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Schevchuk: o caminho para a sabedoria passa pela floresta escura da dor

"É preciso encontrar a coragem de olhar a própria dor nos olhos. Existem formas saudáveis ​​de dor, como reações à injustiça ou ao sofrimento dos outros. quando somos feridos pela dor de nossos entes queridos. Mas a dor deles nos permite compreender em profundidade a nossa humanidade, a nossa necessidade de outros. A dor nos torna pessoas verdadeiras. Nós cristãos experenciamos sempre a nossa dor, unindo as nossas dores e sofrimentos com as dores e sofrimentos do nosso Salvador crucificado."

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo!

Hoje é terça-feira, 11 de outubro de 2022 e já é o 230º dia desta guerra cruel, desumana e sangrenta.

Esta manhã, a Ucrânia está se recuperando do ataque maciço de mísseis que a Rússia lançou ontem em toda a Ucrânia, em nossas cidades e aldeias.

Dezenas de mortos, dezenas de feridos. Foram confirmadas pelo menos dezenove vítimas fatais inocentes deste ataque maciço. Só em Kiev, 6 pessoas morreram, mais de 50 ficaram feridas. Em apenas algumas horas, a Rússia lançou 83 mísseis de cruzeiro de vários tipos, dezenas de veículos aéreos não tripulados cheios de explosivos sobre a Ucrânia.

E hoje, a Ucrânia está se recuperando dessa grande dor. O inimigo tentou nos intimidar. Ele tentou destruir a infraestrutura crítica de nossas cidades e povoados, incluindo o fornecimento de eletricidade. Mas os ucranianos deixaram de ter medo há muito tempo. Esse tipo de ataque une ainda mais nosso povo. Os ucranianos estão ainda mais unidos em sua vontade de perseverar nesta batalha até o fim.

Hoje, pela manhã, foi lançado um alerta aéreo para toda a Ucrânia. É possível que hoje o inimigo repita um crime semelhante.

 

Mas em nome de todos os chefes das Igrejas e organizações religiosas, unidos no Conselho de Igrejas Pan-ucraniano, consideramos nosso dever condenar com firmeza - em alta voz, unânime e resoluta - este ato de terrorismo que a Federação da Rússia cometeu e está cometendo contra o povo ucraniano. Esse tipo de ação é uma violação direta do direito internacional humanitário, das regras e costumes da guerra e só pode ser qualificado como crime de guerra. Apelamos a toda a comunidade internacional global, Chefes de Estado, organizações públicas, intelectuais mundiais, chefes de várias Igrejas e comunidades religiosas, a unirem-se à nossa voz e condenarem veementemente este tipo de ações terroristas. Se ficarem em silêncio hoje, amanhã sereis mortos como estão nos matando hoje. Digamos um firme “não” ao Estado que utiliza este tipo de ação para alcançar qualquer objetivo.

Hoje, no contexto da tragédia que se desenrola diante de nossos olhos na Ucrânia, gostaria de refletir com vocês sobre outro elemento de resiliência: resiliência em meio à dor. Após esses novos eventos, enquanto nossas cidades e povoados queimam, a dor cada vez maior das populações não pode ser ignorada. A dor das perdas, a dor daqueles que estão nas mãos dos russos. A dor daqueles que são submetidos à tortura. A dor das mães que perdem os filhos na frente. A dor de milhões de ucranianos forçados a deixar suas casas. A dor do povo crucificado hoje por um agressor injusto.

Ouçamos hoje a sabedoria do povo mártir, do nosso povo ucraniano, a sabedoria dos nossos heróis, a sabedoria dos veteranos de várias guerras, a sabedoria dos mártires e confessores da nossa Igreja Greco-Católica ucraniana.

Um dos autores contemporâneos que escreve muito sobre o fenômeno da dor, Eric Greitens, diz o seguinte: "Existe a dor que buscamos, e existe a dor que nos procura". Às vezes a dor é algo que acompanha o aprendizado, a necessidade de crescer. A dor faz sempre parte da existência de uma pessoa, de um povo que está a caminho, em peregrinação nesta jornada terrena rumo à Pátria celeste. E há a dor que nos pega de surpresa, despedaçando nossos planos, que não conseguimos aplacar. Este último tipo de dor é muito difícil de curar. Porque essa dor é sempre muito específica, muito pessoal.

Às vezes, a infelicidade é alimentada artificialmente por nossos próprios medos. E precisamos de muita sabedoria para perseverar em meio a essa dor.

Não há dicas práticas fáceis para lidar com a dor real, e o caminho para a sabedoria passa pela floresta escura da dor. É preciso encontrar a coragem de olhar a própria dor nos olhos. Existem formas saudáveis ​​de dor, como reações à injustiça ou ao sofrimento dos outros. quando somos feridos pela dor de nossos entes queridos. Mas a dor deles nos permite compreender em profundidade a nossa humanidade, a nossa necessidade de outros. A dor nos torna pessoas verdadeiras. Nós cristãos experenciamos sempre a nossa dor, unindo as nossas dores e sofrimentos com as dores e sofrimentos do nosso Salvador crucificado. E então nossa dor se torna salvífica, salvadora para nós e para o mundo. Provações e experiências nos ajudam a superar nossa própria dor.

As provações que nos permitem encontrar um sentido na vida e de superar a nossa própria dor, nos ajudam a encontrar a coragem para assumir novas responsabilidades, tornam-se uma experiência que é um tesouro para o nosso ministério futuro. A dor propriamente vivida torna-se o tesouro de uma pessoa corajosa. Não é à toa que nosso povo diz: "Seja paciente e você se tornará o líder dos cossacos!"

Quando sofremos, devemos procurar pensar nos outros. Procurar servir aos outros. Às vezes é necessário extinguir a dor do coração com a dor do trabalho. A dor é algo que, como o fogo, fortalece nossa personalidade. Não devemos ter medo dela. Vamos olhá-la nos olhos. E com sabedoria, unidos a Cristo, seguindo o exemplo dos nossos grandes predecessores, tenhamos a coragem de sobreviver, de suportar a dor.

Hoje, gostaria de agradecer aos nossos agentes de saúde que salvam os feridos, os acompanham nos momentos mais dolorosos de suas vidas. Esta manhã, quero agradecer de modo especial aos nossos trabalhadores do setor de energia, que na noite passada restauraram todos os suprimentos de energia para nossas cidades e povoados. Toda essa rede, que o inimigo tentou destruir. Obrigado! Graças ao seu trabalho, triunfamos durante a noite.

Esta manhã, gostaria de agradecer a todos os cidadãos ucranianos que, a pedido dos nossos trabalhadores da energia, reduziram ontem o consumo de eletricidade em mais de 26%. Desta forma, tornaram possível restaurar as infra-estruturas energéticas destruídas das nossas cidades. Gostaria de me curvar para agradecer às nossas forças antiaéreas ucranianas, que derrubaram quase metade dos mísseis russos ontem. E assim não permitiram que a mão assassina do agressor destruísse mais cidades e aldeias.

Hoje, esta manhã, sob o som das sirenes de ataque aéreo, agradecemos ao Senhor Deus por estarmos vivos. Agradecemos por nossos defensores, meninas e meninos, nossos soldados, socorristas, todos aqueles que salvam vidas na Ucrânia hoje.

Estamos entristecidos pela dor infligida ao nosso povo, mas a suportamos com firmeza e sabedoria. Juntamente com nosso Salvador crucificado, dizemos: Ó Deus, abençoe a Ucrânia! Ó Deus, abençoe nossa Pátria com Tua justa paz celestial!

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade,  agora e para todo e sempre, amém!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+

Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
11.10.2022

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11 outubro 2022, 22:36