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Cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil Cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil  

Cardeal Sergio da Rocha: Mansão da Misericórdia

A peregrinação ao Santuário do Bonfim, “mansão da misericórdia”, em busca da “justiça e da concórdia”, é sinal e recordação da longa peregrinação que acontece no dia a dia da vida dos inúmeros devotos e peregrinos do Senhor do Bonfim.

Cardeal Sergio da Rocha: Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

“Desta sagrada colina, mansão da misericórdia, dai-nos a graça divina, da justiça e da concórdia”. Assim cantam os devotos do Senhor Bom Jesus do Bonfim, conforme a letra do seu hino mais popular, reconhecendo a Basílica Santuário, situada no alto da colina da península de Itapagipe, em Salvador, como a “mansão da misericórdia”.

A palavra “misericórdia”, conforme a sua raiz etimológica latina, expressa o coração voltado para quem está sofrendo, através da compaixão, da solidariedade e do perdão. Os sentimentos representados pelo “coração” são muito importantes. Por isso, a “compaixão” consiste em sofrer junto de quem mais sofre, em sentir a dor do outro. Mas a verdadeira misericórdia não se restringe aos sentimentos ou boas intenções, traduzindo-se em ações concretas. Um coração misericordioso não somente se “comove” diante de quem sofre, mas, acima de tudo, “se move” em direção aos sofredores, com iniciativas concretas de solidariedade. A misericórdia se manifesta pela partilha com os necessitados, pelo serviço aos doentes e pelo perdão aos que erram, dentre outras atitudes e iniciativas.

A peregrinação ao Santuário do Bonfim, “mansão da misericórdia”, em busca da “justiça e da concórdia”, é sinal e recordação da longa peregrinação que acontece no dia a dia da vida dos inúmeros devotos e peregrinos do Senhor do Bonfim. Num mundo marcado por tanta agressividade e violência, a misericórdia torna-se ainda mais necessária. Neste tempo de pandemia, marcado pela enfermidade e luto, os que mais sofrem necessitam de compaixão e solidariedade. As mãos que se elevam para o Senhor Bom Jesus, suplicando misericórdia, são mãos a serem estendidas ao próximo para expressar proximidade fraterna, solidariedade, perdão e paz. Necessitamos de compaixão e solidariedade, de cuidado e responsabilidade pela vida e a saúde, neste tempo sofrido da pandemia. É preciso elevar as mãos em oração e estender as mãos aos irmãos, pois há muita gente necessitada de mãos que rezam e são solidárias.

O Senhor do Bonfim nos ensinou as parábolas da misericórdia, referindo-se à Ovelha Perdida, ao Pai Misericordioso (“Filho Pródigo”) e ao Bom Samaritano. Ele nos ensina a sermos “misericordiosos como o Pai” e proclama que “felizes são os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Neste ano em que, mais uma vez, a grande festa religiosa não pode ser realizada como tradicionalmente ocorre, com a multidão de peregrinos subindo a colina do Santuário, a melhor homenagem ao Senhor do Bonfim, juntamente com os louvores e ação de graças, é tornar-se um peregrino da misericórdia na vida cotidiana, de tal modo que cada casa possa tornar-se também “mansão da misericórdia”, lugar de perdão, de justiça e de concórdia.

*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 16 de janeiro de 2022.

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18 janeiro 2022, 15:08