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Mulher ao lado de caixas enquanto pessoas recebem ajuda humanitária organizada pelo município e pelo Programa Mundial de Alimentos, em meio à invasão da Rússia, em Kramatorsk, região de Donetsk, Ucrânia, 6 de setembro de 2022. REUTERS/Ammar Awad Mulher ao lado de caixas enquanto pessoas recebem ajuda humanitária organizada pelo município e pelo Programa Mundial de Alimentos, em meio à invasão da Rússia, em Kramatorsk, região de Donetsk, Ucrânia, 6 de setembro de 2022. REUTERS/Ammar Awad 

Ucrânia vive uma catástrofe total, diz arcebispo greco-católico

Falando em um fórum on-line organizado pela Ação Católica, o arcebispo greco-católico de Kiev recorda o sofrimento da população nos mais de duzentos dias desde o início da invasão russa. Quase seis mil civis mortos, mais de 14 milhões de deslocados, 1,5 milhão de crianças em risco de fome.

Michele Raviart - Cidade do Vaticano

Na Ucrânia existe o risco de um desastre nuclear "maior que o de Chernobyl", porque as tropas russas não apenas atacaram a usina nuclear de Zaporizhia, mas também declararam que as outras usinas presentes em território ucraniano também devem ser consideradas como um objetivo.

O alerta é do arcebispo greco-católico de Kiev, Sviatoslav Shevchuk, que na noite de terça-feira se pronunciou no encontro on-line "Mar Negro Agorà", organizado pelo Fórum Internacional da Ação Católica. Desde 2014, jovens do movimento organizam iniciativa sob o bandeira da fraternidade e da troca de experiências entre os países do Leste Europeu.

Quase seis mil civis mortos em violações do direito internacional

 

O último encontro desta natureza havia sido realizado precisamente na Ucrânia, em Odessa, em 2019. Agora, diante dos participantes conectados de 20 países, Sua Beatitude Shevchuk recordou alguns dos dados fornecidos pelas autoridades ucranianas sobre a situação humanitária no país 200 dias desde o início da invasão russa e atualizado até 9 de setembro passado.

De acordo com o Escritório do defensor cívico da Ucrânia, que apresenta dados registrados oficialmente pelo governo, os civis mortos segundo a Missão de monitoramento dos Direitos Humanos das Nações Unidas são 5.718, enquanto os feridos são 8.199. Entre as vítimas fatais, 383 são crianças, além de outras 743 feridas.

Uma cifra muito distante da realidade, apontou Shevchuk. "Só na cidade de Mariupol - disse ele - mais de 200.000 civis foram mortos e agora estão em valas comuns ou nem sequer tiveram um sepultamento adequado".

Assassinatos de população civil e bombardeios de cidades e alvos civis, assim como a morte de crianças, recorda o Escritório do defensor cívico da Ucrânia, violam o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, as quatro Convenções de Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais, além das Convenções de Haia e das Nações Unidas sobre os direitos da criança.

Mais de 200 locais de culto destruídos ou danificados

 

Ademais, os bombardeios russos destruíram ou danificaram mais de 130.000 prédios e casas, incluindo 2.472 escolas, das quais 764 creches e cerca de 300 sem nenhuma possibilidade de serem reformadas. 

Também foram atingidos 903 hospitais e unidades de saúde - 127 totalmente destruídos -, 481 farmácias, mais de 500 prédios administrativos, 18 aeroportos, quatro portos, 309 pontes, além de museus, lojas, 25.000 quilômetros de estradas e 205 entre igrejas, templos e mesquitas .

Uma catástrofe humanitária

 

É difícil explicar em palavras o que se está vivendo, afirmou o arcebispo de Kiev, que disse nunca ter imaginado, ao retornar ao seu país da Argentina onde guiou a Igreja Greco-Católica ucraniana em 2011, ter que ver "pessoas torturadas e fuziladas em valas comuns, cidades e aldeias inteiras destruídas e arrasadas" e uma terra que se chamava "o celeiro da Europa" tornar-se palco de "uma catástrofe humanitária".

Mais de um milhão e meio de crianças correm o risco de passar fome

 

A guerra e os bombardeios deixaram mais de 3,5 milhões de pessoas desabrigadas, 1,4 milhão sem acesso à água, 4,6 milhões com acesso limitado e 1,6 milhão de crianças – metade das que ainda estão em casa – que correm o risco de viver à beira da fome e da escassez de alimentos.

Pessoas deslocadas internamente

 

A fuga da Ucrânia é outra grande consequência da invasão russa que começou em 24 de fevereiro. Também neste caso é difícil ter números exatos. Para ACNUR, mais de 12 milhões de pessoas cruzaram as fronteiras ucranianas, incluindo 10 para países da UE, onde a maioria foi registrada como refugiada ou solicitou proteção temporária. O número de deslocados internos, por outro lado, varia de 4,5 milhões pelo Ministério de Políticas Sociais da Ucrânia a 6,8 milhões relatados pelo ACNUR.

Mais de 4 milhões de deportados pelo exército russo

 

Particularmente graves são as acusações contra o exército russo de deportações forçadas e mobilização da população. Citando a mídia russa, o documento ucraniano fala de 4 milhões de pessoas, incluindo 628 mil crianças, que foram deportadas para o território da Federação Russa.

Foram também criados 652 centros de acolhimento temporário que acolhem atualmente 33.000 pessoas. Na região de Kharkiv, nos últimos dias, homens em idade de alistamento foram detidos e levados para os centros de recrutamento das cidades ocupadas. Comportamentos que violam os artigos 49 e 51 da Convenção de Genebra sobre a Proteção das Pessoas Civis em Tempo de Guerra.

Shevchuk: da Cruz, a fonte da vida

 

Neste contexto, porém, recorda todavia o arcebispo Shevchuk, “o povo ucraniano ainda resiste, mesmo que as tropas armadas que ainda estão na Ucrânia sejam mais numerosas”. O povo ucraniano “disse não à escravidão. Esta guerra contra nós é uma típica guerra colonial, no coração da Europa!". Além disso, conclui o arcebispo greco-católico, os ucranianos têm esperança porque são crentes: “Cremos em Deus, a nossa fé cristã é a fonte da nossa esperança. Porque se alguém olhar para a terra na Ucrânia hoje, chora. Mas quando levanta os olhos e contempla o Senhor exaltado na Cruz, se alegra. Porque é desta Cruz que vem até nós a fonte da vida”.

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15 setembro 2022, 08:12