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Larissa Pereira Santos e Kelly da Silva visitam a Rádio Vaticano - Vatican News Larissa Pereira Santos e Kelly da Silva visitam a Rádio Vaticano - Vatican News

"As comunidades sentem os impactos negativos da mineração", dizem ativistas dos direitos humanos

As jovens Larissa Pereira Santos e Kelly da Silva fazem parte da Caravana Latino-americana para Ecologia Integral que está viajando pela Europa para denunciar as violações dos direitos humanos e os efeitos negativos da mineração sobre as comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas e centros urbanos.

Silvonei José/Mariangela Jaguraba – Vatican News

A Caravana Latino-americana para Ecologia Integral está na Europa. Comunidades latino-americanas martirizadas pela mineração denunciam violações dos direitos humanos e debatem sobre o cuidado da Casa comum.

A Caravana partiu do Brasil, Colômbia, Honduras e Equador com líderes comunitários, agentes pastorais, ativistas e pesquisadores. Chegou à Alemanha no dia 20 de março e depois veio para a Itália passando pela Bélgica. Terminará na Espanha no dia 6 de abril.

A jornalista e coordenadora política da "Organização Justiça nos Trilhos", Larissa Pereira Santos, que faz que faz parte da caravana, visitou a Rádio Vaticano – Vatican News e conversou com Silvonei José. Larissa trabalha na defesa dos direitos humanos e da natureza na Amazônia Brasileira.

Trabalho de sensibilização 

"Justiça os Trilhos, hoje, é uma organização de direitos humanos que apoia as comunidades que estão situadas ao longo de uma região que nós denominamos 'Corredor Carajás', por ser uma região afetada pela extração mineral na Amazônia Brasileira. Nós trabalhamos dando aporte às comunidades que estão situadas ao longo da logística de escoamento de transporte de minério de ferro extraído da Serra de Carajás no Estado do Pará. Estamos no Maranhão, Estado vizinho, onde essa logística perpassa e atravessa vinte e três municípios e dentro desses vinte e três municípios há centenas de comunidades, dentre elas quilombolas, ribeirinhas, centros urbanos, indígenas e todas elas sentem os impactos negativos da mineração que vão desde o escoamento do minério dentro dos trens em galpões abertos, à poluição do ar com minério em pó deixado nesses caminhos. O trem hoje é o maior trem do mundo que nós temos, com 330 vagões perpassando por comunidades pequenas, trechos isolados, comunidades rurais do Maranhão. Passa diariamente todas as horas. Temos um intervalo de cerca de 20 minutos entre um trem e outro perpassando por uma comunidade", disse Larissa.

A nossa entrevistada disse ainda que a passagem do trem "dura de 5 a 7 minutos em cada comunidade com mais de 300 vagões cheios de minério de ferro. Ele sai do Pará e vai até a capital do Maranhão onde chega aos portos e é exportado especialmente para China e na China este minério é transformado em carros, em materiais para a construção civil e chega até os países da Europa que são os países que estamos visitando nesta incidência internacional. Essas comunidades localizadas no interior do Maranhão sofrem com a poluição do ar, sofrem com a trepidação da terra provocada pela passagem do trem diariamente, sofrem com as rachaduras nas casas. A trepidação ocorrendo há quarenta anos, vai causando rachaduras nas casas e destruindo as moradias das comunidades. Então, a gente faz um trabalho de formação popular, de assessoria jurídica popular e de denúncia nacional e internacional desses impactos negativos sofridos por essas comunidades na Amazônia, no Maranhão, e no Estado do Pará".

Segundo Larissa, "as comunidades sentem o impacto na pele, a poluição no ar, o impacto no meio ambiente, o rio assoreado por conta da Estrada de Ferro Carajás", "mas a gente não consegue relacionar a dimensão global da ligação entre a empresa que está lá no território até o consumidor que compra o minério de ferro e está muito distante desses territórios", disse ela. "Então a gente está num trabalho de sensibilização para que todas as empresas, situadas ao longo dessa cadeia de valor, desde a mineradora que extrai na Serra de Carajás até o comprador que é beneficiado, os países da Europa a fora, possam se sentir corresponsáveis neste processo. A gente quer dizer que eles são corresponsáveis de todas as violações dos direitos humanos que essas comunidades sofrem ao longo desse caminho".

Beneficiamento do ferro para a produção de aviões e armas

Silvonei conversou também com Kelly da Silva, educadora popular e ativista social, formada pela "Organização Justiça nos Trilhos" que "faz formações políticas para que a comunidade impactada ela tenha consciência de ser fruto de direito que possa entender sobre seus direitos e assim se movimentar para que vá em busca. Piquiá de Baixo é impactada diretamente pelas indústrias de minério. Lá temos o impacto da linha de ferro, em relação ao pó, poluição que é lançada na atmosfera, fábricas de cimento, temos também o impedimento do acesso de ir e vir. Entre Piquiá de Baixo e Piquiá de Cima tem a BR onde passam os carros pesados carregando os minérios, onde as crianças precisam ir e vir, por causa da escola, e neste momento elas estão sujeitas a atropelamentos, como já aconteceu, não apenas por meios pesados, mas também quando atravessam a linha do trem. Somos vítimas de violações de direitos humanas, saúde, educação, direito de moradia digna.  Além da trepidação por causa do trem, os nossos imóveis são desvalorizados. Quem quer viver numa comunidade poluída? Ninguém. Estamos literalmente abandonados pelo poder público".

Segundo Kelly, "a mineração impõe divisões (...), existe somente a extração, o beneficiamento do ferro por conta da produção, da produção de aviões, da produção de armas, do consumo desregrado. Porque consumir é uma coisa, agora consumir em excesso, só vai nos lavar à morte, e pelo que vemos não é uma morte lenta".

Ouça a entrevista na íntegra

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31 março 2022, 15:41