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O então padre Giorgio Marengo (hoje cardeal), preside Missa para fiéis mongóis. O então padre Giorgio Marengo (hoje cardeal), preside Missa para fiéis mongóis.  (Afmc (Archivio fotografico Missioni Consolata))

Dom Wenceslau Padilha dedicou a vida ao renascimento da Igreja na Mongólia

Ao traçar um panorama histórico da Igreja local na Mongólia, o bispo havia explicado os critérios seguidos: semear o Evangelho, trabalhar pelo bem comum, lutar contra a pobreza, contribuir para o desenvolvimento humano, cultural, moral e espiritual da nação. Em 2006, os católicos na Mongólia eram cerca de 600, incluindo 350 mongóis autóctones. Depois de 20 anos de evangelização, eram 835 e em 2008 dois jovens mongóis entraram no seminário, sendo ordenados mais tarde.

por Paolo Affatato

“O Deus dos nossos pais foi realmente rico de graça, amoroso, protegeu e guiou cada passo do nosso caminho de fé e a nossa pequena comunidade de crentes na Mongólia.” Com estas palavras, em 2017, dom Wenceslau Padilla, missionário filipino da Congregação do Imaculado Coração de Maria (CICM), então prefeito apostólico da Mongólia, expressou a sua gratidão a Deus e a todos os colaboradores por ocasião do 25º aniversário da nova evangelização da Mongólia.

Wenceslau Selga Padilla (1949-2018) chegou à nação centro-asiática em 1992, com outros dois confrades “missionários de Scheut” (como são chamados os missionários da CICM, do local de origem da congregação, na Bélgica). Foi “um incansável servidor na vinha do Senhor”, como recordou o seu confrade, P. Gilbert Sales, que iniciou ao seu lado aquele missão: “Deu tudo de si, entregou-se sem reservas à missão evangelizadora na Mongólia, entregando-se sempre a Deus e fazendo todo o possível para iniciar novas obras pastorais e sociais”.

Depois de 25 anos de trabalho missionário, Padilla pôde constatar com gratidão “a estabilidade da Igreja na Mongólia, com a sua presença em diferentes distritos, com diferentes paróquias, com serviços socioeducativos na sociedade. A chegada de missionários de congregações religiosas e de diversas nações, a colaboração e a fé de muitos mongóis constribuíram para construir uma presença sólida da Igreja na Mongólia".

Pouco depois de cter elebrado o Jubileu da Igreja na Mongólia, Wenceslau Padilla veio a falecer em Ulaanbaatar, em 25 de setembro de 2018, aos 68 anos, em decorrência de um ataque cardíaco. .

A partir de 1992 Padilla passou a ser Superior da “Missio sui iuris” e, desde então, nunca mais deixou a nação. A Igreja local (hoje uma comunidade de 1.300 fiéis) recorda-o como uma pessoa de profunda fé e dedicação apostólica: “Ele deu o melhor de si, entregando-se a um povo estrangeiro, numa terra distante. Deus serviu-se dele para tocar o coração de muitas pessoas na Mongólia”, recorda pe. Vendas.

Quando a Mongólia se tornou um país democrático no início da década de 1990, o governo de Ulaanbaatar tomou a iniciativa de solicitar relações diplomáticas com a Santa Sé e pediu a missionários católicos para trabalhar no país. No dia 4 de abril de 1992, foram estabelecidas relações diplomáticas e o primeiro grupo de missionários, 3 membros da Congregação do Coração Imaculado de Maria (CICM), chegou à Mongólia no dia 10 de julho de 1992. Os primeiros missionários eram precisamente o Pe. Wenceslau Padilha, Pe. Robert Goessens e Pe. Gilbert Sales.

Wenceslau Padilla nasceu em 28 de setembro de 1949 em Tubao, Filipinas. Foi ordenado sacerdote em 17 de março de 1976. Quando chegou com dois de seus confrades da CICM, não havia católicos autóctones na Mongólia. Contudo, os missionários descobriram a presença de alguns católicos expatriados entre os funcionários das embaixadas estrangeiras. Assim começaram os encontros de oração nas casas e a celebração da Missa dominical no apartamento onde os missionários residiam.  À medida que crescia o número de participantes, alugaram-se salas para celebrar a Missa dominical. Somente anos mais tarde começaram a ser construídas verdadeiras igrejas de tijolos.

Graças ao trabalho pastoral do bispo Padilla e dos primeiros sacerdotes, renasceu o "pequeno rebanho" da Igreja na Mongólia, uma comunidade próxima dos pobres, empenhada no serviço da educação, no diálogo com outras culturas e religiões.

Desde o início, a comunidade católica manteve uma atitude sensível e respeitosa para com as culturas locais, estabelecendo boas relações com outras religiões, ao mesmo tempo que se empenhava no serviço e assistência social a muitas pessoas desfavorecidas, pobres e marginalizadas da sociedade.

O território confiado ao bispo Padilla compreendia toda a Mongólia: dois milhões e meio de pessoas. Nomeado prefeito apostólico da Mongólia dez anos depois de sua chegada, em 2002, a sua consagração episcopal teve lugar em 29 de agosto de 2003 na Catedral dedicada aos Santos Pedro e Paulo, em Ulaanbaatar, cuja construção ele próprio supervisionou.

No momento da sua ordenação episcopal em 2003, dom Padilla havia dito: “A prioridade é manter boas relações com todos, sem discriminações, dando testemunho do amor de Cristo aos budistas, aos outros cristãos, muçulmanos e todo o povo da Mongólia”.

Desde o início, Padilla havia conquistado o coração do povo mongol e era muito considerado entre os cristãos ortodoxos russos, budistas, xamãs e membros de grupos religiosos não-cristãos. Como bispo, empenhou-se em elevar o nível educativo da comunidade dos fiéis, do jardim de infância à universidade: "Patrocinamos estudantes para irem para o exterior e se formar numa universidade estrangeira, mas quero que os nossos jovens tenham uma boa educação aqui em seu próprio país”, afirmou.

Nos 26 anos de serviço na Igreja local, com um olhar clarividente, procurou convidar o maior número de congregações religiosas e missionárias, masculinas e femininas, a instalarem-se na Mongólia, para dar "um rosto plural à Igreja local, com a riqueza de diferentes carismas”. Assim, vários missionários e missionárias foram para a Mongólia provenientes da África, Ásia, Europa e América Latina. Eles construíram escolas técnicas, orfanatos, lares para idosos, clínicas, abrigos para vítimas de violência doméstica e creches. Estes centros são frequentemente instalados em subúrbios onde faltam serviços básicos, enquanto os beneficiários são pessoas pobres e crianças de famílias indigentes.

Ao traçar um panorama histórico da Igreja local na Mongólia, o bispo havia explicado os critérios seguidos: semear o Evangelho, trabalhar pelo bem comum, lutar contra a pobreza, contribuir para o desenvolvimento humano, cultural, moral e espiritual da nação. Em 2006, os católicos na Mongólia eram cerca de 600, incluindo 350 mongóis autóctones. Depois de 20 anos de evangelização, eram 835 e em 2008 dois jovens mongóis entraram no seminário para um percurso de formação para o sacerdócio, tendo posteriormente sido ordenados.

Ao longo dos anos foram criadas obras pastorais, sociais, educativas, caritativas e humanitárias, como dois Centros para crianças de rua, um lar para idosos, dois jardins de infância Montessori, duas escolas primárias, um centro para crianças com deficiência, uma escola técnica. Foram criadas três bibliotecas com salas de estudo e instalações informáticas, um albergue para os estudantes universitários, equipado com instalações modernas, vários centros de atividades juvenis.

Graças ao impulso do bispo, foram estruturadas duas fazendas em áreas rurais, com programas que ajudam as comunidades rurais, bem como um ambulatório, uma clínica e a Caritas Mongólia, iniciada por Padilla. Graças a ele, foram criados programas de abastecimento de água, construídas de casas para os pobres, desenvolvida a agricultura sustentável, a segurança alimentar, promoção social, o combate ao tráfico de pessoas.

Quando se referia à história da Igreja na Mongólia, Padilla amava falar de “renascimento”. “Em 1992 – havia compartilhado com a Agência Fides – quando nós três chegamos aqui, nunca havíamos pensado em ‘implantar a Igreja’ do zero, mas acreditávamos que traríamos de volta a esta terra o anúncio de Cristo, convencidos de que o Senhor sempre esteve próximo do povo mongol, que novamente acolheu o Evangelho com fé e esperança. Fomos ‘colaboradores do Altíssimo’ no estabelecimento do seu Reino entre o povo mongol”.

Um episódio emblemático que os mongóis recordam com carinho, remonta a 2017, por ocasião da celebração do "Tsagaan Sar", um dos festivais mais antigos e importantes da cultura mongol - que significa literalmente "Lua Branca" e é rico em simbolismos e rituais - que são realizados nas famílias. A população mongol celebra-o para coincidir com o ano novo lunar e a Igreja Católica incorporou a festa na liturgia: nas igrejas católicas da Mongólia celebra-se uma Eucaristia especial na madrugada do ano novo, para confiar a vida de todos a Deus e rezar pela nação. Pois bem, em 2017 a celebração do ano novo lunar coincidia com o início da Quaresma e com a Quarta-feira de Cinzas, dia de penitência. Por esta razão, dom Padilla quis adiar a imposição das Cinzas para o primeiro domingo da Quaresma, emitindo uma “dispensa extraordinária do jejum e da abstinência quaresmal” já que, durante os dias da Festa, as famílias mongóis tradicionalmente consomem grande quantidade de carne.

Os fiéis da Mongólia, participando em massa na Missa matinal, apreciaram muito essa modalidade de inculturação e o fato de a liturgia católica poder harmonizar-se com as tradições locais. O bispo citou a primeira carta de São Paulo aos Coríntios:

“Embora livre de sujeição de qualquer pessoa, eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível. Para os judeus fiz-me judeu, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da Lei, fiz-me como se eu estivesse debaixo da Lei, embora eu não esteja, a fim de ganhar aqueles que estão debaixo da Lei. Para os que não têm Lei, fiz-me como se eu não tivesse Lei, ainda que eu não esteja isento da Lei de Deus – porquanto estou sob a Lei de Cristo –, a fim de ganhar os que não têm Lei. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. E tudo isso faço por causa do Evangelho, para dele me fazer participante. (1 Cor 9, 19-23)”

Padilla foi sepultado em Ulaanbaatar no dia 14 de outubro de 2018. Na homilia da Missa fúnebre, o arcebispo Alfred Xuereb, então núncio apostólico na Coreia do Sul e na Mongólia, elogiou “o amor, a humildade e o compromisso do prelado”. Inspirando-se no Evangelho lido na ocasião, o núncio afirmou: “O Senhor se alegra com o trabalho realizado por dom Wenceslau Padilla na Mongólia, e diz-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel; vem regozijar-te com teu senhor”'. (Mt 25,23).

O afeto dos fiéis mongóis pelo bispo estava impresso em um outdoor exposto na Catedral, onde se lia: “Querido e amado bispo Wens, sua vida estará sempre em nossos corações. Foste um exemplo vivo de fé e caridade para todos aqueles que encontraste. Foste gentil e alegre até morrer. É doloroso perder-te agora, mas Deus sabe o que é melhor. Desejamos que seja embalado no seio do Pai Celestial.

*Agência Fides

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23 agosto 2023, 08:02