociais, participaram de uma celebração ecumênica ao ar livre. Além de membros da comunidade, também tomaram a palavra o bispo diocesano, dom Lauro Sérgio, e os pastores das Igrejas Presbiteriana e Luterana presentes. “Todas as falas apontaram para a mesma direção e expressaram a mesma angústia e indignação”, observou padre Marinaldo.

“Nós temos que dar voz aos que não tem voz. A Comunidade de Maria Ortiz precisa ser ouvida. Não só está, mas toda a voz dos pobres, dos sofredores. As alegrias, e as esperanças, as tristeza e as angústias dos homens e das mulheres de hoje, sobretudo dos pobres são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Jesus Cristo”, disse Dom Lauro, citando o Documenta da Igreja, Gaudium et spes. “Se as alegrias e tristezas dos homens e mulheres de hoje não são nossas, nós não somos discípulos de Jesus Cristo”, alertou.

Segundo Dom Lauro, o Grito dos Excluídos que já chega em sua 29ª edição, é uma decorrência da fé cristã em Jesus Cristo, do mistério pascal, do Filho de Deus que veio a este mundo e assumiu sua realidade humana para resgatar, para dar vida e vida em abundância.

“É importante que nós tenhamos um espaço para sermos uma casa da palavra, casa do pão, casa da ação missionária, da caridade. Vamos sair da superficialidade e lançar as redes em nossa vida, buscando algo mais profundo, mais consistente. Este é um trabalho sinodal, caminhando juntos. É o que o Papa Francisco nos propõe”, afirmou dom Lauro!

A comunidade de Maria Ortiz ficou satisfeita com a presença de tantas lideranças e pessoas de boa vontade, o que reavivou a esperança de que a vida pode melhorar na região. “Vamos lutar e acompanhar de perto essa situação, envolvendo não apenas a Diocese de Colatina, como também as nossas Igrejas irmãs e todos os órgãos competentes para mudarmos esse quadro”, enfatizou padre Marinaldo.

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09 setembro 2023, 10:30