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Líbano: mártires da fé, irmãos Massabki serão canonizados em breve

Os três irmãos Massabki foram declarados beatos pelo Papa Pio XI em 7 de outubro de 1926. Desde então, a Igreja Maronita celebra todos os anos os beatos irmãos Massabki no domingo seguinte ao dia 12 Julho. Vítimas dos massacres de 1860 no Monte Líbano e em Damasco, são exemplo de “mártires da fé” numa fase histórica de crescente perseguição, prova ulterior da importância do ecumenismo dos santos, que morreram dando a vida pelo “próprio Cristo”.

Por Fady Noun

A Igreja Maronita tornou oficial recentemente, por meio do patriarca Beshara Raï, que o Papa Francisco aprovou o decreto proclamando os três irmãos Francis, Abdel Mohti e Raphaël Massabki "mártires da fé".

Mortos durante os massacres de 1860 em Damasco - uma das páginas mais tenebrosas para os cristãos orientais -, os três irmãos serão inscritos na assembleia dos santos da Igreja universal, independentemente do reconhecimento de um milagre por sua intercessão, passo fundamental nas causas de canonização dos futuros santos.

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“Este é o nosso presente de Natal”, afirmou o líder da Igreja Maronita, falando da homenagem prestada à sua comunidade por meio deles. A data da cerimônia de canonização, que normalmente é celebrada em Roma, ainda não foi marcada e oficializada.

Os irmãos Massabki morreram em Damasco, em massacres cujas causas históricas remontam a algumas rivalidades no Monte Líbano entre drusos e maronitas, fomentadas pela interferência estrangeira e nas quais o governador otomano Ahmad Pasha foi um dos principais protagonistas.

Os três homens foram mortos em 10 de julho de 1860, dentro do convento dos franciscanos, após se recusarem a abjurar à fé cristã. O ocorrido insere-se no âmbito de uma revolta popular que durou de 9 a 18 de julho, e que só em Damasco causou entre 4.000 e 6.000 vítimas cristãs, e que depois se espalhou também para fora do Békaa, em particular em Zahlé.

Durante os nove dias em que ocorreram os massacres, cerca de 20.000 cristãos foram assassinados em Damasco e em Békaa. Ao mesmo tempo, pelo menos 11 igrejas e três conventos foram destruídos na capital síria, assim como entre 1.500 e 2.000 casas e cerca de 200 comércios incendiados ou arrasados. Os consulados russo, holandês, belga, americano e grego foram saqueados e incendiados na época.

Os muçulmanos salvam a honra

 

Alguns muçulmanos piedosos salvaram a honra da comunidade, entre eles o emir argelino Abdel Kader, exilado da França em Damasco, graças a quem muitos dos cristãos foram salvos e puderam chegar a regiões seguras do Líbano.

A notícia dos massacres perpetrados em 1860 aterrorizou um Ocidente que se orgulhava de ser o protetor dos cristãos orientais. Os passos das potências ocidentais junto à Sublime [porta, o sultão otomano] surtiram o efeito desejado. Ahmad Basha é executado, junto com outros oficiais do império que estiveram envolvidos no massacre, e outras centenas de cúmplices presos ou exilados.

Em 1926, 66 anos depois dos massacres, graças a uma decisão conjunta do então núncio apostólico em Damasco e do arcebispo maronita da capital síria, Dom Beshara Chémali (cujo território se estendia até Sarba, no Líbano), os três irmãos Massabki foram declarados beatos pelo Papa Pio XI em 7 de outubro de 1926. Desde então, a Igreja Maronita celebra todos os anos os beatos irmãos Massabki no domingo seguinte ao dia 12 Julho.

Ecumenismo dos mártires

 

Nos dias de hoje, segundo o espírito de unidade promovido por São João Paulo II e levado adiante por seus sucessores ao trono petrino, erguem-se vozes pedindo que a cerimônia de canonização do beato seja também uma ocasião para melhor destacar o chamado "ecumenismo dos mártires".

É já fato consumado que, entre as vítimas dos massacres de 1860, está também Youssef Mehanna-Haddad, sacerdote da Igreja Ortodoxa de Antioquia. Este último, ao sair de casa incógnito e em roupas civis, junto com a nora (é costume da Igreja Oriental que os sacerdotes possam se casar) é reconhecido por um grupo de revoltosos, sequestrado e morto. Uma recordação ainda viva, tanto que a sua Igreja celebra solenemente a sua memória. No entanto, até agora as Igrejas latina, maronita e ortodoxa comemoraram a memória e a lembrança dos mártires de 1860 independentemente umas das outras. No entanto, é preciso estar cientes de que todos esses cristãos de diferentes confissões dão testemunho de sua vida, dando-a pelo mesmo Cristo.

O que João Paulo II queria dizer, explicando essencialmente alguns ambientes da Igreja, é que a unidade dos cristãos não é para ser buscada; que não é para ser construída do zero como se não existisse, mas apenas ser ampliado. Também porque esta já se realiza nos mártires e nos santos das várias Igrejas que testemunharam a sua fé, até o dom último da sua vida.

*Com Asianews

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28 dezembro 2022, 13:17