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A Igreja no Camboja A Igreja no Camboja 

Camboja. Outubro Missionário: uma amizade transformada em ação pastoral

Um missionário francês e um sacerdote cambojano contribuem, como bons amigos e com estima e apoio recíproco, para a missão da Igreja no Camboja, "segundo a vontade de Deus e para sua maior glória"

Paolo Affatato

Esta história poderia se chamar o peixe e a tartaruga. Um é como um peixe, o outro se identifica com uma tartaruga. O primeiro, um missionário francês, dócil e rápido como uma criatura do mar; o segundo, um padre cambojano, manso, pacífico e tenaz como o animal com sólida couraça. Ambos contribuem, como bons amigos e com estima e apoio recíproco, para a missão da Igreja no Camboja, "segundo a vontade de Deus e para sua maior glória", afirmam. Dom Olivier Michel Marie Schmitthaeusler, bispo francês da Sociedade de Missões Estrangeiras de Paris (Mep), e o presbítero cambojano Pierre Suon Hangly sabem que se complementam na sua ação pastoral, vivem a escuta recíproca e compartilham o desejo de testemunhar e anunciar o amor de Deus ao povo deste pequeno país do sudeste asiático onde, após o período trágico do regime dos Khmers Vermelhos (1975-1979), a fé cristã refloresceu.

Sorriso e peregrinação de diálogo com os budistas

Desde que pisou em solo cambojano, há 20 anos, Dom Olivier foi apreciado por monges e cidadãos budistas que notaram seu compromisso com a sociedade. Ele chegou ao Camboja em 1998, na área de Kampot Takéo, e quando chegou à aldeia de Chamkar Teang, encontrou lá apenas um cristão. Sem perder a coragem, começou a trabalhar para construir uma estrada de 1200 metros ligando o vilarejo com o pagode Ang Monrei. Dinâmico e sempre pronto a disponibilizar recursos, amizades, relações com doadores europeus, ele criou as primeiras instituições educacionais da região, introduzindo também projetos de formação e encaminhamento profissional no campo do artesanato que permitiram que a população local encontrasse trabalho e preservasse as tradições locais. Os funcionários do governo local ficaram surpresos e animados ao ver que o novo sacerdote católico estava agindo como uma ponte entre as comunidades religiosas através das suas obras, o seu sorriso e a sua incansável peregrinação de diálogo com os líderes budistas.

"Era muito importante que a Igreja Católica pudesse oferecer sua total colaboração para reconstruir um sistema educacional deixado ao abandono após o regime do Khmer Vermelho dos anos 70", recorda o missionário. Durante a longa guerra civil e o regime do Khmer Vermelho, que causou a morte de pelo menos 2 milhões de pessoas, o catolicismo quase se extinguiu no Camboja. Os missionários retornaram após o final da guerra civil nos anos 90, acompanhando o caminho do renascimento. Além das atividades pastorais com crianças, jovens e famílias, Dom Olivier é responsável pela criação de obras como a creche e a escola São Francisco (em 2003), o Centro de Vida JJoão Paulo II dedicado principalmente a famílias com casos de Aids (em 2006) e o Instituto Superior de Informática e Agricultura São Paulo na província de Takéo (em 2009). Nesse mesmo ano, Bento XVI o nomeou Vigário Apostólico coadjutor de Phnom-Penh e no ano seguinte Vigário Apostólico de Phnom-Penh.

Caridade de Cristo, obra de misericórdia

A missão de guiar e confirmar na fé a comunidade católica khmer na fé o absorve, dá-lhe um renovado entusiasmo. Não é por nada que seu lema episcopal é Caritas Christi urget nos, porque "a caridade de Cristo nos leva ao nosso próximo, para dar uma mensagem e uma obra de misericórdia", observa. Em seu serviço apostólico, a imagem do peixe, uma criatura que está sempre em movimento, é particularmente adequada a ele: "O peixe", recorda o bispo, "sendo um animal que vive debaixo d'água sem se afogar, simboliza Cristo, que pode entrar na morte permanecendo vivo, ressuscitando e dando salvação a todos". Essa imagem está impressa na minha memória e no meu coração".

Espiritualidade contemplativa

Porém, o peixe precisa se confrontar e se relacionar com a tartaruga, um ser vivo com um caráter completamente oposto. Pierre Suon Hangly era um cambojano de 26 anos de idade com grandes esperanças quando Dom Olivier desembarcou no país. Com um caráter reservado e reflexivo, atento à interioridade, ele tinha encontrado Cristo Jesus e descoberto em seu coração o chamado à vida sacerdotal. A sua vocação foi uma das primeiras vocações sacerdotais nativas no Camboja após o renascimento da fé. Graças ao valioso acompanhamento espiritual de sacerdotes, missionários e religiosas vindos do exterior, padre Hangly completou seu caminho de discernimento e os estudos no seminário e foi ordenado sacerdote em 2001 em Phnom-Penh. No ano seguinte, ele se tornou pároco em Kampot Takéo, e ali nasceu e se desenvolveu a profunda amizade entre 'o peixe' e 'a tartaruga'. Foram cinco anos de incansável serviço pastoral, entre a paixão missionária de Olivier e a espiritualidade contemplativa de Pierre; entre as ideias de contínuas novas obras sociais (de Dom Olivier, por um lado) e a escuta profunda das famílias, histórias, sofrimentos (do padre Hangly, por outro). Os dois entendem que é precisamente sua união e colaboração que oferece um serviço eclesial particularmente fecundo e frutuoso para a evangelização.

Profunda comunhão espiritual

Por sugestão do missionário francês, padre Pierre fez o pedido e conseguiu continuar seus estudos no conhecido Institut Catholique de Paris, onde permaneceu oito anos para estudar teologia espiritual. Em 2015, ele retornou para casa e logo, por chamado de Dom Olivier, que nesse ínterim tinha sido nomeado bispo, tornou-se delegado do vicariato de Phnom-Penh e superior do seminário local. A ele é confiado o cuidado dos jovens que sentem o chamado para se tornarem "operários na vinha do Senhor". A parceria espiritual e pastoral entre o bispo e seu delegado é marcada pela plena harmonia, embora reconhecendo, explica Hangly, "os diferentes carismas para a construção do edifício da Igreja, segundo a vontade de Deus, porque estamos unidos por um só Senhor. Isto nos torna irmãos, sempre em profunda comunhão espiritual". Um belo dia, como um animal terrestre, ele também caiu das nuvens: o Papa Francisco (em 15 de julho) chamou-o, o primeiro cambojano nativo, para dirigir a prefeitura apostólica de Kompong-Cham, um dos três distritos eclesiásticos nos quais o Camboja está dividido, juntamente com o vicariato apostólico de Phnom-Penh e a prefeitura apostólica de Battambang. "Veio-me em mente a pergunta de Jesus a Pedro: 'Tu me amas? Se assim for, apascenta as minhas ovelhas". Estas palavras permanecem no meu coração e me lembram que Deus me chamou para servir a sua Igreja no Camboja", comenta padre Pierre Suon Hangly (assumiu como prefeito em 1º de outubro).

Seja peixe ou tartaruga, a missão é sempre a mesma: o anúncio e o testemunho do amor de Deus.

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20 outubro 2022, 09:38