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Patris corde Patris corde 

Padre José Antônio Bertolin: São José, coragem criativa

Em todas as circunstâncias José manifestou a coragem criativa aplicada à resolução de cada dificuldade que enfrentou com determinação e sobretudo com muita fé.

Padre José Antônio Bertolin, Centro de Espiritualidade Josefino. Marelliana.Apucarana - Paraná

O Papa Francisco coloca a coragem criativa como uma característica importante na vida de uma pessoa a qual se manifesta mais concretamente diante das dificuldades enfrentadas na vida. Esse aspecto esteve presente na vida de São José, pois a sua vida foi permeada de dificuldades e desafios. Pensemos: certamente José tinha projetos de construir uma família como todo bom judeu pensava, pois os filhos eram herança de Deus, eram como flechas nas mãos de um homem poderoso e era bem aventurado o homem que enchesse a sua aljava de filhos (Sl 127,3-5). Mas, de repente Deus mudou todos os seus planos e o colocou numa “sinuca” chamando-o para ser o esposo de uma mulher que conceberia virginalmente e para ser pai de um filho que não seria fruto de sua carne. Depois Deus manifestou em seu desígnio que seu Filho nascesse em Belém, e novamente José se deparou com o desafio de ir se alistar nesse lugarejo em companhia de Maria sua esposa, prestes em dar à luz, e estando lá, não sendo possível encontrar um lugar numa hospedaria para acolher Maria, foi desafiado a buscar uma estrebaria onde o menino pudesse nascer numa manjedoura (Lc 2,7). Apenas o menino nasceu e de novo mais um desafio enfrentado, pois Herodes queria matá-lo, e para defendê-lo partiu em fuga para o Egito em plena noite (Mt 2, 13-14). Aqui José fez com sua família a experiência de empreender uma viagem penosa e arriscada de aproximadamente 400 quilômetros. No Egito, lugar estranho, deparou-se com costumes diferentes e com as dificuldades para encontrar um trabalho e manter a sua família. Passados dois ou três anos o anjo lhe comunicou de voltar à sua terra e imediatamente partiu, mas sabendo da crueldade de Arquelau que reinava na Judeia, foi morar em Nazaré (Mt 2,20-23). Novamente nessa situação José foi desafiado a enfrentar o problema para a segurança de Jesus.

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Em todas essas circunstâncias José manifestou a coragem criativa aplicada à resolução de cada dificuldade que enfrentou com determinação e sobretudo com muita fé. Deus poderia ter intervindo em todas essas situações desafiadoras, mas não o fez, e, conforme diz o Papa Francisco, teríamos a vontade de nos perguntar o porquê ele não o fez, e, como o mesmo Papa respondeu: “Deus intervém por meio de acontecimentos e pessoas”.

Determinação e fé

Deus quis precisar da coragem criativa, da determinação e da fé de São José para realizar o seu projeto de salvação. Ele foi nestas circunstâncias o instrumento do qual Deus se serviu. Naturalmente para a realização desse plano era necessário um homem do quilate de São José, assim como necessitou também de uma pessoa da estatura de Maria para tornar possível a presença de seu Filho no mundo como o Salvador. José “é o homem por meio de quem Deus cuida dos primórdios da redenção; é o verdadeiro “milagre”, pelo qual Deus salva o Menino e sua mãe. O Céu intervém, confiando na coragem criativa deste homem...”. É gratificante sabermos que “Deus confiou os inícios da nossa Redenção à guarda desvelada de São José”, conforme nos ensina a “Redemptoris Custos”. Isso significa que Deus escolheu a dedo alguém com a máxima capacidade de exercer essa missão única.

São José se nos apresenta como um homem de coragem a qual nada mais é que a ação proveniente de seu coração e está ligada à sua confiança em Deus que fez com que ele deixasse se levar pelos planos de Deus e fosse descobrindo o amor sempre mais perceptível ao redor desses planos e deixando-se ser instruído por eles. Meditando os fatos desafiadores apresentados na vida de São José, constatamos que não são os poderosos desse mundo os vencedores, pois Deus dá condições para que os seus planos sejam realizados mesmo por pessoas simples e aos olhos do mundo insignificantes como no caso de José, o qual é um exemplo para que também nós vençamos os desafios na vida, desde que saibamos usar “a mesma coragem criativa do car­pinteiro de Nazaré, o qual sabe transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência”.

As situações vividas por José foram dramáticas e propícias para qualquer um se sentir desanimado e abandonar tudo; situações que na linguagem comum se diria que Deus o esqueceu, o abandonou, mas ao contrário não foi o que aconteceu porque ele tinha a luz da Palavra de Deus que o iluminava e o impulsionava a prosseguir justamente porque confiava nele e porque possuía a coragem criativa. O Papa Francisco na “Patris corde” compara a coragem criativa à determinação dos quatro amigos do paralítico que para colocá-lo na presença de Jesus, e não encontrando um jeito por causa da multidão, “abriram o teto à altura do lugar onde ele se encontrava, e, tendo feito um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico” (Mc 2,3-4). As dificuldades não impediram aqueles quatro homens e Jesus viu nesse gesto dos amigos do paralítico a fé criativa deles, e o milagre aconteceu.

Fé criativa

A fé criativa de São José fez com que ele vencesse os obstáculos e se afirmasse efetivamente como o “Guarda do Redentor”. Fé tem a ver com criatividade, foi o que aconteceu no mundo inteiro com a Igreja durante o período em que passamos e ainda estamos passando com a pandemia do Covid 19, em que a fé e a criatividade se tornaram essenciais para as pessoas. A coragem criativa da Igreja abriu muitos caminhos; os meios de comunicação social, até então restritos, se tornaram um grande instrumento para o cultivo da fé e da espiritualidade e facilitaram para que as famílias vivessem o espírito da Igreja doméstica. A coragem criativa ajudou muitos cristãos a assumirem mais momentos de oração pessoal, de reflexão da Palavra, de reza do rosário e até mesmo a fazer uma vídeo-chamada com mais pessoas e parentes para partilhar a vida e fazer experiências de fé. Tudo isso nos mostra o valor da coragem criativa tão bem estampada na vida e nas atitudes de São José. Termos um santo padroeiro para a Igreja, como São José, deve nos causar orgulho e nos estimular a conhecê-lo mais e imitar mais os seus exemplos edificantes, visto que com ele e como afirma Francisco, “Jesus e Maria, sua mãe, são o tesouro mais precioso da nossa fé”.

São José enfrentou os problemas concretos da sua família, exatamente como fazem as outras famílias do mundo, ou seja, com criatividade, com a fé em Deus e com a força do seu trabalho. A criatividade dele foi corajosa, como cabe a nós sermos corajosos nestes tempos em que Deus nos dá a oportunidade de vivermos a nossa família Oblata, conhecendo-nos, apoiando-nos, colaborando uns com os outros, amando-nos, sonhando juntos que o nosso futuro será melhor. Agora é a nossa vez de sermos mais corajosos e criativos, é a nossa vez de acompanharmos com determinação os nossos confrades que precisam de apoio como Jesus e Maria precisaram do apoio de São José. Agora é a vez de apoiamos as famílias mais vulneráveis da nossa sociedade, particularmente os jovens inebriados pelas solicitações do mundo. Agora é a vez de com coragem criativa irmos ao encontro dos nossos irmãos jogados na periferia, esquecidos pela sociedade consumista. Precisamos ter a coragem criativa e sonhar como São José, para inventarmos, buscarmos, encontramos tempos diferentes e melhores para o nosso mundo, a nossa Igreja e a nossa Congregação.

Jesus precisou de José para ser protegido, cuidado, alimentado e educado, assim como Maria, sua esposa, precisou ser acompanhada da coragem criativa dele; eis a razão do porquê São José é o protetor da nossa Igreja. Este papel dele na Igreja a ajudará a realizar o pedido do Papa Francisco ao falar aos bispos das Filipinas em 2019: ser uma Igreja com “expressões mais criativas” na pastoral para que a Igreja possa ser “uma casa de portas abertas, oferecendo esperança e força aos que sofrem e a todos os que buscam uma vida mais humana e digna”. Ajudará a Igreja na transmissão da fé a ser muito mais criativa nesse mundo que virou uma espécie de aldeia global com novas formas de exclusão, novas formas de pobreza, com novos desafios para a transmissão da fé nessa sociedade líquida em que as famílias e a própria Igreja perdem a consistência e o desafio da transmissão da fé se coloca sobretudo às novas gerações.

Coragem de José

Precisamos da coragem criativa que São José nos ensina; precisamos buscar a ressignificação dos nossos valores religiosos e da nova vida fraterna, pois, para usar a expressão de Rolo May “Vivemos a morte de uma época e a nova era ainda não nasceu”, basta ver a mudança radical nos costumes sexuais, na educação, na Igreja e em tantas outras realidades. Precisamos dessa coragem criativa para preservar os nossos valores cristãos, humanos, para nos dar o suporte em nossa vida de cristãos, visto que, sem esta coragem, que São José nos ensina, a nossa fidelidade à Igreja poderá ser deficitária. Eis o valor do exemplo que São José, em sua coragem criativa para com Jesus e Maria, nos ensina hoje. Sejamos aqueles que busquemos em São José esses exemplos tá nítidos, tão bonitos, tão claros para a nossa vida.

 

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13 agosto 2021, 10:26