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Evangelizar em meio à guerra: a experiência do Pe. Lucas em Kiev

"A nossa missão é sobretudo evangelizar, mudar o coração das pessoas. Quando Deus muda o coração das pessoas isso sim resolve o problema", afirma o brasileiro que atua na capital ucraniana. Para ele, a guerra se transformou em ocasião de evangelização.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Cem dias de guerra: a rotina do sacerdote brasileiro Lucas  Perozzi Jorge mudou algumas vezes neste período, mas intacta foi e ainda é a decisão de permanecer em Kiev, capital ucraniana.

A notícia do ataque russo provocou horror e consternação na comunidade internacional, mas quem sofreu na pele a radical mudança de vida foi a população ucraniana. Quem pôde, fugiu. Quem ficou, teve a vida suspensa e trancafiada em bunkers.

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A Igreja da Dormição da Santíssima Virgem Maria, da qual pe. Lucas é vigário, logo abriu as portas para acolher dezenas de pessoas que ali pernoitavam por uma questão de segurança.

Hoje, todos voltaram para suas casas. O acolhimento deu lugar à distribuição de ajudas humanitárias, que se tornou ocasião de evangelização.

“Esta foi uma experiência bastante legal, porque primeiramente a nossa missão não é dar ajuda humanitária. A missão da Igreja, a nossa missão é evangelizar, porque sabemos que podemos ajudar um pouco dando algo para comer ou vestir para as pessoas, mas depois de um tempo isso vai acabar. A nossa missão é sobretudo evangelizar, mudar o coração das pessoas. Quando Deus muda o coração das pessoas isso sim resolve o problema e não resolver essa situação superficialmente.”

No momento da entrega das ajudas, há sempre um padre para escutar o sofrimento e oferecer uma palavra de esperança e de coragem. Resultado: muitos que receberam alimentos, roupas e remédios pediram para ficar e ajudar, pessoas que não faziam parte da comunidade aderiram às iniciativas paroquiais.

Pe. Lucas fez questão de contar outro exemplo de conversão que ocorreu durante a Semana Santa. Na tradicional encenação do túmulo de Cristo, foi escolhido como cenário um dos símbolos da destruição da guerra, o prédio em Borodyanka, nos arredores da capital.

Encenação do túmulo de Cristo
Encenação do túmulo de Cristo

Um ucraniano, há anos afastado da religião, entrou na Igreja e ficou comovido vendo Cristo deitado entre os escombros, pois era um dos moradores do prédio. Ele propôs um encontro dos sacerdotes com os demais condôminos, todos desabrigados. Pe Lucas foi até ao local, levaou mantimentos e ali teve novamente a ocasião do anúncio, inclusive na presença do prefeito da cidade.

“Eles nos agradeceram muito, mas éramos nós que estávamos agradecidos, porque é muito interessante que não somos nós que estamos buscando as coisas como fazer, é Deus que nos coloca em tais situações para anunciar. Isso nos consola muito, porque não é coisa nossa, não estamos aqui para fazer um voluntariado. Nós estamos aqui com uma missão: anunciar Cristo a essas pessoas.”

A guerra ainda não acabou, mas Kiev está acolhendo a volta inúmeros refugiados, que voltam sem emprego, casa e bens. Apesar do cansaço, Pe. Lucas fala que está feliz. O inverno passou e com a primavera florescem também iniciativas, como um retiro com os jovens nas próximas semanas justamente para afastá-los do clima de guerra.

“Um grande abraço e continuem a rezar por nós.”

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04 junho 2022, 08:32