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Cristo ressuscitou Cristo ressuscitou 

Ressuscitou!

“Fazer a Páscoa” com Cristo significa fazer a passagem mais importante de nossas vidas, da morte para a vida, e, consequentemente, ser testemunha hoje de Cristo Ressuscitado.

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

A ressurreição de Jesus continua sendo o grande anúncio que todo cristão professa e anuncia, que, além de compreender e viver os seus mistérios, promove a abertura do coração e a docilidade as moções do Espírito Santo.

A fé no Ressuscitado é medida e fortalecida na vida de cada dia; em nossos relacionamentos quotidianos. Somos todos “homens e mulheres pascais” e “testemunhas da ressurreição”. Precisamos, por isso, viver anunciando o Kerigma, a Boa Notícia. A fé estará sempre ameaçada por dentro e por fora e, muitas vezes, somos provados “como ouro no crisol” (Pr 17,3).

“Fazer a Páscoa” com Cristo significa fazer a passagem mais importante de nossas vidas, da morte para a vida, e, consequentemente, ser testemunha hoje de Cristo Ressuscitado. Com Cristo a noite e as trevas são vencidas porque sempre chega a aurora com a estrela da manhã. Significa também suportar com força e alegria o que em nós, na sociedade, na própria comunidade eclesial, põe à prova, parece cinzento e obscuro, tentação e contradição. Devemos ir além do que se sente e vê o contrário para que pareça que o pecado e a morte ainda dominam o mundo. Nós enxergamos com os olhos da fé: Cristo está vivo e ressuscitado e vive entre nós.

Para isso é importante o silêncio interior e a cada dia contemplar as maravilhas do Senhor, sempre presentes entre as formas retorcidas da vida. Se alguém para de rezar, coloca a sua fé em risco. Se uma comunidade eclesial não se expande na oração e na contemplação da verdade, torna-se apenas uma justaposição de pessoas.

A formação na oração, juntamente com a tensão escatológica, são o foco de cada cristão e de cada comunidade eclesial continuamente em construção. Somos “ressuscitados” com Cristo porque, pelo Batismo, somos “massa nova”, “pão sem fermento da sinceridade e da verdade”. Continuamos a caminhar e crescer nesta novidade com a frequência ao sacramento da reconciliação e, sobretudo, com plena participação na Eucaristia, “fonte e cume de toda a vida sacramental da Igreja”. A vida pascal do cristão é estruturalmente sacramental. Este é um ponto decisivo para a fé e a pastoral da Igreja. Sabemos que, em primeiro lugar, devemos “deixar-nos guiar por Cristo” para responder ao seu senhorio com o “Evangelho vivido”: “as palavras movem, os exemplos arrastam”, e, cada cristão chamado a viver a Páscoa, não deve se esquecer de responder ao chamado para testemunhar - ser discípulo-missionário é estar continuamente à espreita contemplando o seu Senhor nos seus mistérios e consequentemente, de modo concomitante, sendo agente do anúncio, no cumprimento continuo da sua missão, como agente da missionaridade, onde quer que esteja vivendo o seu dever de estado, como leigo, consagrado ou clérigo. Sempre testemunhando o Senhor.

A solenidade da Páscoa não nos pode nos fazer parar na pessoa e na comunidade eclesial que se forma. Se queremos ser “homens e mulheres pascais”, não podemos nos fechar em nós mesmos e na comunidade dos “ressuscitados com Cristo”: somos chamados a ir além, aos confins do mundo para proclamar a grande notícia.

As passagens dos evangelhos do domingo de Páscoa mostram-nos um grande movimento das mulheres e dos discípulos de Cristo em direção ao seu túmulo vazio e depois do túmulo, aos irmãos. Como se fosse um apelo contínuo para tenhamos sempre a coerência entre a fé e a vida. Assim foi com as mulheres que tendo visto o túmulo vazio e escutado os anjos saíram para anunciar a grande notícia. Um movimento trêmulo e ainda incerto, mas durante o qual já é dado o comando: “Vá e anuncie”. Esse “vai”, que no tempo pascal se torna cada vez mais intenso, está aberto ao mundo inteiro e também um “viva e anuncie”, já que o que vivemos e concretamente testemunhamos levará muitos a acreditarem no que dizemos pela graça do Espírito Santo.

O compromisso da fé pascal, ao mesmo tempo que nos impele a ser, na Igreja e com a Igreja, povo dos “ressuscitados” com Cristo, ilumina o nosso espírito missionário constitutivo. Não somos um povo “segundo a carne”, mas a nova “assembleia de caridade” que já não tem casa nem terra (como indicam etimologicamente os termos “paróquia” e “paroquianos”), que é a alma de toda a mundo e deve “ir... até os confins da terra” (At 1,8). Aliás, o encontro com o Ressuscitado no momento da pesca milagrosa demonstra que o encontramos também na missão.

As nossas comunidades eclesiais, as famílias cristãs, devem rever a sua relação com quem não tem fé, com quem a perdeu, com quem mantém um vago sentido religioso sem prática cristã. Na prática, todos nós temos que nos perguntar o quanto somos pessoas do “anúncio”. A “nova evangelização”, também é necessária entre nós, exige-a com cada vez maior urgência.

É importante encontrar um sentido único para a nossa vida, porque senão continuaremos sempre divididos, fragmentados, rompidos, jogados de um lado para o outro. Se temos um sentido na família, outro no trabalho, um terceiro na igreja, um quarto no lazer não posso ser uma pessoa acomodada. Isso é ainda mais verdadeiro hoje, bombardeados como somos por mensagens que nos puxam de todos os lados, que nos despedaçam.

Devemos nos lembrar continuamente de Jesus, Deus e homem verdadeiro, e de sua história. De que maneira? De várias maneiras, mas certamente a vida cristã oferece um meio particular para isso: a Eucaristia. “Fazei isso em memória de mim”. A Missa é o memorial do Senhor, da sua Palavra e da sua Páscoa. Ali podemos encontrar a luz que ilumina nossa vida, o “remédio da imortalidade, o antídoto para não morrer”. Ela é a nossa Páscoa cotidiana, onde clamamos: “anunciamos Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa Ressurreição”, e do mais profundo do nosso ser que se tornará eucaristizado “Vinde, Senhor Jesus!” = (“Maranathá!)

Iluminados por esta luz e amparados por esta memória da Páscoa, podemos arriscar-nos a ser nós mesmos sem nos camuflar no meio da multidão que dá segurança, sem nos refugiar atrás do grupo.

Senhor, concede-nos encontrar no teu mistério pascal a chave da nossa vida e encontrar-te vivo nesta Páscoa e em todos os sacramentos, em especial na Eucaristia.

Senhor Jesus Cristo, hoje resplandece em nós tua luz, fonte de vida e alegria! Dá-nos o teu Espírito de amor e de verdade, porque, como Maria Madalena, Pedro e João, também nós sabemos descobrir e interpretar à luz da Palavra os sinais da vida divina presentes no nosso mundo e acolhê-los com fé para sempre viver na alegria da sua presença ao nosso lado, mesmo quando tudo parece envolto na escuridão da tristeza e do mal. A esperança e paz trazidas pelos Ressuscitado fez com que todos nós, na luta pela vida, dom de Deus, pudéssemos vencer os males dos últimos anos, trazidos pelo vírus da Covid-19; boa parte de nossas comunidades começam a retomar a participação presencial na sua vida de fé com a participação mais ativa nas celebrações pascais. Que nunca desesperemos da misericórdia de Deus e que a nossa vida, no dia a dia, onde quer que estejamos e o que quer que façamos seja um contributo para que todos conheçam o Senhor e tenham a certeza da sua Ressurreição, penhor e garantia daquela dos que nele creem. Cristo Ressuscitou verdadeiramente, Aleluia! Santa Páscoa a todos e que a nossa vida seja um contínuo Aleluia, um louvor a Deus por todas as maravilhas de sua misericórdia tornadas concretas na nossa vida de fiéis de Cristo.

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17 abril 2022, 08:45