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Cuidar do outro em meio à sociedade que descuida

“O que fizer ao menor dos meus irmãos, a mim o fazeis”. (Mt 25,40) Em tempos de relativismos e desrespeito o cuidado com o planeta e todos os seres vivos é essencial para um futuro melhor.

Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves – Professor e Teólogo

Diante de tantos desafios e inúmeros problemas sociais, políticos econômicos e ambientais, o ser humano necessita escutar o próximo. Como seria nossa vida se não fosse o cuidado com o outro? Pais e responsáveis demonstram carinho e cuidado com a criança quando nasce e se colocam atentos às suas necessidades e fragilidades. Nós, ao crescermos, vamos moldando nossa personalidade e trilhando nossos próprios caminhos e destinos. Mas infelizmente diante de um modelo econômico excludente, estamos vivendo uma realidade em que o individuo não é respeitado e é apenas descartado.

Em tempos de relativismos e desrespeito o cuidado com o planeta e todos os seres vivos é essencial para um futuro melhor. Desta forma, Papa Francisco os apresenta a preocupação com o modo como a humanidade vive hoje sob o poder tecnológico e que o ser humano se tornou um mero objeto a ser possuído, dominado e consumido. (cf. Laudato Si, 106).

Diante dos desafios, somos chamados a participar do processo de reinvenção do cotidiano. Para tanto, é necessário ter cuidado com a vida, respeitar o próximo e, principalmente, as gerações. O mês de setembro é destinado a Prevenção ao Suicídio, um tema delicado e bem complexo. O suicídio aparece entre as 20 principais causas de morte no mundo, para pessoas de todas as idades. E pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, entendendo que o ato do suicídio não é uma busca de eliminação da vida, mas de eliminar o sofrimento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em 17 de junho deste ano a informação de que “A depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia”, esse dado acende a luz de alerta para a condição de todos e todas ao longo de quase dois anos de pandemia. As pessoas com problemas psicológicos ou que passam por problemas como o suicídio precisam de apoio, com isso todos os 194 Estados Membros da OMS assinaram o Plano de Ação Integral de Saúde Mental 2013–2030, que os compromete com metas globais para transformar a saúde mental.

Para tanto, só será possível uma real mudança se mudarmos a nossa conduta ética e moral, pois uma conduta moral duvidosa, sem apreço à vida, nos leva a deixar de vivenciar os melhores momentos e, acima de tudo, desrespeitar aqueles que sofrem com algum problema e não darmos a devidas importância ao sofrimento das pessoas.  Por isso, ter esperança, ou esperançar, é ter iniciativa, é ir ao encontro, é buscar ouvir os que mais precisam.

É preciso, urgentemente, se fazer ouvir e articular o maior crescimento da consciência humana sobre o que é ser humano. A forma como se trata o tema ainda é um tabu. Durante séculos de nossa história, por razões religiosas, morais e culturais, falar do tema do suicídio era algo proibido e, principalmente, um pecado, por esta razão, ainda temos medo e/ou certa vergonha de comentar sobre o assunto.

De fato, ao falar desta realidade, estamos inseridos na sociedade que vive o problema forma global e não se deixa abrir ao debate consciente. O tabu sobre a questão do suicídio perdeu a força diante dos inúmeros casos de problemas oriundos da pandemia. Hoje, frente à realidade, é urgente refletir sobre o bem-estar do próximo e não apenas no nosso. É a partir desta concepção que devemos observar na realidade sem receios e entender como tratar o outro, principalmente na escuta enquanto membro da sociedade e no período pandêmico que vivemos e estamos, ainda vivendo.

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É preciso cultivar o caminho ético, sem preconceitos e comentários maldosos. Que a nossa conduta moral seja pautada por regras que devem ser respeitadas por cada um. Para tanto, é preciso se comprometer com a cultura do encontro e do diálogo para que possamos nos comprometer com a vida de cada um e ser mais solidários com a dor e a realidade do outro.

Assim, dotados dessa responsabilidade é urgente pensar que os projetos de formação da educação para o humanismo solidário têm por foco principal a ação consciente de cada um na construção de uma Educação para o humanismo solidário e que haja uma verdadeira inclusão de todos nesta realidade. O tema do mês de setembro é uma forma de falar com respeito diante da realidade do suicídio.

Nesse contexto, precisamos observar o caminho que seguimos e os exemplos que podemos dar em nossa realidade. Entre eles temos que alimentar o desejo de uma sociedade mais humana e exercitar o amor ao próximo por meio de gestos de solidariedade.

Devemos seguir o exemplo de Jesus: sua ética, seu comportamento, seu caráter, seu modo de ser e de agir. Ele assumiu uma conduta autêntica em uma sociedade contrária a tudo que ele pregava. Ele veio transformar o mundo, a começar pela sociedade de sua época. Assim, tratar o próximo com respeito é fazer valer o amor criador de Deus e sua proposta para o ser humano: “O que fizer ao menor dos meus irmãos, a mim o fazeis”. (Mt 25,40). Por isso, cuidar do outro, escutá-lo e fazer um processo de encontro é a base das nossas relações.

Professor de Teologia do Instituto Teológico Franciscano (ITF) - Petrópolis (RJ)

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21 outubro 2022, 09:44