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Bispo de São Gabriel da Cachoeira exorta unidade de todos para enfrentar a pandemia

A cidade mais indígena do Brasil, no Amazonas, vive lockdown por causa da Covid-19 pelo menos até o dia 8 de junho. Dom Edson Damian, que na Solenidade de Pentecostes foi abençoar a comunidade católica de longe, encontrou as famílias diante das casas, exaltando a fé em altares improvisados: “a gente deve lembrar que somos uma única unidade. Só podemos sair dessa situação desesperada, como a nossa, todos juntos. É importante saber que o Senhor ressuscitado está conosco”.

Andressa Collet – Vatican News

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Os fiéis da cidade mais indígena do Brasil, São Gabriel da Cachoeira, no interior do Amazonas, celebraram Pentecostes da porta de casa, com altares improvisados e a bênção do pastor que percorreu as ruas neste domingo (31). O lockdown está previsto até a próxima segunda-feira, dia 8 de junho, com circulação permitida só até às 15h.

As palavras do Papa Francisco deste domingo também foram recebidas como um alento em meio à crise sanitária da Covid-19 que não tem poupado as comunidades nativas brasileiras. O Pontífice invocou “o Espírito Santo para que dê luz e força à Igreja e à sociedade na Amazônia, duramente provada pela pandemia”.

Os próprios bispos da região norte do país estão preocupados com a situação, “pela baixíssima imunidade e contínuas doenças tropicais” dos já “fragilizados indígenas”, alerta em entrevista dom Edson Damian, bispo local e presidente do Regional Norte 1 da CNBB. Ele descreve que, num contexto de 45 mil habitantes, dos quais 90% são indígenas divididos em 23 povos diferentes, o hospital tem apenas 14 respiradores e nenhuma Unidade de Tratamento Intensivo. Numa eventual complicação, os voluntários dos Médicos Sem Fronteiras – recém-chegados – são a esperança da população, comenta dom Edson, porque helicópteros e pequenos aviões já estão sendo usados para casos graves, visto que a propagação do contágio existe, mas com um baixo número de mortes:

“Aproximadamente 1600 casos notificados aqui em São Gabriel, mais de 300 em Barcelos. Mas o que surpreende é a relação entre a alta taxa de contaminados e número de óbitos, comparando com as outras áreas do nosso país.”

A maior preocupação é com a realidade vivida pelas comunidades ribeirinhas, espalhadas ao longo do Rio Negro, que pode chegar até as aldeias – mesmo as populações indígenas já estarem fazendo um controle na circulação de pessoas e entre as aldeias. O bispo conta que não é comum o uso de máscaras de proteção e foram registradas aglomerações para receber os benefícios sociais.

A boa notícia

Dados do último sábado (30) do boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde indicam que 1.647 são os casos confirmados em São Gabriel e 21 as pessoas que morreram, vítimas da Covid-19. O baixo número de mortes entre os indígenas, se comparados aos números nacionais, segundo Dom Edson, tem uma explicação: o cuidado e a prevenção desde o início para controlar a chegada do vírus nas aldeias:

“Foram suspensos todos os barcos e aviões que transportavam as pessoas de Manaus para a região. E também vigilância nas balsas que trazem alimentos e combustíveis, mas, algumas pessoas chegaram clandestinamente e não se submeteram à quarentena e ao isolamento. Os 2 primeiros casos foram anunciados no dia 21 de abril. Eu lembro que, alguns dias antes, a primeira vítima do coronavírus foi um taxista, em Barcelos.”

A mobilização da Igreja

A diocese local tem se mobilizado para ajudar as populações mais vulneráveis em diferentes frentes. Por exemplo, participando do Comitê de Enfrentamento e Combate ao Coronavírus da cidade de São Gabriel, através do Fórum Interinstitucional, que congrega as principais instituições locais. O movimento promove reuniões diárias para acompanhar o avanço da pandemia e encontrar soluções. A diocese também oferece acompanhamento profissional, médico e espiritual:

“Há poucos dias, colocamos à disposição um hospital, que foi durante muito tempo administrado pelos salesianos aqui na diocese. Agora está sendo transformado em hospital de campanha. Aqueles que precisam de cuidados especiais então vêm para este local aqui, que é ao lado da diocese. E os que estão necessitados de cuidados especiais por causa do vírus são levados para o hospital, administrado pelo exército.”

O apelo à unidade

Os povos indígenas podem ser considerados “os mais pobres e indefesos daquela região”, como disse o Papa Francisco neste domingo (31), fazendo um apelo para que “não falte a ninguém a assistência à saúde”. O próprio bispo reconhece que sente medo diante da pandemia e lembra a oração do Pontífice feita em 27 de março, no contexto de uma Praça São Pedro deserta:

“Quem não sente medo diante de um vírus tão avassalador e que em pouco tenta se espalhou no mundo inteiro? Além do medo, o sentimento de vulnerabilidade. Ninguém pode se sentir imunizado, porque não há vacinas e nem outro medicamento que tem efeito imediato. A gente deve lembrar que somos uma única unidade, estamos todos no mesmo barco. Como é importante e decisiva a fraternidade universal. Só podemos sair dessa situação todos juntos; de uma situação difícil, desesperada, como a nossa, é importante saber que o Senhor ressuscitado está conosco no barco em que nós podemos agarrar e seguir em frente com esperança, que nunca decepciona.”

Colaboração: Pe. Luis Miguel Modino

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01 junho 2020, 18:47