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Lampedusa: 8 anos depois

“Senti o dever de vir aqui hoje para rezar, para cumprir um gesto de solidariedade, mas também para despertar as nossas consciências a fim de que não se repita o que aconteceu. Que não se repita, por favor.” Estas fortes palavras foram proferidas pelo Papa Francisco durante a homilia em Lampedusa.

Bruno Franguelli, SJ

Neste ano, completa-se 8 anos da primeira visita apostólica do Papa Francisco. O local escolhido pelo Pontífice foi Lampedusa , a pequena ilha de pouco mais de seis quilômetros de comprimento e com menos de 6 mil habitantes que, embora seja território italiano, está mais próxima do continente africano, a apenas 113 km da costa tunisiana. Com a visita do Papa, em Julho de 2013, Lampedusa transformava-se em uma mensagem profética de denúncia e esperança.

A denúncia do Papa e os dias atuais

“Senti o dever de vir aqui hoje para rezar, para cumprir um gesto de solidariedade, mas também para despertar as nossas consciências a fim de que não se repita o que aconteceu. Que não se repita, por favor.”

Estas fortes palavras proferidas pelo Papa Francisco durante a homilia que proferiu em Lampedusa foram um grito de denúncia diante de uma triste realidade que mesmo depois de oito anos ainda se repete. Mesmo com o esforço heroico da “guarda costiera” que vigia a costa marítima e não mede esforços para salvar vidas, naufrágios e mortes de migrantes no mar acontecem com frequência. Não é raro encontrar até mesmo restos mortais de náufragos que, após muito tempo, são trazidos pelo mar às praias de Lampedusa.

Os anjos do mar

Membros da guarda costiera relatam com emoção o seu difícil cotidiano e os corajosos procedimentos de resgate no mar. Quando percebem que alguma embarcação cruza o território marítimo, imediatamente deixam o porto com a missão de trazê-los até o porto seguro de Lampedusa. Mesmo ao encontrá-los, todo cuidado é pouco para que a tragédia não seja ainda maior.

A guarda encontra-se muitas vezes diante de barcos em paupérrimas condições e, até mesmo, barcos infláveis superlotados. Muitas pessoas realizam o trajeto sem nem mesmo coletes salva-vidas. Jovens, adultos e até bebês fazem a viagem por horas e até dias quase imóveis, pois qualquer mobilidade pode fazer com que o barco vire e todos sejam lançados no mar. Infelizmente, algumas pessoas não sobrevivem à viagem devido as péssimas condições.

Não são raras as vezes que a guarda encontra pessoas à deriva, que flutuam no mar na esperança de que sejam salvas. A guarda faz um silencioso e heroico serviço que pode durar até mais de 30 horas ininterruptas. São realmente os anjos do mar.

A solidariedade dos lampedusanos

É incrível ouvir as histórias de solidariedade em Lampedusa. Há décadas, mesmo antes da visita do Papa, mas principalmente com a urgência dos últimos anos, os habitantes da ilha juntamente com a paróquia de Lampedusa dedicam-se sem medir esforços ao serviço da hospitalidade dos refugiados.

Muitos se mobilizaram para acolher os migrantes até mesmo em suas próprias casas e a oferecer-lhes todo o necessário. Algumas das crianças e jovens migrantes foram até mesmo adotadas por habitantes da ilha. O espírito de solidariedade, de fato, ocupou o coração dos lampedusanos que relatam os encontros, os auxílios e os gestos com lágrimas nos olhos.

“Que não se repita, por favor”

Infelizmente, mesmo após o clamor do Papa, as trágicas histórias de naufrágios ainda se repetem. O complexo problema da migração por questões políticas, econômicas e até mesmo climáticas, forçam as pessoas a arriscarem suas vidas na insegura travessia do Mediterrâneo. O mar para elas não é o maior risco, muito pelo contrário, é apenas mais um perigo diante das terríveis situações de abuso, violência e exploração que sofrem em seus países e até mesmo em seus clãs familiares. Com toda esta difícil realidade, as palavras do Papa em Lampedusa são ainda muito urgentes e necessárias. É preciso despertar nossas consciências “a fim de que não se repita o que aconteceu”, e ainda acontece.

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11 setembro 2021, 16:21