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Ucranianas choram durante manifestação em Mariupol contra a invasão russa, em 30 de abril. REUTERS/Gleb Garanich Ucranianas choram durante manifestação em Mariupol contra a invasão russa, em 30 de abril. REUTERS/Gleb Garanich 

Administrador Apostólico de Aleppo: "A guerra não é justa: é guerra e basta"

“A salvação não vem das armas, instrumentos que matam as pessoas. E para aqueles que tentam justificar suas estratégias recorrendo às fórmulas de ‘guerra justa’ ou até ‘guerra santa’, o Administrador Apostólico responde que é inútil jogar com definições de ‘guerra justa’ ou ‘guerra injusta’, porque ‘guerra é guerra e basta’, que causa mortes e sofrimentos”.

O padre Raimundo Girgis, frade menor da Custódia da Terra Santa que se encontra na Síria, faz as seguintes observações sobre as consequências devastadoras do conflito que eclodiu no coração da Europa:

“Vejo milhares de mulheres e crianças obrigadas a deixar suas casas por causa da guerra na Ucrânia. Recordo os milhões de sírios deslocados e refugiados. A mesma coisa aconteceu conosco. Por isso, sinto-me próximo a eles. Aliás, agora devemos olhar apenas para eles e fazer todo o possível para aliviar seu sofrimento, sem nos perdermos em discussões inúteis ‘se as guerras são justas ou injustas’”.

Em 29 de junho o Papa Francisco nomeou o franciscano padre Raimundo Girgis como Administrador Apostólico "sede vacante" do Vicariato Apostólico de Aleppo dos Latinos, na Síria. Ele faz algumas considerações, com base nas guerras e armadilhas, que subvertem os cenários geopolíticos globais:

“Os bairros destruídos das cidades ucranianas recordam a devastação que, ainda hoje, estraçalha o tecido urbano da metrópole da Síria, consequência do conflito que ensanguentou essa terra por 10 anos”. E acrescenta: “Também na Síria são sentidas as consequências fortes e diretas do conflito na Ucrânia, que se somam aos efeitos devastadores que envolveram milhões de sírios, causados pelas sanções do Ocidente contra o governo de Damasco e pela crise pandêmica. Muitas famílias cristãs e muçulmanas fazem um esforço, que vai além das suas forças humanas, para suprir as necessidades mais elementares da vida cotidiana. Assim, olham o futuro com grande tribulação, pois falta eletricidade, gasolina e remédios. Quando a guerra acabou, as pessoas esperavam melhorar seu estilo de vida. Mas agora, com o conflito na Ucrânia, essas perspectivas se dissiparam novamente. Com as novas tragédias, as ajudas diminuíram e até parece que a comunidade internacional tenha se esquecido do povo sírio”.

A Rússia de Putin desempenhou um papel crucial em condicionar o destino do conflito sírio. Porém, padre Girgis não pretende entrar nas questões políticas sobre as responsabilidades e as causas do conflito que assola a Ucrânia: "Não temos uma ideia clara sobre quem é culpado pelo conflito na Europa e em outras partes do mundo. Estamos sempre, ‘a priori’, do lado da paz. Esta deve ser nossa linguagem, como discípulos de Cristo. Só isso é que conta para nós. O mundo inteiro precisa de paz e de ver o fim das guerras”.

Trata-se de uma urgência, segundo o sacerdote, que não pode ser contornada por sofismas ou argumentos manipuladores. Para quem diz que, ‘para prevalecer a paz e a justiça e abater os regimes, é preciso aumentar o uso de armas’, o Administrador Apostólico da cidade mártir de Aleppo afirma: “A salvação não vem das armas, instrumentos que matam as pessoas. E para aqueles que tentam justificar suas estratégias recorrendo às fórmulas de ‘guerra justa’ ou até ‘guerra santa’, o Administrador Apostólico responde que é inútil jogar com definições de ‘guerra justa’ ou ‘guerra injusta’, porque ‘guerra é guerra e basta’, que causa mortes e sofrimentos”.

Neste cenário, repleto de acontecimentos que pesam nos corações, padre Raimundo conclui dizendo à Agência Fides: “As comunidades sírio-católicas estão vivendo, nestes últimos meses, um período de encontros e acampamentos para crianças e jovens, a fim de compartilhar juntas conforto espiritual. Todos esperam que a graça possa manter a fé e a esperança dos batizados, nestes tempos difíceis”.

Quem é padre Raimundo Girgis?

 

Raimundo Girgis nasceu em Damasco, em 1967. Recebeu o hábito franciscano na Basílica de Santa Maria dos Anjos, na cidade italiana de Assis, em 25 de agosto de 1988. Em outubro de 1992 fez sua Profissão solene e, em 23 de julho de 1993, foi ordenado sacerdote em Latakia, Síria, após concluir seus estudos na Universidade de Teologia dos Franciscanos de Jerusalém.

Padre Raimundo recebeu também o diploma e o doutorado em Direito Canônico Oriental no Pontifício Instituto Oriental. Publicou sua tese de doutorado em 2002 sobre os “Matrimônios mistos nas diversas situações das Igrejas Patriarcais Católicas da Síria, Líbano, Jordânia e Egito”. Publicou ainda, na revista “Collectanea Orientalia” um estudo jurídico sobre o “Clero casado na antiga legislação das Igrejas Orientais”.

*Com Agência Fides

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10 julho 2022, 07:24