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Moradores pegam alimentos, roupas e utensílios domésticos distribuídos em Samandag, ao sul de Hatay. (Foto de Yasin AKGUL / AFP) Moradores pegam alimentos, roupas e utensílios domésticos distribuídos em Samandag, ao sul de Hatay. (Foto de Yasin AKGUL / AFP)  (AFP or licensors)

Dom Bizzeti e a incansável ajuda da Igreja às vítimas do terremoto

O Vigário Apostólico da Anatólia foi recebido em audiência pelo Papa Francisco, a quem agradeceu pelo apoio e carinho. Ele falou Vatican News de fatos inacreditáveis no resgate das vítimas, como o "menino de 5 anos que após 112 horas sob os escombros, foi retirado e, sorrindo, contou a quem lhe perguntou como estava nestes dias: veio um homem vestido de branco e trouxe-me comida e bebida, por isso fiquei tranquilo. Quem era esse homem vestido de branco que alimentava essa criança?".

Antonella Palermo - Vatican News

O número de mortos no terremoto na Turquia aumentou para 39.672, os feridos são quase 200.000, enquanto centenas de milhares de pessoas dormem ao ar livre. Mais de 47.000 edifícios desabaram ou ficaram seriamente danificados em dez províncias. 264 mil apartamentos ficaram destruídos. Não há água para se lavar, não há eletricidade em algumas áreas, povoados inteiros ainda estão isolados. A situação deve piorar com o aumento das temperaturas e há especialmente o medo de uma epidemia de cólera com a chegada do calor.

 

“O moral da população está sendo severamente testado”, escreve o bispo Paolo Bizzeti SJ, Vigário Apostólico de Anatólia, no site da associação Amigos do Oriente Médio, que imediatamente ativou um canal através do qual a ajuda poderia ser enviada à população.

Incansável o serviço da Igreja às vítimas

 

O Vicariato da Anatólia trabalha em três frentes. Em Iskenderun, Pe. Antuan Ilgit SJ, vigário geral, coordena junto com John Farhad Sadredin, diretor da Caritas Anatolia, as pessoas que vivem em episcópio (as irmãs do Verbo Encarnado e os fiéis leigos) juntamente com outros quarenta voluntários. Em Istambul, a Caritas Turquia, com a ajuda da Caritas Italiana, prepara projetos, coordena as Caritas irmãs de várias partes do mundo, determinando objetivos e organizando um organograma para os próximos meses.

Da Itália - onde o prelado estava no momento da tragédia para visitar os seminaristas turcos que aqui estudam - Dom Bizzeti trabalha na organização da ajuda e coordena o pessoal de Iskenderun e Istambul. “O moral e a colaboração são louváveis ​​– comenta o prelado – mas o cansaço começa a se disseminar”.

E acrescenta: “Graças a Deus, a celebração da Eucaristia e a oração em comum, apoiadas também na fé das quatro monjas do Verbo Encarnado que vivem em Iskenderun há dois meses, são oásis diários de refúgio e consolação. Os sacerdotes e leigos de outras Igrejas cristãs estão conosco: cresce assim também o verdadeiro ecumenismo”.

Na manhã de sexta-feira, 17, Dom Bizzeti foi recebido em audiência pelo Papa Francisco. Nos estúdios da Rádio Vaticano-Vatican News, contou como viveu esta dramática situação:

Dom Paolo Bizzeti SJ na entrevista a Antonella Palermo
Dom Paolo Bizzeti SJ na entrevista a Antonella Palermo

Como foi o encontro com o Papa?

Obrigado à bondade do Santo Padre que me quis receber. Ele expressou toda a sua proximidade, seu carinho por todas as pessoas, sem distinção. Sentimos um grande apoio.

Como o senhor está vivenciando emocionalmente essa distância geográfica, não estando lá?

Certamente é um grande fadiga, porque eu gostaria de estar lá com o meu povo, por outro lado o padre Antuan Ilgit, vigário geral, está lá e está fazendo um excelente trabalho, e eu sou mais útil aqui. No entanto, na segunda-feira voltarei para a Turquia por alguns dias, depois avaliaremos. Eu vivo um pouco assim, de 2-3 dias em 2-3 dias.

Nos últimos dias você disse: o terremoto nos leva a abandonar as políticas de conflito...

Exatamente, o terremoto é uma grande ocasião para parar e refletir sobre o que nós, homens, queremos. A guerra não produz nada, só produz destruição. Razão pela qual, pelo menos no que depende de nós, devemos cessar imediatamente reivindicações e conflitos, de forma a garantir a vida, a vida é o valor supremo, a vida dos homens é o que também está no coração de Deus.

Chegam imagens e histórias incríveis, resgates de pessoas retiradas com vida dos escombros depois de dias e dias.....

Certamente há alguns episódios incríveis de pessoas que permaneceram vivas e que graças ao trabalho incessante dos socorristas conseguiram ser salvas, mas há alguns episódios que francamente são inacreditáveis, como este menino de 5 anos que, após 112 horas sob os escombros, foi retirado e, sorrindo, contou a quem lhe perguntou como estava nestes dias: veio um homem vestido de branco e trouxe-me comida e bebida, por isso fiquei tranquilo. Quem era esse homem vestido de branco que alimentava essa criança sob os escombros? É uma pergunta da qual não podemos nos esquivar e que nos faz pensar.

Existe a tragédia de tantos órfãos, de fato. O que será deles?

Escreveremos os limites dessa tragédia em anos porque, na verdade, há toda uma série de tragédias em cascata que surgem como consequência do terremoto. A perda dos pais é a maior das tragédias para essas crianças, confiamos de que possam encontrar acolhida; as pessoas são boas, a população turca é boa, como tem mostrado há anos para com os refugiados, então confiamos que realmente existem parentes, pessoas, instituições que assumam essas criaturinhas.

 

A Turquia é um dos países que acolhe o maior número de refugiados no mundo: afegãos, sírios, iraquianos... Vocês, como Igreja local, já estão fazendo o possível no ordinário para garantir-lhes um mínimo de dignidade. Agora as dificuldades aumentam...

As dificuldades estão aumentando, temos mortes entre as famílias dos sírios que atendemos e por isso agora também precisamos ajudar as pessoas a superar essas perdas porque realmente são grandes tragédias. A Caritas Turquia, outras organizações, o governo, estão todos ocupados, mas a magnitude da catástrofe é desproporcional em relação às forças em campo. Esperamos que de todo o mundo se continue a poder levar ajuda, apoiar direta ou indiretamente de várias formas.

A Síria ainda permanece um território amplamente desconhecido, infelizmente. O que será deste país?

Para a Síria, o número absoluto de mortos, comparado ao da Turquia, não é tão grande, mas é um país com mais de dez anos de guerra. Isso desperta nas pessoas um desespero interior, parece uma tragédia sem fim. Mas espero que este terremoto induza também todos os políticos a compreenderem que a paz é indispensável, garantindo às pessoas o exercício da vida quotidiana, do trabalho, é o primeiro dos bens a garantir se se quiser verdadeiramente ser gente que serve o povo.

Ontem foi divulgada a Mensagem para a Quaresma em que o convite do Papa Francisco é enfrentar as dificuldades diárias, as adversidades e as contradições da realidade subindo junto com Jesus. Como ressoam essas palavras à luz da destruição causada pelo terremoto?

Sim, é o caminho da cruz, para cada homem há uma cruz a carregar e dela não podemos fugir, mais cedo ou mais tarde cabe a todos e Jesus foi o primeiro a carregá-la: foi ele quem abriu o caminho, ensinou uma nova maneira de carregar a cruz, superando a tentação da raiva, do desespero, de lançar as culpas sobre os outros em um ódio estéril.

 

Há também a questão da construção de edifícios que na Turquia não levariam em conta os critérios mínimos de segurança, uma questão que está inflamando a mente das pessoas. O que o senhor gostaria de dizer sobre esse tipo de responsabilidade?

Sim, infelizmente, como em todas as situações há um desenvolvimento tumultuado de uma nação, sempre há criminosos que se aproveitam disso. Alguns criminosos na Turquia, evidentemente conseguiram burlar as regras. O governo interveio prontamente com muitas prisões e esperamos que agora também seja uma advertência para a reconstrução, para que as coisas realmente sejam bem feitas no interesse de todos. Os saques, no entanto, também nesses dias pude constatá-los na própria pele: há pessoas que clonaram meu endereço de e-mail por meio de um novo endereço parcialmente diferente do meu e pediram ajuda em todo o mundo. Eu tive que ir e denunciar à polícia esses criminosos que se aproveitam da tragédia dos outros para seus interesses escusos.

Que a vossa terra possa voltar a se reerguer em breve, Excelência...

Nosso apelo é: não se esqueçam de nós. Porque, como sabemos, depois de algumas semanas, também se apagam os holofotes dos meios de comunicação de massa e este seria um drama ainda maior.

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18 fevereiro 2023, 08:57