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Seminaristas refletem relação entre missão ad gentes e magistério da Igreja

No 4º Congresso Missionário Nacional de Seminaristas, o 4Cominse, que acontece até domingo (17) em João Pessoa (PB), foi enaltecida uma fala do Papa Francisco, recordando que os discípulos organizavam sua vida pessoal em chave de missão, o que faz perceber que o missionário em si também é a mensagem, quando vive de forma autêntica, como verdadeira testemunha de Jesus Cristo.

Vatican News

O segundo dia de conferências do 4º Congresso Missionário de Seminaristas (4COMINSE) teve como proposta voltar o olhar para o que o magistério da Igreja ensina sobre a missão ad gentes. A temática foi exposta pela superiora provincial das Irmãs da Imaculada, Ir. Regina da Costa Pedro PIME, dentro do objetivo de abordar o discernimento do discípulo missionário.

A religiosa explicou que desde as origens das primeiras comunidades cristãs até o Concílio Vaticano II houve diversas mudanças de paradigmas com relação ao entendimento do sentido de missão. Nos primórdios do Cristianismo, era vigente um paradigma missionário da clandestinidade, caracterizado pelas pequenas comunidades que desenvolviam uma evangelização por “osmose”, contagiando cada membro através do testemunho.

Ir. Regina apresentou em sua conferência as diversas formas que a Igreja viveu e compreendeu a missão ao longo da história. A realização do Concílio Ecumênico Vaticano II marca a mudança do paradigma missionário da conquista para o da manifestação do amor trinitário, quando acontece uma revolução no conceito de missão, que passa a ser entendido como essência estruturante da identidade da Igreja. A missão deixa de ser vista apenas como uma obra para promover a expansão eclesial, mas algo que a própria Igreja é. Dessa forma, o Concílio resgata o verdadeiro significado missionário, e de forma específica o tema da missão entre os povos, que é abordado pelo decreto conciliar Ad gentes, sobre a atividade missionária da Igreja.

Como explica a Ir. Regina, “a missão diz respeito aquilo que Deus é, e não ao que Deus faz. Ela nasce no impulso divino, do amor de Deus para conosco, e cresce no nosso amor para com os outros”. O anúncio da boa nova é, portanto, um compromisso de caridade com os que ainda não foram evangelizados, buscando o respeito e o diálogo entre os interlocutores da missão.

Missão ad gentes nos documentos da Igreja

A conferencista explicou ainda o desdobramento da missão ad gentes no período pós conciliar através de outros documentos do magistério da Igreja. A Evangelii Nuntiandi, promulgada pelo Papa Paulo VI em 1975, surge em uma época em que a ideia de missão era bastante questionada. O documento traz para discussão temas como inculturação, libertação e diálogo. Já a Redemptoris Missio, publicada em 1990, expõe um convite do Papa João Paulo II para um renovado empenho missionário, propondo encarnar o Evangelho na cultura do povo, o diálogo com outras religiões e a promoção do desenvolvimento através da formação da consciência. Faz um grande destaque para a missão ad gentes, buscando aproveitar as novas oportunidades que o mundo oferece à Igreja, como o incremento das comunicações, por exemplo.

Outro documento exposto pela palestrante foi o Diálogo e Anúncio, publicado em 1991, voltado para o diálogo inter-religioso como parte integrante da atividade missionária da Igreja. Ensina que a missão precisa voltar-se para o anúncio, através de um diálogo equilibrado, aberto, acolhedor e com aceitação das diferenças. O documento de Aparecida também faz um apelo missionário, para os cristãos enfrentarem com coragem a missão nas novas circunstâncias latino-americanas, convidando à partilha da pobreza e da alegria da fé. Apresenta algumas saídas estratégicas, que mais tarde são retomadas pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium: a saída das estruturas caducas, saída de si mesmo, dos relacionamentos excessivamente hierárquicos, de uma pastoral de manutenção e a saída das fronteiras.

Estar aberto ao chamado

Para o seminarista Michael da Silva Souza, da Arquidiocese da Paraíba, aprofundar o conhecimento sobre a missão ad gentes tem sido uma etapa muito importante para o processo de formação rumo ao sacerdócio. “Acredito que as conferências deste 4COMINSE tem incrementado no coração de todos os seminaristas participantes o desejo de estar aberto a este apelo missionário que a Igreja faz para cada um de nós. Assim como exposto pela Ir. Regina, precisamos viver com seriedade esta conversão missionária que estamos aprendendo aqui”, destacou.

Painel temático

Após a conferência os seminaristas participaram do segundo painel temático do Congresso, que nesta quarta-feira teve a presença de D. José Altemir da Silva, da Ir. Sandra Amado e do Pe. Daniel Roccheti.

O bispo enfatizou a fala do Papa Francisco, recordando que os discípulos organizavam sua vida pessoal em chave de missão, o que faz perceber que o missionário em si também é a mensagem, quando vive de forma autêntica, como verdadeira testemunha de Jesus Cristo. A Ir. Sandra lembrou que a missão ad gentes está no coração da missão, e que deve ser simples, fixando-se em Jesus e na sua missão de anunciar o Reino de Deus, buscando responder os desafios da Igreja contemporânea.

Por fim o Pe. Daniel agradeceu aos seminaristas pela disposição de servir a Deus e de continuar o trabalho missionário. O sacerdote enfatizou que o desafio da missão cresce com o tempo e que o contexto histórico pede uma resposta missionária adequada, exigindo dos seminaristas uma atenção a essas exigências, procurando dar razões à fé de um jeito próprio, de acordo com os desafios que se colocam hoje.

Experiências missionárias

O seminarista Vinicius Paiva, da Arquidiocese da Paraíba e membro da Comunidade Nova Berith, partilhou sua experiência de 3 anos em Guiné Bissau, onde teve contato com pessoas que nunca tinham ouvido falar sobre Jesus Cristo. Para ele, apesar de inicialmente não se sentir capacitado para a missão, a oportunidade representou uma grande graça divina. “Ter vivido aquela missão me ensinou a me comunicar melhor com as pessoas, para poder entrar na vida de cada uma delas, para entender a cultura, a realidade e vivenciar as experiências locais. Aprendi o diálogo, o respeito com outras religiões, sem precisar esquecer de minhas convicções”.

O Padre Kleverton, da Comunidade Doce Mãe de Deus trouxe para os seminaristas sua experiência missionária que teve início na diocese de Guarabira/PB e depois em Maceió/AL. Em seguida, o padre foi enviado para a França, onde desenvolveu sua missão durante 12 anos, com o desafio de mostrar aos jovens europeus a beleza e a atualidade da mensagem cristã. Para ele, a missão constitui um importante processo de descida, necessário para o encontro com o outro, com o diferente. Precisamos enxergar as realidades difíceis não como uma impossibilidade para a missão, mas como um grande potencial missionário, de uma realidade que necessita conhecer o Evangelho.

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15 julho 2022, 17:11